quarta-feira, 4 de abril de 2012

Roger Waters: Um show histórico, fantástico e inesquecível! - por Marcos Doniseti!

Roger Waters: Um show histórico, fantástico e inesquecível! - por Marcos Doniseti!


Estive ontem, dia 03 de Abril, no Morumbi e pude assistir a um show absolutamente espetacular, fantástico e inesquecível, que foi o de Roger Waters e que faz parte da turnê mundial em que o genial músico britânico e a sua banda tocam, na íntegra, o clássico e genial álbum duplo 'The Wall', do grande e imortal grupo que foi o Pink Floyd.

Também pude constatar (como se isso ainda fosse necessário), ao vivo, todo o talento, criatividade e genialidade de Waters, um dos grandes nomes da história do Rock, sem dúvida alguma.

E embora, talvez, a turnê anterior de Waters (do álbum 'The Dark Side of The Moon', a que também tive o prazer de assistir no mesmo Morumbi, em Março de 2007) tenha tido um repertório ainda melhor (embora o de 'The Wall' seja fantástico, também), em termos de qualidade e grandiosidade da produção a turnê atual é a maior da carreira, genial e gloriosa, de Waters.

Entre outras coisas, tivemos um pequeno avião sendo arremessado ao palco, explodindo e pegando fogo, logo no começo do espetáculo, e que é acompanhado por fogos de artifício. Durante o magnífico e histórico espetáculo de Waters ainda tivemos, sobre o palco, alguns dos gigantescos bonecos infláveis que aparecem no filme, um porco que voou sobre o estádio durante grande parte do show e no qual estavam escritas várias frases, criticando o comodismo e exaltando a indignação, vimos pessoas vítimas de guerras terem as sua fotos, acompanhada de uma pequena biografia de cada uma, exibidas no telão, Waters 'disparando' uma metralhadora contra o público no momento em que interpretava um personagem de características fascistas e, é claro, um telão que deve ser, com certeza, o maior da história dos shows de Rock e que exibia animações incríveis e de uma qualidade visual inacreditável.

Também tivemos inúmeras referências visuais à Segunda Guerra Mundial, mostrando imagens de Stálin, Hitler, Mao Tse-Tung e também dos símbolos do Nazismo, Capitalismo, Judaísmo, Islamismo e do Comunismo, o que é perfeitamente explicável porque o pai de Waters (cuja imagem também foi exibida no telão), Eric Fletcher Waters, morreu na batalha de Anzio, na Itália, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial antes que ele, Waters, tivesse nascido.

Logo, Waters nunca chegou a conhecer o próprio pai e ele responsabiliza, diretamente, os governantes insanos e criminosos das grandes potências da época por isso.

Aliás, o álbum seguinte do Pink Floyd, 'The Final Cut', foi inteiramente composto por Waters e é toralmente dedicado ao pai que não chegou a conhecer.



Porém, Waters não apenas dá demonstrações da sua genialidade e grandiosidade mas, também, de humildade e de simpatia em seu espetacular show, homenageando o brasileiro Jean Charles, assassina pela polícia britânica, e atacando o terrorismo de Estado, bem como as crianças paulistanas que subiram ao palco, batendo palmas e dançando no momento do coro da música 'Another Brick in the Wall'.

No seu show, Waters se apresenta com mais energia do que muitos jovens de 18 ou 20 anos. Em cima do palco, Waters se realiza plenamente e lembra uma criança de cinco anos comendo o seu doce predileto.

E até momentos de humor tivemos no show. Na música 'Mother' em parte da letra temos a pergunta 'Mãe, eu devo confirar no governo?'. Daí, o telão exibiu a resposta (em inglês e em português): 'Nem Fudendo'.

Percebe-se, claramente, toda a felicidade de Waters em estar ali, em cima do palco, dividindo a sua alegria, energia e a sua fantástica obra com o seu imenso públicoque, aliás, mostrou ser muito variado, indo de jovens até cinquentões que o acompanham há muitos anos, desde os tempos gloriosos do grande Pink Floyd, uma das maiores bandas da história do Rock e da Música Pop.

Assim, não se trata, apenas e tão somente, de um trabalho, de 'bater o cartão' e de, meramente, cumprir com a sua obrigação, mas de compartilhar, com os seus fãs, a sua vasta, rica e incrível obra musical e artística, bem como toda a felicidade de mostrá-la para o público.

Não sei quantos dos leitores deste modesto blog já estiveram no Morumbi, mas para terem uma idéia da grandiosidade do palco, basta dizer que o telão (que é, ao mesmo tempo, o muro que vai sendo fechado durante o show e que vem abaixo no final do mesmo) ocupa toda a extensão do campo (e que já é grande) no sentido lateral, indo de um extremo a outro do mesmo. Perto dele, os músicos parecem bem pequenos em cima do palco.

Mas toda essa monumentalidade faraônica do show de Waters  não é gratuita, pois o clássico e imortal álbum 'The Wall', que foi quase todo ele composto exclusivamente por Waters (você já ouviu o mesmo? Não? Então, trate de fazer isso agora mesmo!), trata justamente de um artista de rock que atinge o megaestrelato e passa a sentir e a sofrer, na pele e na alma, as agruras e pressões imensas e insanas do sucesso em escala global, sentindo-se cada vez menor frente ao mesmo.


E como a linha que separa a sanidade da loucura é bastante tênue, o artista megaestelar de 'The Wall' acaba por procurar refúgio em (como diria Walter Bishop) substâncias ilícitas e se isola cada vez mais do mundo exterior, de tal maneira que acaba por construir e erguer um muro (não um muro físico, externo, mas interior, dentro de sua mente e de sua alma) para separá-lo do mesmo.

Aliás, é justamente por isso que o nome do disco é 'The Wall'.

É bom lembrar que o álbum 'The Wall' fez um sucesso imenso na época (vendeu 12 milhões de cópias no mundo inteiro, sendo que era um LP duplo) e foi, brilhantemente, transformado em filme por Alan Parker, talentoso cineastra britânico, e cujo papel principal (de Pink) foi interpretado por Bob Geldof. Aliás, este comentou que a sua participação no filme foi como se ele entrasse em estado de coma mental e, daí, de repente, o diretor gritasse 'Corta!.

Inclusive, parte significativa do filme é exibida no telão monumental do show de Waters, como durante o momento em que o grupo executa músicas como 'Goodbye, Blue Sky' e 'Empty Spaces'.

Dizem que esta será a última turnê de Waters, que já tem 68 anos, embora se apresente com a energia de um jovem de vinte. Sinceramente, espero que isso não seja verdade. Mas, se isso acontecer, Waters poderá descansar e curtir a sua mais do que merecida aposentadoria, sabendo que encerrou a sua carreira com uma turnê absolutamente fantástica e que faz jus à sua fantástica obra de criação musical e artística.

E é exatamente por possuir tanto talento, criatividade e energia que esse jovem músico chamado Roger Waters brilha, já há quase 50 anos consecutivos, na Constelação do Rock e da Música Pop.

Afinal, ninguém chega a esse patamar de sucesso e de reconhecimento e permanece no mesmo 'sem mais nem menos', à toa.


A obra musical e artística de Waters e do Pink Floyd é clássica, atemporal e imortal e continuará sendo ouvida daqui a 500 anos, da mesma maneira que, hoje, ainda se ouve as obras de Bach, Mozart e Beethoven.

Portanto, é bom que Waters saiba que esta aposentadoria não é desejada, de verdade, por nenhum dos seus fãs, principalmente por parte daqueles que, como eu, acompanham a sua carreiga magistral há várias décadas.

Longa vida à George Roger Waters (isso mesmo, o primeiro nome dele é... George).

Obs: Se alguém desejar se aprofundar na história do grupo, então eu recomendo a compra do livro 'Nos Bastidores do Pink Floyd', de Mark Blake, que é considerada a melhor biografia do grande grupo britânico (ver link abaixo).

Links:

Como funciona o palco da turnê 'The Wall':

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/03/veja-como-funciona-o-palco-muro-do-show-de-roger-waters.html

Vídeo da entrevista de Roger Waters para o 'Fantástico' em 2007:
  
http://www.youtube.com/watch?v=W3nTTTjLAXM&feature=related

Entrevista com Roger Waters para o programa 'Fantástico' em 2012:

http://www.youtube.com/watch?v=5LBhDQ_yZVM

Apresentação do Pink Floyd no 'Live 8' (a última com Roger Waters, Nick Mason, David Gilmour, Richard Wright):

http://www.youtube.com/watch?v=LJTfMOzuH28

Biografia reúne histórias dos bastidores do Pink Floyd:

http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/1070584-biografia-reune-historias-dos-bastidores-do-pink-floyd.shtml

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