Godard: Uma obra vasta, genial, diversificada e que poucos realmente conhecem!
"Rossellini me ensinou que, para fazer um filme, você só precisa de um jovem, uma garota e de um carro" (Jean-Luc Godard).
Godard foi o cineasta mais inovador e ousado da Nouvelle Vague.
Ele nunca se acomodou, nunca fez um filme igual ao anterior. Diferente de outros cineastas, que criam uma fórmula, uma receita, para fazer os seus filmes, lucram com isso e não a modificam mais, Godard sempre procurou inovar. Sempre. Até os dias atuais ele faz isso.
Ele poderia ter se acomodado, ter ido para Hollywood e feito 'Acossado' 2, 3, 4... Teria ficado milionário rapidamente e poderia ter ido cuidar da vida, sem se preocupar com o dia seguinte, pois talento ele sempre teve de sobra.
Mas Godard não fez isso.
Godard escolheu seguir um caminho pessoal e não se deixou dominar pelos desejos do público (que, na sua maior parte, não sabe nada sobre Cinema e enxerga o mesmo apenas como uma reles forma de escapismo) e nem dos produtores gananciosos, que desejam apenas acumular lucros cada vez maiores, não tendo qualquer compromisso com uma obra de arte ou com a cultura.
Assim, e tal como o produtor interpretado por Jack Palance fala em 'Le Mépris' (O Desprezo; 1963), quando os produtores ouvem a palavra 'cultura', eles sacam o talão de cheques.
Foi a esse negócio sujo, meramente mercantil, visando o lucro, ao qual o grande artista que é Godard não se rendeu. Assim, ele pôde preservar a sua independência e o caráter autoral da sua obra, possuindo total controle sobre a mesma. Quantos cineastas ou artistas podem dizer o mesmo?
Aliás, é bom ressaltar que a defesa do Cinema Autoral sempre foi a razão de existir da chamada Nouvelle Vague e isso começou anos antes, quando os criadores do movimento ainda eram críticos da 'Cahiers du Cinéma'.
E tudo isso, para mim, é motivo de elogios e não de críticas.
Capa da revista 'Cahies du Cinéma' com a belíssima Jean Seberg, em cena de 'Acossado', na edição 103, de Janeiro de 1960. O filme foi lançado em Março do mesmo ano e revolucionou o Cinema mundial. |
Aliás, são bem poucos, entre os autodenominados cinéfilos, aqueles que conhecem, de verdade, a íntegra da obra de Godard, que é muito vasta e diversificada.
Godard dirigiu 47 filmes (longas-metragens) e também dirigiu mais 104 trabalhos de vários tipos: Séries de TV, curtas-metragens, documentários, segmentos para projetos coletivos.
Assim, no total, são 151 produções dirigidas por Godard. No entanto, a maior parte das pessoas assistiu, no máximo, meia-dúzia dos seus filmes e produções e já pensam que sabem tudo sobre o trabalho dele, o que é totalmente ridículo, patético mesmo.
Obs: A relação completa das obras de Godard vocês encontram no IMDB (ver link abaixo).
Na verdade, o grande público, atualmente, é muito mal informado e também é muito acomodado. Logo, poucas são as pessoas que vão atrás de informações corretas, que pesquisam por conta própria, com o objetivo de ter conhecimento dos fatos e, desta maneira, passar a ter condições de tirar conclusões corretas a respeito dos mesmos.
Com isso, cria-se uma situação em que muitas pessoas começam a acreditar que 'a Terra é plana', que 'o Nazismo é de Esquerda' e outras asneiras e imbecilidades semelhantes. O cérebro destas pessoas já foi estragado, não tem mais conserto e afirmar que elas são burras é uma ofensa aos burros, esse animal tão útil para o ser humano.
'Le Redoutable'/'O Formidável' - O filme mais desonesto da história!
E como se não bastasse tudo isso ainda tivemos um filme absurdamente desonesto e mentiroso (aquele 'O Formidável'), feito por aquele diretor invejoso do Michel Hazanavicius, que dirigiu um filme inteiro atacando Godard de forma baixa, suja e covarde.
Afirmo isso porque no filme nós temos um festival interminável de mentiras abjetas e repulsivas a respeito deste que é um dos mais importantes cineastas de todos os tempos e que mudou a história do Cinema mundial.
'O Formidável' foi o filme mais desonesto e mentiroso que já vi na vida. Nunca vi um filme tão manipulador. Nunca vi tantas mentiras em apenas um filme.
Apesar disso,eu li textos de vários críticos conhecidos que não leram o livro da Anne Wiazemsky ('Um Ano Depois', que recomendo), no qual o Hazanavicius diz que se baseou para fazer o 'Le Redoutable', e que acreditaram que o filme refletia a verdade a respeito de Godard.
Nada mais falso.
Eu li o livro da Anne e assisti ao filme do Hazanavicius na mesma época. Assim, eu tive como comparar ambos e fiquei horrorizado, pois o Hazanavicius deturpou e distorceu TUDO o que está no livro da Anne. TUDO!
Desta maneira, não há um único acontecimento que a Anne tenha relatado em seu livro que tenha sido transposto para o filme de maneira correta. Tudo foi manipulado.
Portanto, enquanto a Anne fez um relato bem plausível e equilibrado da época em que viveu (e foi casada) com o Godard, nos últimos anos da década de 1960, o Hazanavicius fez um filme desonesto, mentiroso e manipulador, com o objetivo de enganar o público e jogar o mesmo contra o Godard.
Isso fica claro porque todas as deturpações do filme de Hazanavicius foram feitas com o objetivo de atacar, de forma suja e covarde, ao Godard, em comparação ao qual o Hazanavicius não passa de um diretor medíocre, sem importância alguma para a história do Cinema. Todas as alterações realizadas por ele foram feitas para piorar a imagem de Godard perante o público que, na sua imensa maioria, não leu (e nem irá ler, pois o hábito de leitura nunca vigou aqui no Brasil), acredita que o filme seria fiel ao livro. E não é.
E com relação ao trabalho de Godard, eu fico com a frase do Truffaut: Existe o Cinema antes de Godard e existe o Cinema depois de Godard.
É isso.
A expressão 'Nouvelle Vague' não tem nada a ver com o Cinema!
Talvez muitos não saibam, mas na verdade a expressão Nouvelle Vague foi um rótulo criado pela imprensa francesa. A expressão foi inventada por uma revista semanal francesa de informações chamada "L'Express" e não tinha nada a ver com o Cinema.
Em Outubro de 1957 a revista publicou, em uma matéria de capa, os resultados de uma ampla pesquisa sobre a juventude francesa, que havia sido encomendada, pela publicação, para o instituto 'IFOP' (um IBOPE francês) a fim de descobrir quais eram as características, anseios e objetivos desta nova geração, que a revista chamou de 'Nouvelle Vague'.
E quando apareceu aquela nova e revolucionária geração de cineastas que eram originários da revista 'Cahiers du Cinéma' (Godard, Truffaut, Chabrol, Rivette, Rohmer), junto com outros que também faziam um trabalho de perfil autoral (Jean-Pierre Melville; Robert Bresson; Agnes Vardà; Louis Malle; Alain Resnais) eles passaram a ser considerados como sendo membros de uma 'Nouvelle Vague', uma nova geração.
Mas o que os cineastas ligados à chamada Nouvelle Vague defendiam mesmo era a criação de um Cinema Autoral, ou seja, um cinema produzido com a assinatura pessoal do cineasta.
A origem do termo está em um texto de Alexandre Astruc (ver link abaixo), de Março de 1948, no qual ele defendia a criação de um Cinema Autoral, que foi a grande luta dos críticos da 'Cahiers du Cinéma' durante toda a década de 1950. Inclusive, para defender tal projeto cinematográfico, eles diziam que muitos dos principais cineastas eram autores, incluindo Anthony Mann, Orsos Welles, Alfred Hitchcock, Jean Renoir, Nicholas Ray, Fritz Lang, entre muitos outros.
Neste sentido, todos os cineastas do movimento foram fiéis à Nouvelle Vague, pois cada um criou e desenvolveu o seu próprio estilo de filmar.
Godard, Truffaut, Chabrol, Rivette, Rohmer: Cinco cineastas com cinco maneiras diferentes de filmar. Portanto, eles triunfaram, pois conseguiram criar uma arte de caráter estritamente pessoal, que é exatamente o que eles queriam.
Links:
Alexandre Astruc escreveu o texto que antecipou a criação da 'Nouvelle Vague':
Relação das obras dirigidas por Godard:
Os curtas e médias-metragens dos 'Jovens Turcos' da 'Cahiers du Cinéma' que anteciparam o movimento:
'Cahiers du Cinéma': Como foi a sua recepção para a 'Nouvelle Vague':
Antoine de Baecque conta a história da Cinefilia na França entre 1944 e 1968:
https://popeseries.blogspot.com/2019/06/cinefilia-antoine-de-baecque-conta.html
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