sábado, 26 de janeiro de 2019

Alexandre Astruc escreveu o texto que antecipou a criação da 'Nouvelle Vague'! - Marcos Doniseti!

Alexandre Astruc escreveu o texto que antecipou a criação da 'Nouvelle Vague'! - Marcos Doniseti!

Alexandre Astruc foi o autor de um texto que exerceu enorme influência sobre o cinema francês e mundial  e que antecipou a existência da 'Nouvelle Vague'. 

O cineasta, crítico e teórico francês do cinema Alexandre Astruc escreveu um texto fundamental para a história do Cinema francês (e mundial), em 1948, que foi o 'O nascimento de uma Nova Vanguarda: A Camera-Stylo'. O texto foi publicado na revista 'L'Écran Français', na edição de número 144, de 30/03/1948.

O crítico David Thomson disse que o texto de Astruc foi 'a mais importante teoria crítica que o cinema já produziu'.

Astruc usou a expressão 'Caméra-Stylo' (Câmera-Caneta) para definir o chamado 'Cinema Autoral' ou 'Cinema de Autor'. Mas em língua francesa Stylo tem um duplo significado, de caneta e estilo, simultaneamente.

A palavra 'Stylo', em francês, significa 'caneta', ou seja, seria um Cinema realizado com uma assinatura, passando a existir um Cinema feito por um Autor, tal como é a Literatura. Assim, cada autor teria o seu próprio stylo (estilo) de filmar.

No Cinema produzido na França dessa época tal Cinema ainda não existia, mas Astruc se antecipou e passou a difundir a necessidade de criá-lo. E no seu texto ele diz que, em algum momento, isso iria acontecer e que este Cinema passaria a existir.

E foi exatamente isso que ocorreu quando apareceram novos cineastas, tais como Jean-Pierre Melville, Alain Resnais, Agnés Varda, Chris Marker e, principalmente, a geração que criou a 'Nouvelle Vague', que foram os críticos da revista 'Cahiers du Cinéma': Jean-Luc Godard, François Truffaut, Claude Chabrol, Jacques Rivette, Éric Rohmer (cujo nome verdadeiro era Maurice Schérer), Pierre Kast, Jacques Doniol-Valcroze. Aliás, Astruc também escreveu para a 'Cahiers'.

Estes críticos foram muito influenciados pelo texto de Astruc e, depois, se lançaram à missão de defender o desenvolvimento de um Cinema Autoral. Durante a sua carreira, Astruc também dirigiu curtas e longas-metragens, documentários e também fez filmes e séries para a TV.

Logo, de certa maneira, a 'Nouvelle Vague' foi fruto de uma teorização prévia, anterior à sua existência, e que defendia a necessidade de se desenvolver um cinema tipicamente autoral, no qual o Diretor do filme tivesse o controle da produção e de todos os aspectos relacionados à realização do filme. Nos EUA, o cinema era controlado pelos produtores, enquanto que na França isso era feito pelos roteiristas.

A 'Nouvelle Vague' e mais alguns cineastas que citei (Resnais, Varda, Melville) vão defender que os diretores tivessem o controle da situação, tomando as decisões relacionadas ao orçamento, produção, roteiro, atuação e montagem dos filmes. 

Abaixo, reproduzo o texto de Alexandre Astruc ('O nascimento de uma Nova Vanguarda: A Camera-Sytlo'). O texto foi retirado do site 'Foco Revista de Cinema' e foi traduzido por Matheus Cartaxo (ver link abaixo). 
Edição de número 103 (Janeiro de 1960) da revista 'Cahiers Du Cinéma' mostra Jean Seberg na capa (em 'Acossado', de Godard). Da revista saíram os críticos que revolucionaram o cinema mundial ao criarem a 'Nouvelle Vague'. 

O NASCIMENTO DE UMA NOVA VANGUARDA: A CAMÉRA-STYLO - por Alexandre Astruc!

O que me interessa no cinema é a abstração (Orson Welles).

É impossível deixar de ver que algo está acontecendo no cinema. Corremos o risco de nos tornarmos cegos diante da produção corrente, que mostra todos os anos o mesmo rosto imóvel, onde o insólito não tem vez.

Ora, o cinema hoje tem um novo rosto. Como se vê isso? Basta reparar. É preciso ser crítico para não ver esta transformação espantosa do rosto, que acontece sob nossos olhos. Quais são as obras atravessadas por essa nova beleza? Precisamente aquelas que a crítica ignora. Não é por acaso que de 'A Regra do Jogo' de Renoir aos filmes de Orson Welles, passando por 'As Damas do Bois de Boulogne', tudo aquilo que traceja as linhas de um novo futuro escapa a uma crítica da qual, de qualquer forma, não se poderia esperar outra coisa.

Mas é significativo que as obras que escapam às bênçãos da crítica sejam aquelas sobre as quais nós somos alguns a estar de acordo. Nós lhes atribuímos, se quiserem, um caráter anunciador. É por isso que eu falo de vanguarda. Há vanguarda toda vez que acontece algo de novo... Precisemos. O cinema está a caminho de tão simplesmente tornar-se um meio de expressão, isso o que foram todas as artes antes dele, isso o que foram em particular a pintura e o romance.

Após ter sido sucessivamente uma atração de feiras, uma diversão análoga ao teatro de boulevard, ou um meio de conservar imagens da época, ele se torna, pouco a pouco, uma linguagem. Uma linguagem, ou seja, uma forma na qual e pela qual um artista pode exprimir seu pensamento, por mais que este seja abstrato, ou traduzir suas obsessões do mesmo modo como hoje se faz com o ensaio ou o romance.

É por isso que eu chamo a esta nova era do cinema a 'Caméra-Stylo'.

Essa imagem tem um sentido bastante preciso. Ela quer dizer que o cinema irá se desfazer pouco a pouco dessa tirania do visual, da imagem pela imagem, da narrativa imediata, do concreto, para se tornar um meio de expressão tão flexível e sutil como o da linguagem escrita.

Esta arte, dotada de todas as possibilidades, porém prisioneira de todos os preconceitos, cessará de permanecer cavando eternamente o pequeno domínio do realismo e do fantástico social que lhe é acordada nos confins do romance popular quando deixarmos de fazer dela o domínio de eleição dos fotógrafos.

Nenhum domínio lhe deve ser interdito. A meditação mais despojada, um ponto de vista sobre a produção humana, a psicologia, a metafísica, as idéias, as paixões são muito precisamente de seu interesse. Ou melhor, diremos que essas idéias e visões de mundo são tais que hoje somente o cinema pode dar conta delas; Maurice Nadeau dizia num artigo da Combat: “Se Descartes vivesse hoje, ele escreveria romances.” Eu peço desculpas a Nadeau, mas hoje já um Descartes se trancaria no seu quarto e com uma câmera 16 mm e película escreveria o discurso do método em filme, pois seu 'Discurso do Método' seria tal hoje em dia que somente o cinema poderia convenientemente o exprimir.

Deve-se compreender que o cinema até hoje foi apenas um espetáculo. O que se relaciona ao fato de que todos os filmes são projetados em salas. Contudo, com o desenvolvimento dos 16 mm e da televisão, não está distante o dia em que cada pessoa terá em suas casas aparelhos de projeção e alugará, na livraria da esquina, filmes escritos sobre não importa que tema, não importa qual forma, sejam críticas literárias, romances, ensaios da matemática, história, variedades, etc. 
Cartaz de 'À Bout De Souffle', filme de Godard que Michel Marie considera o filme-manifesto da 'Nouvelle Vague' e que revolucionou o cinema mundial.

Por isso não é mais possível falar de um cinema. Haverá cinemas como hoje há literaturas, pois o cinema como a literatura, antes de ser uma arte particular, é uma arte que pode exprimir qualquer setor do pensamento.

Essa idéia de cinema exprimindo o pensamento talvez não seja nova. Feyder já dizia: 

“Eu posso fazer um filme sobre O Espírito das Leis”. Mas Feyder sonhava numa ilustração de 'O Espírito das Leis' pela imagem tal como Eisenstein pensava numa ilustração d’O Capital (ou em uma imagérie). Nós dizíamos que o cinema está a caminho de encontrar uma forma onde ele se torne uma linguagem tão rigorosa que o pensamento possa ser escrito diretamente sobre a película, sem mesmo passar por aquelas pesadas associações de imagens que fizeram as delícias do cinema mudo.

Em outros termos, para mostrar o tempo decorrido não é preciso mostrar a queda das folhas seguida do florescer dos pomares, e para indicar que o herói deseja fazer amor, há outras maneiras de proceder para além daquela que consiste em mostrar uma caçarola de leite a transbordar, como Clouzot fez em 'Crime em Paris'.

A expressão do pensamento é o problema fundamental do cinema. A criação dessa linguagem preocupou todos os teóricos e autores de cinema desde Eisenstein, até os roteiristas e adaptadores do cinema sonoro. Mas nem o cinema mudo, por ser prisioneiro de uma concepção estática da imagem, nem o sonoro clássico, como existe ainda hoje, puderam resolver convenientemente o problema. 

O cinema mudo acreditara ter conseguido pela montagem e a associação de imagens. É conhecida a célebre declaração de Eisenstein: “A montagem é para mim o meio de dar movimento (isto é, a idéia) a duas imagens estáticas”. E quanto ao sonoro, ele se contentou em adaptar os procedimentos do teatro.

O evento fundamental destes últimos anos foi a tomada de consciência que está se concretizando sobre o caráter dinâmico, isto é, significativo, da imagem cinematográfica.

Todo filme, por ser um filme em movimento, ou seja, que se desenrola num tempo, é um teorema. Ele é o ponto de passagem de uma lógica implacável, que vai de uma extremidade a outra dela mesma, ou melhor ainda, de uma dialética. Essa ideia, essas significações, que o cinema mudo tentou criar através de associações simbólicas, nós compreendemos que elas existem na imagem mesma, no desenrolar do filme, em cada gesto dos personagens, em suas palavras, nos movimentos de câmera que ligam os objetos e os personagens a estes.

Todo pensamento, como todo sentimento, é uma relação entre um ser humano e um outro ser humano ou certos objetos que fazem parte do seu universo. É explicitando essas relações, desenhando as tangentes, que o cinema pode ser verdadeiramente o lugar de expressão de um pensamento. A partir de agora é possível dar ao cinema obras equivalentes, pela profundidade e pelas suas significações, aos romances de Faulkner, aos de Malraux, aos ensaios de Sartre ou de Camus.

Aliás, temos sob os olhos um exemplo significativo: o de 'Espoir' de Malraux, onde possivelmente pela primeira vez a linguagem cinematográfica dá um equivalente exato da linguagem literária.

Examinemos agora as concessões às falsas necessidades do cinema.

Os roteiristas que adaptam Balzac ou Dostoievski desculpam-se pelo tratamento insensato que dão às obras a partir das quais eles fizeram seus roteiros, alegando certas impossibilidades do cinema em dar conta de conteúdos psicológicos ou metafísicos. Em suas mãos, Balzac vira uma coleção de gravuras, onde a moda tem mais importância, e Dostoievski de repente se assemelha aos romances de Joseph Kessel, com a embriaguez russa nas boates noturnas e as corridas de troïka na neve.

Ora, essas interdições devem somente à preguiça de espírito e à falta de imaginação.

O cinema atual é capaz de dar conta de qualquer tipo de realidade. O que nos interessa no cinema hoje é a criação dessa linguagem. Não pretendemos refazer documentários poéticos ou filmes surrealistas toda vez que possamos escapar das necessidades comerciais. 

Entre o cinema puro dos anos 1920 e o teatro filmado, existe lugar para o cinema que se liberta. O que implica, entenda-se bem, que o roteirista faça ele mesmo seus filmes. Ou melhor, que não existam mais roteiristas, pois num tal cinema essa distinção entre autor e roteirista não tem mais sentido. A mise en scène não é mais um meio de ilustrar ou de apresentar uma cena, mas uma verdadeira escritura. O autor escreve com a câmera como o escritor escreve com a caneta.

Como é que nesta arte, em que a banda visual e sonora se desenrola, desenvolvendo-se através de uma história (ou sem história, isso pouco importa) e de uma certa forma, de uma concepção de mundo, poderíamos fazer diferença entre aquele que pensou a obra e aquele que a escreveu? Imagina-se um romance de Faulkner escrito por alguém senão Faulkner? E 'Cidadão Kane' funcionaria noutra forma exceto aquela a qual Orson Welles lhe deu?

Eu sei bem que o termo “vanguarda” ainda fará pensar nos filmes surrealistas e nos filmes ditos abstratos do primeiro pós-Guerra. Mas essa vanguarda já é uma retaguarda. Ela procurava criar um domínio próprio para o cinema; nós procuramos, ao contrário, entendê-lo e fazer dele a linguagem mais vasta e mais transparente possível.

Problemas como a tradução dos tempos dos verbos, como as ligações lógicas, interessam-nos muito mais do que a criação de uma arte visual e estática sonhada pelo surrealismo, que, aliás, não fazia mais do que adaptar para o cinema as pesquisas da pintura e da poesia.

Lauren Bacall na capa da revista 'L'Écran Français' que, na sua edição de 30/03/1948, publicou o revolucionário artigo de Astruc.

Voilà. Não se trata de uma escola, nem mesmo de um movimento, talvez se trate simplesmente de uma tendência. De uma tomada de consciência, de uma certa transformação do cinema, de um futuro possível, e do desejo que nós temos de apressar esse futuro. Certamente nenhuma tendência pode se manifestar sem obras. 
 
Essas obras virão, elas verão o dia.
 
As dificuldades econômicas e materiais do cinema criam esse paradoxo espantoso de poder falar do que ainda não existe, pois se nós sabemos o que nós queremos, nós não sabemos se, quando e como nós poderíamos fazê-lo. Contudo é impossível que o cinema não se desenvolva.
 
Essa arte não pode viver com os olhos voltados para o passado, remoendo lembranças, nostalgias de uma época encerrada. Seu rosto já está voltado para o futuro e, tanto no cinema como fora dele, não há outra preocupação possível exceto o futuro. 
 
(L’Écran Français, n° 144, 30 de março de 1948; Traduzido por Matheus Cartaxo). 
 
Links: 
 
Texto traduzido de Astruc: 
 
Texto sobre Astruc: 
 
Texto original: 
 
The Birth of a New Avant-Garde: La Camera-Stylo: 
 
Texto sobre a morte de Alexandre Astruc: 
 
Capas da revista 'Cahiers du Cinéma' publicadas entre 1951-1964: 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

"Éloge de L'Amour": Quando Godard voltou aos 'bons tempos' e fez o seu melhor filme em décadas! - Marcos Doniseti!

"Éloge de L'Amour": Quando Godard voltou aos 'bons tempos' e fez o seu melhor filme em décadas! - Marcos Doniseti!

'Éloge de L'Amour' é uma produção de 2001 e se tornou um dos melhores filmes da longa carreira de Godard, recuperando características dos seus melhores trabalhos da década de 1960. Mas os sonhos, as expectativas otimistas  e a esperança por mudanças daquela época foram substituídas pela melancolia, tristeza e pessimismo dos novos tempos.

'Éloge de L'Amour' - Memória e História!

Este é, com certeza, o melhor filme que Godard fez em várias décadas, desde o seu auge, que aconteceu nos anos 1960, pelo menos em aspectos comerciais e na influência que exerceu sobre a produção cinematográfica mundial e que não foi pequena. Godard trabalhou neste filme por quatro longos anos (1997 a 2001), período no qual fez várias mudanças no roteiro. 

Este
belo filme de Godard trata da importância da Memória e da História e de como estas podem nos ajudar a recuperar o controle sobre nossas vidas. 

Godard mostra que as mentiras e a manipulação da memória
, bem como a desvalorização e o esquecimento da história estão levando a humanidade a cometer os mesmos erros do passado e a se tornar cada vez mais egoísta e violenta, o que está levando ao ressurgimento de uma série de fenômenos que acreditava-se estarem superados historicamente. 

Temos vários exemplos disso que são mostrados no filme: 

- A volta das Guerras na Europa: Os horrores visto na época da Segunda Guerra Mundial e do Nazismo, e que voltaram a ser vistos em novas guerras na Europa, tal como aconteceu na 'Guerra do Kosovo', que estava em pleno andamento na época da produção do filme (1997-2001); 

- O crescimento das desigualdades sociais (os sem-teto e mendigos de Paris que aparecem no filme); 

- A imposição das leis de livre-mercado sobre os valores humanos mais básicos (solidariedade, fraternidade, justiça social);

- As inúmeras obras de arte clássicas (literatura, pintura, cinema) que são desprezadas pelas novas gerações.

Durante todo o filme vemos Edgar folhear um livro com páginas em branco. Será uma referência às dúvidas que ele tem sobre o caráter do seu projeto ou, ainda, à tentativa fracassada de Godard de tentar, na sua juventude, iniciar a carreira de romancista? Afinal, como é dito no filme, 'quando pensamos em algo, isso também nos leva a pensar em outra coisa'. 

A Trama do Filme!

A história do filme gira em torno de um projeto de Edgar, que pretende contar uma história de amor envolvendo três casais (um jovem, um adulto e um idoso) e que irá mostrar as quatro etapas de uma relação amorosa: encontro, atração física, separação e reconciliação.

Mas, para isso, Edgar começa a promover uma séries de testes com atores e atrizes, apesar de ainda estar indeciso a respeito do que irá fazer: um filme, uma peça de teatro, uma ópera ou um romance (livro). Ele também encontra muitas dificuldades para conseguir encontrar os atores e atrizes certos para desempenhar o casal adulto (tanto o homem, como a mulher). 

'Éloge de L'Amour' também se divide em duas partes: Na primeira parte (que dura 60 minutos), em um belo tom de preto e branco, vemos Edgar tentando levar adiante o seu projeto, bem como ele se esforça para convencer Elle (que se chama Berthe na segunda parte do filme) a participar do mesmo. 

Na segunda parte (que dura 38 minutos), que foi filmada em vídeo com o uso de cores supersaturadas e distorcidas, os fatos se desenvolvem dois anos antes dos acontecimentos que vimos na primeira parte. 

Neste segundo momento, vemos Edgar indo até a Bretanha para entrevistar algumas pessoas, católicas e já idosas, que participaram da Resistência francesa contra o Nazi-Fascismo, bem como para entrevistar um historiador local (Jean Lacouture). 

Edgar passa ao lado de um sem-teto que dorme em um banco de uma avenida de Paris. A denúncia das desigualdades sociais crescentes, geradas pelas políticas neoliberais globalizantes (o 'cenário universal'), está presente neste belo filme de Godard.

Edgar descobre que o casal de idosos com o qual irá conversar (Jean e Françoise) que participou da Resistência assinou um contrato com produtores dos EUA que desejam filmar a sua história, pois eles estão necessitando de dinheiro para manter o seu hotel aberto. É neste momento que Edgar e Elle/Berthe, que é neta de Jean e Françoise, acabaram se conhecendo, o que os leva sentir uma atração mútua logo quando se viram pela primeira vez. 

Essa história que envolve Edgar e Elle/Berthe (que formam o casal adulto do filme) é a única que não irá completar todas as etapas da relação amorosa (encontro, atração física, separação e reconciliação), pois a tentativa de reconciliação acabará fracassando. Já com o casal de jovens (Perceval e Eglantine) e de idosos (Jean e Françoise) todas as etapas foram completadas. 

Vários momentos também acabam se repetindo durante o filme, como uma frase que é falada no início do filme e que é dita pelo protagonista (Edgar), que é 'Talvez nada tenha sido dito'. Ela será repetida na cena final. Edgar também segura um livro com páginas em branco, no início e no final do filme, bem como em vários outros momentos. A pergunta a respeito de como a memória poderá ajudar as pessoas a recuperar o controle de suas vidas também é repetida no filme, nas duas partes do mesmo. 

Obs1: A respeito do uso da repetição no Cinema (tal como ocorre neste filme de Godard) reproduzo um comentário do filósofo italiano Giorgio Agamben sobre o tema: "A força e a graça da repetição, a novidade que traz, é o retorno em possibilidade daquilo que foi. A repetição restitui a possibilidade daquilo que foi, torna-o de novo possível. Repetir uma coisa é torná-la de novo possível. É aí que reside a proximidade entre a repetição e a memória. Dado que a memória não pode também ela devolver-nos tal qual aquilo que foi. Seria o inferno. A memória restitui ao passado a sua possibilidade.". Assim, o uso desse recurso, por Godard, está diretamente ligado à importância fundamental que a memória tem em 'Éloge de L'Amour'. 

Em uma cena vemos uma das atrizes que é testada por Edgar dizer que 'A pessoa desempregada usa o tempo para começar a pensar'. 

Rosenthal é um rico comerciante de arte de origem judaica que tenta recuperar as obras que foram roubadas pelos nazistas. Ele financia o projeto de Edgar, a quem se sente ligado por razões históricas e afetivas. 

Aliás, os gregos da Antiguidade diziam exatamente isso, ou seja, que o ócio é fundamental para se poder pensar ou criar algo. Em grego, ócio significa escola, ou seja, ele representava o momento de estudo, de aprendizado e que somente era desfrutado por aqueles que não precisavam trabalhar. Na Grécia Antiga o trabalho era desprezado, sendo visto como algo que deveria ser deixado aos escravos. 


Edgar também questiona uma atriz que está sendo testada: 'E se te perguntassem: Filme, Teatro, Novela ou Ópera?' Ela responde 'novela'. 

Outra questão: O fato de Edgar folhear um livro com páginas em branco, em vários momentos do filme, seria uma referência ao fato de Godard ter tentado escrever um romance na juventude e de não ter conseguido, o que o levou a se tornar um cineasta? A maior ambição de Godard, em sua juventude, era a de ser um romancista, mas ele não conseguiu. Vários dos seus amigos cineastas foram romancistas: Éric Rohmer, Alexandre Astruc, Pierre Kast, Jacques Doniol-Valcroze. 

Essa tentativa fracassada de seguir a carreira de romancista foi o que acabou levando Godard a se tornar um cineasta, mas sem abandonar a Literatura, pois toda a sua obra está repleta de elementos literários. Inclusive, o tradutor e crítico de cinema Mário Alves Coutinho, que é um importante estudioso brasileiro da obra de Godard, defendeu uma tese de doutorado na qual diz que o genial cineasta franco-suíço 'fez Literatura com a câmera.'. 

Nesta cena vemos dois cartazes publicitários. Um deles é de 'Pickpocket', clássico filme de Robert Bresson, cineasta francês admirado por Godard. E o outro é de 'Matrix', megaprodução hollywoodiana. Os jovens ignoram o filme de Bresson e se interessam apenas pelo blockbuster ianque. 

Obs2: O livro de Mário Alves Coutinho ('Escrever com a câmera - A Literatura Cinematográfica de Jean-Luc Godard') é excelente e recomendo muito a sua leitura. Outro livro, de sua autoria, que também recomendo, é "Godard, Cinema, Literatura', que reúne uma série de excelentes entrevistas feitas, pelo próprio Mário A. Coutinho, com estudiosos da obra godardiana. Os dois livros foram lançados pela Editora Crisálida e são de fundamental importância para se ajudar a compreender a obra de Godard. 


A presença de fortes elementos literários sempre foi uma característica fundamental da obra de Godard, mas a forma romanesca nunca foi a sua preferida. Ele sempre deu prioridade para a poesia e para o ensaio em sua vasta obra. Porém, 'Éloge de L'Amour' termina exatamente como começou, o que é uma característica do Romance (ou novela, como é chamada no filme), algo que Godard sempre teria rejeitado, segundo Jacques Aumont, estudioso da obra de Godard. 

No livro 'Godard, Cinema, Literatura' (de Mário Alves Coutinho; Editora Crisálida, página 19),  Aumont, diz o seguinte: "[...] a forma que Godard sempre manteve à distância, é a forma romanesca, é o romance...[...]. Existe um problema com o romance [...]. Muito vasto, muito extenso, muito sistemático, um romance, muito coerente, é necessário que o fim seja igual ao começo, sem dúvida existem coisas que o cansam, que o enfadam, ou que talvez ele não se sente capaz de fazer, ele prefere a forma fragmentada, certamente. Mas, ao mesmo tempo, seus maiores amores são Balzac e Dostoievski.".
Em 'Éloge de L'Amour', Godard voltou a filmar nas ruas de Paris, o que era muito comum em sua clássica produção dos anos 1960. Além disso, este filme conta com uma narrativa que é perfeitamente compreensível pelo público. É como se Godard, deliberadamente, tivesse tentado voltar aos seus 'velhos e bons tempos', que foram os anos 1960, quando seus filmes contavam uma história e ainda possuíam uma estrutura narrativa clara, com a qual ele rompeu a partir de 1967, em filmes como 'Weekend', "Duex ou Trois Choses que je sais d'Elle" e 'One Plus One/Sympathy For the Devil'.  


Outra possibilidade é de que o livro em branco que Edgar carrega o tempo inteiro deve-se ao fato de que ele simplesmente ainda não sabe o que irá fazer com o seu projeto, pois ele não havia decidido qual seria a forma final que o mesmo teria. 

Assim, esse projeto ainda não passa de muitas páginas em branco.



Um aspecto fundamental do filme é a importância central que a Memória e a História possuem no mesmo. 

Essa memória histórica é de vários tipos, incluindo história (Nazismo, extermínio dos judeus, Resistência), o Cinema (Robert Bresson, Max Ophuls, Rossellini, Henri Langlois, Iris Barry), a literatura (Sartre, Balzac, Bataille, Christa Wolf, Chateaubriand), a pintura (Matisse, Rembrandt, Rubens, Rafael).  


Desta maneira, no início, são citados Henri Langlois (fundador da Cinemateca Francesa, que Godard, Truffaut e amigos frequentaram) e Iris Barry (fundadora da 'London Film Society' e curadora do departamento de Cinema do Museu de Arte Moderna de Nova York), duas figuras de grande importância para a preservação da memória e da história do Cinema. 


Aliás, podemos dizer, sem medo de errar, que a Memória e a História são os verdadeiros 'protagonistas' deste belo filme de Godard. Elas são os temas centrais. Uma das atrizes testada por Edgar diz que não entende como a memória poderá nos ajudar a reclamar nossas vidas e Edgar responde que 'não se trata de saber se o homem poderá resistir, mas sim de saber se tem ou não direito de fazê-lo'. 

Edgar reencontra Elle/Berthe, que têm vários empregos, inclusive o de funcionária que limpa os trens e os escritórios de uma estação de Paris. Ele tenta convencer a mesma participar do seu projeto. Durante a primeira parte do filme somente vemos o rosto dela de uma forma parcial, sempre envolto em sombras, ressaltando o mistério que a envolve. 


Inclusive, essa pergunta foi feita pelo mesmo Edgar, na segunda parte do filme, mas que, em termos cronológicos, é a primeira, quando ele foi até a Bretanha (no oeste da França) fazer entrevistas com católicos que participaram da Resistência na época da Segunda Guerra Mundial. Os acontecimentos da segunda parte se desenvolvem dois anos antes daqueles que vimos na primeira parte do filme. 



Edgar diz, para a jovem atriz que irá interpretar Eglantine, que o principal não é a personagem dela, mas a história na qual ela estará inserida. Essa história mais ampla, da qual ela faz parte, é que tem importância. Logo, para Godard, a história é fundamental, não a personagem. 


Vemos também um amigo de Edgar, Rosenthal, que é um rico colecionador de arte judeu e que foi sócio do avô de Edgar em uma galeria de arte. Rosenthal está tentando comprar e ou recuperar obras de arte que lhes foram roubadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Assim, ele está tentando reconstruir a sua memória e a sua história. 

Rosenthal também está financiando o projeto de Edgar, que é sobre o Amor e que envolve três casais (um jovem, um adulto e um idoso) nos quatro momentos de um relacionamento: encontro, atração física, separação e reconciliação. 
Edgar testa o casal de jovens que irá interpretar Eglantine e Perceval em seu projeto. No filme, os jovens e os idosos são os únicos que conseguem ficar juntos. Já os adultos fracassam. Porque? Os jovens ficam juntos porque são frutos do mundo atual e não têm memória, enquanto que os idosos permanecem juntos porque eles são frutos de um mundo anterior, mais antigo, e sua memória ainda está viva. 
Rosenthal diz, para Forlani, seu amigo (que o está ajudando na recuperação das obras de arte), que, na juventude, ele se apaixonou pela avó de Edgar, mas que esta casou com outro, que morreu em um acidente automobilístico na corrida de Indianápolis, no mesmo ano em que Alberto Ascari morreu (1955). Depois disso, a avó de Edgar cometeu suicídio. 

Outro elemento presente no filme de Godard é a crítica ao Imperialismo dos EUA, que acabará se conectando com o projeto de Edgar e com o relacionamento que ele irá desenvolver com Elle, a mulher que ele tentou convencer para desempenhar o papel da mulher adulta em seu projeto. 

Em uma cena a empregada de Rosenthal, que é de origem vietnamita, fala que os EUA estão espalhados pelo mundo inteiro (referindo-se às guerras e bases militares dos EUA que estão presentes mundo afora.. são mais de 800 bases) e pergunta, para Rosenthal: 'Quem se lembra da Resistência no Vietnã?'. Logo depois da pergunta feita pela empregada vemos a bandeira dos EUA. É bom lembrar que a Guerra do Vietnã esteve muito presente em vários filmes de Godard nos anos 60-70 ('A Chinesa'; 'One Plus One/Sympathy for the Devil'). 

Rosenthal pede para Edgar explicar qual é a história resumida do seu projeto (dos três casais... jovem, adulto e idoso), ele explica, mas diz está com dificuldades para conseguir os atores certos. Rosenthal fala sobre uma atriz a respeito do qual Philippe comentou, que já trabalhou na Televisão (o que deprime Edgar), mas que se recusou a falar o que estava determinado e foi demitida por isso. Para estimular Edgar, Rosenthal cita uma frase de Picasso: 'Eu não procuro, eu encontro'.
Edgar submete um ator a um teste, no qual o mesmo tem que ler um trecho de um livro de Georges Bataille, um dos principais autores franceses do século XX. Godard usa de inúmeras referências literárias, históricas, pictóricas, cinematográficas e até pessoais neste belo filme que é, de fato, um elogio à memória e à história. Como é dito em vários momentos do filme: 'Não existe Resistência sem memória'. Ao fundo da imagem vemos Philippe, amigo e assistente de Edgar, que fala que este é o único que está se tornando adulto, pois mantém viva a memória e não se submete às mentiras que são impostas aos demais. 
Obs3: Godard é muito crítico com relação à mídia TV, embora já tenha desenvolvido vários projetos televisivos e tenha dito que gostaria de ser o diretor de um canal de TV. 

Edgar diz que 'A maioria das pessoas têm por valor viver as suas vidas, mas não imaginá-la. Então, como posso fazer por eles?' 


Edgar também fala com Philippe e comenta sobre Elle, que conheceu dois anos antes. Ele disse que ela tinha ideias, dizendo que ela falava sobre a impossibilidade do Estado se apaixonar, o que é uma citação de um livro de Georges Bataille, que Edgar irá usar mais adiante quando irá testar um ator para interpretar o adulto do seu projeto. 

Edgar fala que sonha em encontrar uma mulher que fosse como Simone Weil e Hannah Arendt, duas brilhantes filósofas, e diz para Philippe que abandonou o seu projeto por causa dele mesmo. Edgar diz 'O mais estranho são os mortos-vivos deste mundo. Estão modelados ao mundo como ele foi. A forma como pensam e sentem vem de antes.'. 
Elle/Berthe trabalha em uma livraria na qual um jornalista dos EUA (Mark Hunter) faz um relato a respeito dos terríveis massacres que ocorreram na Guerra do Kosovo (1998-1999), as quais Godard relaciona com os horrores do Nazismo. No filme temos várias referências ao extermínio dos judeus pelos nazistas e a maioria dos personagens é de origem judaica. 

Assim, ele questiona: 'As coisas estão na nossa frente. Para que inventá-las?', o que é uma referência à obra Neo-Realista de Roberto Rossellini, que é um dos cineastas mais admirados por Godard. 

Philippe informa Edgar que a mulher que ele está a procura trabalha em uma livraria durante o dia e em um depósito ferroviário a noite, para onde eles se dirigem, pois Edgar quer convencê-la a trabalhar em seu projeto. 

Edgar acaba se lembrando (é a memória...) que a encontrou dois anos antes e pergunta, para Elle, como se desenvolveu o negócio com os americanos. Essa questão será respondida na segunda parte do filme que, cronologicamente, em termos de desenvolvimento da trama, é a primeira parte, de fato. 

Neste momento, Edgar deseja apresentar o seu projeto para Elle, mas ela não demonstra qualquer interesse, porém ele insiste mesmo assim. 

Em um cena de teste de Edgar com o casal de jovens é feita a pergunta 'Por que correr atrás de algo que já tens?' e o jovem (Percival) diz que não precisa vê-la, porque ela já pertence a ele. Edgar pergunta para Eglantine se ela aceitaria isso de alguém que diz que ela ama e ela responde 'Não'. Edgar explica que foi por isso que o casal rompeu o relacionamento. 

Grande parte das cenas da primeira parte de 'Éloge de L'Amour' (produção de 2001) são noturnas, o que pode ser comparado com os filmes dos anos 1960, tais como 'Acossado',  'Vivre sa Vie', 'Bande à Part' e 'Une Femme Mariée', nos quais as cenas eram quase todas filmadas à luz do dia. Se tais filmes passavam uma visão mais otimista do futuro, essa escuridão da produção mais recente reflete o pessimismo e a desesperança de Godard com os rumos que a humanidade tomou recentemente. 

Edgar também faz um teste com um ator (para interpretar o homem adulto), ao qual entrega um trecho de um livro de Georges Bataille ('O Azul do Céu'), sobre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), para que leia o mesmo. Edgar cita o livro de André Malraux (A Esperança), que trata da Guerra Civil na Espanha e que é muito mais conhecido do que o de Bataille, pois a obra deste demorou para ser publicada e isso somente aconteceu porque os amigos de Bataille insistiram muito com o mesmo. 

A ideia de que o Estado representa a negação do amor (o que foi dito por Elle em suas conversas com Edgar) foi retirada do livro de Bataille. Bataille diz que o Estado perdeu o poder de aceitar o mundo em sua totalidade. 

A afirmação de Bataille permite afirmar que essa situação leva ao Imperialismo, por meio do qual as Nações mais fortes subjugam as mais fracas e impõem seus valores, interesses e cultura às mesmas. E o Imperialismo dos EUA é não apenas político, econômico e militar, mas também cultural, o que é muito criticado neste filme de Godard, tal como já ressaltei.

Elle/Berthe e Edgar conversam nas proximidades de uma fábrica abandonada da Renault. Ele lamenta o fim da capacidade de luta dos operários comandados pela CGT (Confederação Geral do Trabalho). Sem um forte movimento operário para se opor ao Capital, este impõe as suas políticas sem muita resistência, gerando o aumento das desigualdades sociais e da pobreza. 

Várias cenas mostram essa condenação, por Godard, do Imperialismo cultural dos EUA, o que é bastante criticado por muitos franceses, que têm um grande orgulho da sua riqueza cultural (cinema, teatro, literatura, poesia, pintura). 

Desta forma, em uma cenas vemos jovens olhando para um cartaz de propaganda de 'Matrix' e ignorando a do filme 'Pickpocket', de Robert Bresson, um clássico do cinema francês. Apenas um senhor, já idoso, irá se interessar pelo filme de Bresson, ignorando a megaprodução de Hollywood. Aliás, no início do filme, quando explica o seu projeto para Rosenthal, Edgar diz que o aspecto principal do seu projeto é a história, caso contrário o filme irá virar uma produção banal de Hollywood, como se fosse um filme de Julia Roberts. 

Edgar testa uma mulher, mas que lê o texto que lhe foi entregue de forma mecânica, sem sentir nada sobre o que está lendo. Edgar diz 'Não diga, veja. Diga, escute. Escuta'. Logo, ele a reprova no teste. O texto fala sobre um homem de quem foi tirado tudo, na época da ocupação nazista da França, e que foi condenado à morte por fazer parte da Resistência. A história deste homem é cantada por Philippe. 

E quando foi questionado a respeito da conversa que teve com Elle, Edgar diz que o resultado não foi bom e que ela não é nenhuma Berthe Morisot, o que é uma referência a uma importante pintora impressionista francesa do século XIX. E também temos, nesta fala dele, uma ironia com o nome Berthe. Desta maneira, Godard recorre o tempo inteiro à memória e à história. 

Elle/Berthe conversa ao telefone. Ela está vivendo um momento em que está 'cheia' do mundo, o que antecipa o seu final trágico. Godard estaria sugerindo que não é possível que pessoas adultas  consigam amar no mundo atual? Como diz Bataille, o poder do Estado é totalmente contrário à paixão.  

Depois vemos um encontro em uma livraria (na qual Elle/Berthe trabalha), do qual Edgar participa, com um jornalista dos EUA (Mark Hunter, que abandonou os EUA durante o governo Reagan) que está voltando de Kosovo e faz um relato a respeito da guerra entre os sérvios e os albaneses, que ocorreu durante a chamada 'Guerra do Kosovo', que ocorreu entre 1998-1999 (o filme de Godard é de 2001 e o roteiro do mesmo foi escrito entre 1997 e 2001). Edgar fala para Elle/Berthe que Mark Hunter pretende escrever um livro sobre a Guerra e precisa de alguém para editar e corrigir o mesmo. 

Um dos participantes da reunião é um curdo, povo que não possui um Estado próprio e que vive espalhado por vários países (Iraque, Síria, Turquia). Durante o encontro serão ditas algumas frases relevantes: 'Não pode haver resistência sem memória ou universalidade' e 'Não à paz sem justiça'.

Na reunião vemos alguns livros relacionados com os crimes do Nazismo, como o 'Refus de Témoigner' (de Ruth Kluger) e o "L'Imprescriptible' (de Vladimir Jankélévitch). 

Obs4: Nesta guerra ocorreram horríveis massacres, cometidos pelos dois lados do conflito. Posteriormente, a OTAN interviu na guerra, em favor do Kosovo, e bombardeou a Sérvia por quase três meses, levando a mesma a se render e a aceitar a independência do Kosovo. 

Portanto, as guerras e seus horrores, em vários momentos históricos, são conectados por Godard, que relaciona o passado com os conflitos que se desenvolviam no mundo na época (1997-2001) em que ele trabalhava em seu filme. 

Após cometer suicídio, Elle/Berthe deixa Edgar escolher um dos seus livros. Ele escolhe 'Le Voyage d'Edgar'. Consta que este era um dos livros preferidos de Godard em sua infância. Assim, a história pessoal do genial cineasta francês também está presente neste belo filme.  

Em um diálogo entre Edgar, Rosenthal e Forlani é dito que a História foi substituída pela tecnologia, que a política é feita por meio de dogmas e que a Igreja se manteve atualizada. Balzac (um dos autores preferidos de Godard) tem um livro citado ('Esplendores e Misérias das Cortesãs'). 

Depois disso, Edgar se encontra com Elle/Berthje e os dois conversam durante toda a noite. 

Edgar lhe diz 'Nunca pensa nele, mas a verdade pode ser triste' e fala que está cheio de dúvidas com relação ao seu projeto. Elle diz que 'está cheia' desse mundo e comenta sobre uma placa que homenageia um oficial de paz francês que foi assassinado pelos alemães em Outubro de 1944, dizendo que as expressões 'oficial', 'paz' e 'alemães' não deveriam constar na placa. Ela tem razão. Para ficar mais próximo da verdade o melhor seria escrever que um membro da Resistência foi assassinado pelos nazistas.

Elle diz que seus pais cometeram suicídio, que seu pai nunca usava a expressão 'globalização', mas 'cenário universal' e fala que nasceu em 1965, três anos antes de Maio de 68. Isso leva Edgar a falar sobre a 'Fortaleza Vazia', que é uma fábrica fechada, que era da Renault e que está localizada próxima do local em que eles conversam. 

Em Maio de 68 as instalações da Renault foram ocupadas pelos operários, liderados pela então poderosa CGT (Confederação Geral do Trabalho) que conseguiu promover uma Greve Geral que paralisou a França por três semanas, sendo que a CGT chegou a ficar muito próxima de derrubar o governo do então General Charles De Gaulle. 

Edgar ouve Jean ler trechos de livro que fala a respeito da luta na Resistência contra o Nazi-Fascismo. Godard mostra que existe uma forte conexão entre passado e presente, mas que a humanidade está esquecendo ou tendo acesso a uma história falsa e mentirosa que está sendo, em grande parte, difundida por Hollywood. Se o filme tivesse sido feito nos dias atuais, não é de se duvidar que Godard citasse as redes sociais e os sites de compartilhamento de mensagens como seus alvos de crítica. 

Assim, Godard lamenta a perda desse imenso poder de mobilização e de organização que a classe operária francesa já possuiu e que, agora, se esvaziou. Porém, Elle discorda, dizendo que essa luta continua existindo, mas que se desenvolve em outros lugares, ou seja, fora das indústrias.

Obs5: Isso aconteceu até em função do forte processo de desindustrialização que atingiu os países desenvolvidos desde os primeiros anos da década de 1970, especialmente após o primeiro Choque do Petróleo (Outubro de 1973). Grande parte do parque industrial dos países ricos foi transferido para os chamados países emergentes (China, México, Leste Europeu), nos quais os custos de produção são muito menores.  

Obs6: É bom ressaltar que Godard participou intensamente daquelas mobilizações de Maio de 68 (de manifestações, da greve da indústria do Cinema, que interrompeu o Festival de Cannes, filmando as manifestações). E foi justamente em função de tudo o que aconteceu naquele momento que ele abandonou a indústria do Cinema e se integrou a um grupo (Dziga Vertov), que realizou filmes de forte conteúdo político e ideológico, de maneira independente e cuja produção era realizada de forma coletiva. Entre 1968 e 1971 o 'Groupe Dziga Vertov' produziu quatro filmes. 

Na conversa entre Edgar e Elle já é possível perceber que ela se encontra em um momento difícil, dizendo que estava cansada do mundo, que não existe morte e que quando a mesma chega há uma razão para isso. 

Eles conversam sobre suas vidas pessoais e Edgar critica os EUA (alvo de Godard desde os anos 1960) e afirma que os EUA não tem um passado e que em função disso compram o passado dos outros povos. Esta afirmação ficará melhor explicada na segunda parte do filme, que promove uma volta de dois anos nos acontecimentos. 

Elle/Berthe faz a leitura de alguns trechos do livro de Robert Bresson ('Notas Cinematográficas'). Ela e Edgar se conheceram e uma forte atração mútua os aproximou imediatamente. Edgar dizia que ela trazia ideias para a vida, mas se decepcionou com o final trágico que a vitimou.

Obs7: Nos anos 1960, os filmes de Godard atacavam a Guerra do Vietnã e o Racismo, abrindo espaço para leitura de textos de líderes dos 'Panteras Negras' em 'One Plus One/Sympathy for the Devil', de 1968, por exemplo. 

Edgar também comenta sobre a mudança radical que ocorreu na paisagem local, dizendo que, na época do Império Romano, havia uma floresta onde hoje é Paris e que, agora, o que existe é apenas o 'Bosque de Boulogne'. Também vemos Edgar em uma estação de trem que se localiza na região de 'Drancy Avenir'. 

Obs8: Como este é um filme de Godard e o mesmo trata, essencialmente, da forma como nos relacionamos com a história e com a memória, é claro que esta cena na estação de trem não aparece no filme de maneira gratuita. Em 'Drancy Avenir' tivemos o funcionamento, entre Junho de 1942 e Julho de 1944, de um campo de concentração nazista, do qual 67.400 judeus franceses, alemães e poloneses foram transportados (por trens) para campos de extermínio (incluindo 6000 crianças). Quando as forças militares dos Aliados conquistaram Paris e libertaram os prisioneiros havia apenas 1500 sobreviventes no local. 

Depois, vemos Elle conversar com Edgar, pelo telefone, no qual ela diz que ele estava certo quando disse que 'a verdade pode ser triste'. Não ouvimos o que Edgar diz, apenas Elle, mas ela comenta sobre sua vida e pede para que ele repita uma frase da qual ela havia gostado, que é 'Todo pensamento deveria lembrar a essência de um sorriso'.

Françoise e Jean participaram ativamente da Resistência, lutando contra o nazi-fascismo, entre 1941-1944. E agora, em função de dificuldades financeiras,  vendem a sua história para Hollywood, que irá distorcer totalmente o que fizeram. Godard critica duramente as mentiras propagadas por Hollywood, condenando abertamente o Imperialismo Cultural dos EUA. 

Philippe diz para Rosenthal, quando visitam um abrigo junto com Edgar, que 'a felicidade jamais é alegre' e diz que tal frase é de autoria de Max Ophuls, um importante cineasta alemão que filmou vários filmes de amor, mas cujas histórias eram repletas de conflitos entre os amantes.

Nas duas partes do filme vemos Edgar folheando o seu livro com páginas em branco, primeiro ao lado de uma ferrovia (na primeira parte) e depois ao lado de uma rodovia (na segunda parte). Em um momento anterior do filme foi dito que a tecnologia substituiu a história. Logo, evitar a rodovia e as ferrovias seria uma maneira de Edgar demonstrar o seu apego à história, deixando a tecnologia de lado. 

Edgar reencontra Philippe e este diz que a memória de Rosenthal está indo embora desde que ele havia abandonado o projeto. E a namorada de Philippe diz que 'Todo pensamento deve trazer um sorriso'. Edgar pergunta onde ela havia escutado tal frase e a mesma diz que havia acabando de inventar a mesma. Edgar vai embora, dizendo para Philipe os dias de frases acabaram. 

Edgar visita um local no qual se encontra com um homem que conhecia Elle e descobre que ela havia cometido suicídio e que isso pode ter acontecido em função dele ter abandonado o seu projeto, no qual ela acreditava. Porém, Elle também escondeu de todos que estava doente, com tuberculose. Ela deixou que ele escolhesse um de seus livros. Um dos livros era 'Cassandra', de Christa Wolf.

As belas imagens de Edgar e Elle/Berthe, lado a lado, na residência do casal Bayard, se misturam com a do oceano. Eles formam o casal adulto do filme, que é o único que fracassa na sua tentativa de permanecer juntos, o que reflete o estado de espírito sombrio que vivemos. Assim, Godard parece perguntar se será possível amar sem meias medidas em um mundo marcado por tanta guerra, fome, miséria, violência, massacres? 

Obs9: Cassandra é uma personagem da Mitologia Grega que tinha o poder de profetizar, mas ninguém acreditava em nenhuma das suas profecias, que acabavam se confirmando. De certa maneira, é como se Godard estivesse dizendo, neste filme, que a desvalorização ou a deturpação da memória e da história está levando a humanidade a enfrentar novas catástrofes. Assim, o esquecimento dos horrores do Nazismo e da Segunda Guerra foi a responsável por novas guerras e massacres na Europa, caso da Guerra do Kosovo (1998-1999), sobre a qual Godard comenta em 'Éloge de L'Amour'. 

Entre os livros deixados por Elle/Berthe, a escolha de Edgar recaiu sobre 'Le Voyage d'Edgar', de Edouard Peisson. Edgar disse que gostava do tom de voz de Elle e também pelo fato de que ela trazia ideias à vida, mas que no resto ela foi uma decepção. É claro que, com esse comentário, ele está se referindo ao suicídio dela. Afinal, Edgar demonstrou interesse por Elle/Berthe, não apenas em função do seu projeto, mas também passou a querer conversar com ela, telefonando, a respeito de questões pessoais, como fica claro em uma cena em que a vemos respondendo, pelo telefone, o que ele dizia.

Assim, o relacionamento entre os adultos do filme (Edgar e Elle/Berthe) foi a único que não completou todas as etapas do envolvimento amoroso, que são o de encontro, atração física, separação e reconciliação.  

Esta conversa de Edgar com este amigo ou parente de Elle/Berthe encerra a primeira parte do filme, que foi inteiramente realizada em um belo tom de preto e branco. Já a segunda parte foi filmada em vídeo com o uso de cores supersaturadas e distorcidas, com um brilhante resultado final. 
Elle/Berthe leva Edgar para pegar o trem de volta a Paris. No filme, Godard faz uso de várias técnicas cinematográficas incomuns: sobreposições, emaranhamentos, colagens, imagens com cores saturadas e distorcidas. Assim, embora tenha realizado o filme quando já tinha 71 anos, ele manteve o seu espírito de artista ousado e inovador.   

Esta segunda parte, como já comentei, é a primeira, em termos cronológicos, pois nela vemos Edgar indo para a Bretanha, dois anos antes, para entrevistar católicos que haviam participado da Resistência no período da Segunda Guerra Mundial. 

E foi ali que ele conheceu Elle (Berthe), que era advogada e que lutava para impedir que os seus avós aceitassem vender a sua história, de luta na Resistência, para produtores dos EUA, que trabalhavam para a 'Spielberg Associates' e que eram comandados por Sumner Welles Jr, funcionário do Departamento de Estado dos EUA. 

Obs10: Sumner Welles foi subsecretário de Estado dos EUA durante o governo de Franklin D. Roosevelt. Assim, o personagem do filme seria o seu filho. A presença deste no ato de assinatura do contrato com o casal Bayard mostra que, para Godard, Hollywood é uma extensão do Imperialismo dos EUA. Como é dito no filme: Washington comanda o navio e Hollywood é o mordomo. 

Assim, para Godard, Hollywood é o braço do Imperialismo dos EUA para dominar a produção cultural global (no cinema, música, HQs, etc) e está submetida aos interesses estratégicos dos EUA em escala global.

Afinal, é por meio de Hollywood que os EUA convencem as pessoas, mundo afora, de que o seu modelo de Governo, Sociedade e Economia é o melhor de todos e que deve ser imitado por todas as Nações. Isso é o que se chama de 'Soft Power', ou seja, o uso da capacidade de influenciar e dominar os outros países e povos sem que seja necessário usar da violência, de Guerras ou de Golpes de Estado.

O casal de idosos (Bayard, embora seu nome verdadeiro seja Samuel, pois eles são judeus) aceita vender a sua história de luta na Resistência (entre 1941-1944) pois está precisando de dinheiro para impedir o fechamento de seu hotel, que passa por graves dificuldades financeiras. 

E o título do filme será 'Tristão e Isolda', que era o nome da rede de Resistência da qual o casal fez parte e que é uma outra referência literária que ajuda a contar a trama do filme, pois essa história de origem medieval também trata de uma relação amorosa que conta com elementos de conflitos, mentiras, separação e que também possui um final trágico.  

Imagem belíssima vista de dentro do carro no qual Elle/Berthe leva Edgar para a estação de trem. 

No filme 'Tristão e Isolda' (da 'Spielberg Associates'), a mulher será interpretada por Juliette Binoche, vencedora do Oscar, e o roteirista será William Styron, um dos melhores escritores 'americanos', o que leva à uma contestação feita por Berthe, que diz brasileiros, canadenses e mexicanos também são americanos. Daí, ela afirma que os EUA não tem um nome e tampouco um passado e que, em função disso, eles precisam comprar o passado (a história... a memória) dos outros. Berthe também revela que o contrato determina que as mulheres do filme terão que ficar nuas, deslizando sobre os seus amantes.

Assim, Berthe pergunta se esta foi, realmente, a história do casal Bayard nos anos de Resistência. Do lado de fora da residência dos Bayard, Edgar acompanha tudo. 

Elle/Berthe diz que o Estado é a antítese total da imagem de um amado, cuja razão soberana nega este amor. 

O avô de Berthe faz uma leitura e cita uma famosa frase dita por Tristan Bernard) quando ele e a esposa foram levados para o campo de concentração de Dracyn Avenir: "Até agora temos vivido no medo, a partir de agora viveremos na esperança".

Berthe pergunta para Edgar 'quando foi que o olhar desmoronou' e ele responde 'há 10 anos? 15 anos? 50 anos? antes da TV? Quem sabe?'. Ela pede que ele seja mais preciso e Edgar responde 'antes que a TV tivesse procedência... sobre a vida'. Berthe diz 'sinto que nosso olhar se tornou um programa censurado. Subvencionada. A imagem, senhor, só capaz de negar nada, é também o olhar de nada, em nós'. Edgar fala 'Espero que não'. 

A imagem de Edgar se mistura com a do oceano e das nuvens, em um momento no qual ele reflete sobre o fato de que quando pensa em algo, ele também está pensando em outra coisa. 
Berthe também lê vários trechos de um livro de Robert Bresson ('Notas Cinematográficas'), entre os quais um que diz "Permita que os sentimentos produzam acontecimentos, não o contrário'. Por fim, ela pergunta para a avó porque, mesmo no Pós-Guerra, eles (Jean e Françoise) mantiveram o uso do nome Bayard, se o nome de família era Samuel?

Berthe passa ao lado de Edgar e a (belíssima) imagem exibida parece ser a de um sonho. Em vários momentos as cenas do filme tem esse caráter onírico. É como Edgar fala: "Talvez não tenha sido dito nada".

Em outros momentos as imagens de Jean e Françoise, bem como a de Edgar, se misturam com a do oceano. Desta maneira, Godard faz uso de várias técnicas (colagens, sobreposições) para contar a sua bela história. 

Numa sequência de encerramento com imagens espetaculares (cores fortes e distorcidas), Berthe leva Edgar embora, em seu carro, em uma noite chuvosa, para a estação de trem, e quando ele diz que 'a fada golpeou o sapo com a sua varinha e de repente apareceu a princesa' imediatamente vemos a imagem dela no espelho retrovisor... Ela diz que 'o passado cria uma imagem do presente'. 

Crianças vão até a residência dos Bayard a fim de pedir que eles assinem um abaixo-assinado para que 'Matrix' seja dublado na língua bretã. Logo, Godard condena abertamente o Imperialismo cultural dos EUA. Em seus filmes dos anos 1960 ele já deixava claro o seu desprezo pela produção meramente comercial, que visa apenas o lucro. Em 'Le Mépris', clássico filme de 1963, essa crítica já estava presente. Logo, em 'Éloge de L'Amour' o gênio da Nouvelle Vague faz uso, também, da memória para relembrar a sua, vasta e inovadora, obra cinematográfica. 

A qual passado, exatamente, Elle/Berthe se refere? Talvez ao dos seus pais, que cometeram suicídio. O passado, trágico, dos dois está, assim, relacionado ao presente que ela vivencia. 

Edgar fala que 'Cada problema traz um mistério' e que 'Através de nossa dialética nos damos conta de como as palavras nos presenteiam com ideias', ao que Berthe responde 'O homem produz as ideias. Ele é o intrépido fabricante de ideias'. E Berthe também cita uma frase de Santo Agostinho: "A medida do amor é amar sem medida'. 

E Edgar encerra o filme dizendo "Assim, tudo na minha história desvanece. Quando sou abandonado somente com imagens do que aconteceu rapidamente. Irei aos Champs Elysées com mais sombras do que um homem jamais levou com ele'. Ele também diz 'Temos um projeto. Conta algo da história e esse algo é um dos momentos e o primeiro momento'.

E depois ele repete as mesmas frases que vimos no início do filme: 'Se lembra dos nomes? Talvez não tenha dito nada. Talvez não tenha sido dito nada'.

Logo, o filme termina com as mesmas frases que foram ditas na abertura. Desta maneira, podemos afirmar que o filme nunca termina, de fato, o que é inteiramente coerente com a ideia de Godard de que toda obra de arte possui um caráter inacabado, sendo sempre uma obra em progresso. 

Fim (?). 
No final da segunda parte do filme vemos Edgar, de volta a Paris, na estação ferroviária, decide levar o seu projeto adiante. Mas terá muitas dificuldades para tornar o mesmo viável, o que será mostrado na primeira parte de 'Éloge de L'Amour'. 

Informações Adicionais!

Título: 'Éloge de L'Amour' (Ode ao Amor);
Diretor: Jean-Luc Godard; 
Roteiro: Jean-Luc Godard;
Ano de Produção: 2001; 
Países de Produção: França e Suíça;
Gênero: Drama; 
Duração: 98 minutos;
Fotografia: Christophe Pollock; Julien Hirsch;
Elenco: Bruno Putzulu (Edgar); Cécille Camp (Elle/Berthe); Philippe Lyrette (Philippe); Jean Davy (avô de Elle/Berthe); Françoise Verny (avó de Elle/Berthe); Audrey Klebaner (Eglantine); Jérémie Lippmann (Perceval); Claude Baignières (Rosenthal); Rémo Forlani (Forlani); Mark Hunter (Mark Hunter); Jean Lacouture (Historiador); Bruno Mesrine (Mágico);  
Prêmios: Prêmio Especial do Júri do Festival de Valladolid (2001); Melhor Filme Estrangeiro do Festival de Fajr (Irã) de 2002.

Uma cena do filme? Ou seria Godard pintando um quadro impressionista? Quase toda a segunda parte deste belíssimo, crítico, memorialístico, romântico e filosófico filme de Godard tem uma imagem, uma fotografia, nitidamente inspirada no Impressionismo. Jacques Aumont disse que Godard "é pintor, ele pintou quando era jovem. Existe um quadro dele reproduzido em algum lugar, um quadro da juventude, era inspirado em Klee... Ele foi verdadeiramente pintor" (citação retirada do livro 'Godard, Cinema, Literatura', de Mário Alves Coutinho, página 42). 

Links:

Groupe Dziga Vertov:


O campo de concentração de Drancy Avenir: