segunda-feira, 9 de setembro de 2019

'O Trem de Lenin' mostra a histórica viagem que levou Lenin e os Bolcheviques de volta à Rússia em 1917!

'O Trem de Lenin' mostra a histórica viagem que levou Lenin e os Bolcheviques de volta à Rússia em 1917! - Marcos Doniseti!

'O Trem de Lenin' (Damiano Damiani; 1988): Uma caprichada produção, feita para a TV, que conta a histórica viagem que levou Lenin e os Bolcheviques exilados de volta para a Rússia. O filme conta com um elenco de ótimo nível, incluindo Ben Kingsley (impecável como Lenin), Leslie Caron (Nadia Krupskaia) e Dominique Sanda (Inessa Armand).

A produção do filme e o contexto histórico!

Este filme foi dirigido pelo cineasta italiano Damiano Damiani, que foi um dos principais diretores do 'Cinema Político Italiano' dos anos 1960 e 1970 e que tem, entre os seus principais filmes, 'La Noia' (Vidas Vazias; 1963), ''Il Giorno dellla Civetta" (O Dia da Coruja; 1968) e 'Confissões de um Comissário de Polícia ao Procurador da República" (1971).


O filme foi produzido por vários canais de TV europeus (Alemanha, Áustria, Itália e Espanha) e foi exibido como uma minissérie de TV em 1990.

'O Trem de Lenin' mostra a importante viagem do trem que, em 1917, foi realizada pelos Bolcheviques que estavam exilados em vários países da Europa (Suíça, França) e que decidiram retornar para a Rússia em função do contexto revolucionário que o país vivia. O grupo de exilados incluía Lenin, Nadia Krupskaia, Inessa Armand, Karl Radek e Zinoviev.

A vontade de Lenin e dos líderes Bolcheviques de voltar para a Rússia era imensa, afinal eles lutaram a vida toda para promover uma Revolução Socialista. E como em 1917 o país enfrentava um contexto claramente revolucionário, é claro que eles desejavam retornar o quanto antes para a terra natal, com o objetivo de levar adiante o projeto revolucionário pelo qual haviam lutado por tanto tempo, com todos eles sacrificando sua vidas pessoais por este projeto.

E graças a um acordo feito pelos Bolcheviques com o governo da Alemanha Imperial, que era governada pelo Kaiser (Imperador) Guilherme II, eles tiveram todas as condições para que este retorno se tornasse possível. 
 
Alto-Comando do Exército alemão reunido para debater com Parvus o projeto de levar Lenin de volta para a Rússia.

O governo alemão forneceu aos Bolcheviques as garantias e a segurança necessárias para que pudessem sair da Suíça (no dia 9 de Abril; calendário gregoriano), entrassem em território alemão, atravessassem o mesmo em direção à Suécia (aonde chegaram no dia 13 de Abril), de onde foram para a Finlândia que, naquela época, era parte integrante do Império Russo. 

E da Finlândia eles rumaram para a cidade de Petrogrado, que após a vitória da Revolução Bolchevique passou a se chamar Leningrado e que, atualmente, voltou ao seu nome original, que é São Petersburgo, onde Lenin chegou, na noite de 03 de Abril de 1917 (calendário juliano) ou 16 de Abril (calendário gregoriano), sendo saudado por milhares de pessoas (soldados e operários) na Estação Finlândia. 

É claro que o governo da Alemanha Imperial, que era profundamente reacionário e autoritário, não simpatizava nenhum pouco com as ideias e tampouco com o projeto Socialista e Revolucionário de Lenin e dos Bolcheviques, tanto que o governo germânico reprimia de maneira dura e implacável aos socialistas alemães, que eram essencialmente membros da classe operária do país e que votavam maciçamente no SPD (Partido Social-Democrata). 

Obs1: O SPD foi o partido mais votado da Alemanha, nas eleições disputadas para o Reichstag (Parlamento) por 40 anos seguidos, entre 1890 e 1930, tendo vencido 12 eleições consecutivas, mas somente passou a governar o país a partir da proclamação da República, em Novembro de 1918, quando a Alemanha perdeu a guerra e o Kaiser foi embora do país. Em Fevereiro de 1919 o SPD conquistou 37,9% dos votos nacionais, o maior percentual alcançado por qualquer partido até a ascensão de Hitler ao poder, em 30/01/1933.
 
Martov (Menchevique) e Lenin (Bolchevique) conversam sobre a possibilidade de voltarem juntos para a Rússia, mas os Mencheviques rejeitariam a proposta de Lenin.

Mas, neste momento, Lenin e os Bolcheviques defendiam a retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial, devido à situação catastrófica que o país e a população russa enfrentavam, com fome e miséria em larga escala, além de sofrer sucessivas e humilhantes derrotas militares na Guerra.  
 
Lenin também dizia que a paz em separado com a Alemanha era a melhor maneira de derrubar o 'Governo Provisório'. A Rússia mobilizou 13 milhões de soldados e cerca de 1,5 milhão deles já estavam mortos em 1917, sem falar dos feridos. 

O povo russo demonstrava a sua imensa insatisfação com essa situação catastrófica promovendo greves e gigantescas manifestações populares, que contavam com a participação de centenas de milhares de trabalhadores (as). 

Com isso, o governo da Alemanha Imperial vê em Lenin e nos Bolcheviques a chance de tirar a Rússia do conflito, o que permitiria que ela concentrasse os seus esforços militares exclusivamente na Frente Ocidental, onde enfrentava as tropas de dois poderosos Impérios Coloniais, que eram a França e a Grã-Bretanha, bem como a Itália, mais fraca militarmente.

A insistência do regime czarista em manter a Rússia na Guerra, mesmo na situação catastrófica em que o país se encontrava, foi decisivo para que, em 1917 a Rússia vivesse uma fase revolucionária. Com isso, o Czar Nicolau II acabou sendo derrubado pela 'Revolução de Fevereiro', abdicando em favor do príncipe Lvov, e um novo governo, de tendência Liberal, assumiu o comando do país.

Obs2: Na época do Czarismo a Rússia usava o calendário juliano. Somente após a ascensão dos Bolcheviques ao poder é que o calendário gregoriano passou a ser utilizado no país. Com base neste novo calendário, a Revolução Liberal de Fevereiro de 1917 ocorreu em Março e a Revolução Socialista de Outubro ocorreu em Novembro. 
 
O major von Planetz e o capitão von Buhring se encarregaram de supervisionar a viagem de Lenin e dos Bolcheviques.

Porém, este novo governo Liberal era ligado, essencialmente, aos interesses da Burguesia russa e dos governos Imperialistas da França e Grã-Bretanha, e cometeu o grave erro de manter a Rússia lutando na Primeira Guerra Mundial, contra a Alemanha e o Império Austro-Húngaro.  

Esta decisão equivocada do governo Liberal vai acabar custando muito caro e levará a uma piora ainda maior das condições de vida da população russa. Foi neste contexto que Lenin e os Bolcheviques conseguem retornar à Rússia, chegando em Petrogrado em 03/04/1917 (calendário juliano).

Logo, depois, já no dia seguinte à sua chegada, Lenin divulgou as famosas 'Teses de Abril', nas quais defendia a transferência do poder de governar das mãos da Burguesia Liberal para o Proletariado e para os Camponeses.

Assim, ele defendia uma ruptura com o 'Governo Provisório', controlado pelos capitalistas, e a transferência do poder do Estado para os Sovietes formados por operários, trabalhadores rurais e camponeses. No documento, Lenin também defendia uma Reforma Agrária que promovesse a nacionalização das terras, bem como a estatização dos bancos e a supressão do Exército, da Burocracia e da Polícia. Ele também defendia a mudança do nome do partido Bolchevique e a criação de uma Internacional Revolucionária.

Um dos principais membros deste novo governo Liberal (que era uma Monarquia Constitucional) era Alexander Kerenski, que ocupou os cargos de Ministro da Justiça e da Guerra e que, depois, a partir de Julho de 1917, tornou-se o Primeiro-Ministro, passando a governar a Rússia. Depois que se tornou o Primeiro-Ministro, Kerensky manteve a Rússia participando da Primeira Guerra Mundial e, com isso, tornou-se extremamente impopular.
 
Lenin e Nadia Krupskaia, esposa do líder Bolchevique. Ela era uma intelectual e militante respeitada entre os Bolcheviques e sempre era consultada por ele.

Assim, seu governo acabou sendo facilmente derrubado pelos Bolcheviques em Outubro de 1917 (calendário juliano), resultando no triunfo da primeira Revolução Socialista da história e cujo governo se implantava em um país que era um vasto Império e que possuía 1/6 do território do planeta, mas que era muito pobre e atrasado, em todos os aspectos: político, econômico, social, cultural, industrial, científico, tecnológico.

Obs3: Kerensky integrava o partido conhecido como 'Trudovique' (o Partido Trabalhista russo), que era uma dissidência dos 'Socialistas Revolucionários', sendo deputado eleito para a Duma (o Parlamento russo).

Os 'Socialistas Revolucionários' e os 'Mencheviques' (cujo principal líder era Martov) também eram importantes partidos políticos de Esquerda, mas que eram rivais dos Bolcheviques, mas também tinham muitos dos principais líderes exilados pela Europa. Lenin chegou a conversar com os líderes exilados destes dois partidos para que voltassem, juntos, para a Rússia, mas eles se recusaram a participar de algo que eles consideravam com um ato de mero oportunismo político e, também, de traição de Lenin.

Obs4: Os 'Socialistas Revolucionários' desfrutavam de grande popularidade entre os camponeses, enquanto que os Mencheviques disputavam com os Bolcheviques a liderança entre a classe operária da Rússia. 

O filme conta com atores do calibre de Ben Kingsley (em uma brilhante interpretação de Lenin), de Leslie Caron (com o papel de Nadia Krupskaia, a esposa de Lenin e que era uma importante integrante do partido Bolchevique) e de Dominique Sanda, que interpreta Inessa Armand, uma outra brilhante liderança política e intelectual Bolchevique e que teve um romance secreto por muitos anos com Lenin.

Lenin ficou exilado por 10 anos, entre 1907 e 1917, e viveu a maior parte do tempo na Suíça, onde também estavam muitos outros exilados russos que eram perseguidos pelo opressivo regime czarista.

A trama do filme!

A história do filme se desenvolve em torno da viagem de trem que Lenin e um grupo de cerca de trinta Bolcheviques fizeram em Abril de 1917, saindo de Zurique (Suíça) e tendo como destino a cidade de Petrogrado (atual São Petersburgo).

A viagem foi resultado de um acordo entre o governo alemão e os Bolcheviques, pois os alemães entendiam que se os Revolucionários russos conseguissem voltar para a Rússia eles conseguiriam promover uma Revolução vitoriosa e, daí, iriam retirar o país da Primeira Guerra Mundial, permitindo que a Alemanha deslocasse para a Frente Ocidental as divisões do seu Exército que, até então, lutavam contra as forças militares russas.


O filme mostra uma cena que simboliza a matança inútil promovida durante a Primeira Guerra Mundial (com a sua mortífera guerra de trincheiras), na qual um ataque dos alemães, contra forças francesas em trincheiras, os levou a perder 40% dos seus soldados e a conquistar ridículos 300 metros de território, enquanto fizeram apenas 18 soldados franceses como prisioneiros. O oficial que comandou o ataque foi elogiado por sua ação, embora ela tinha sido um imenso fracasso. 


Assim, a Guerra tinha se revelado totalmente inútil até 1917, com a morte de cerca de 3 milhões de alemães até aquele momento, levando o Estado-Maior do Exército a concluir que a Alemanha somente teria condições vencer a Guerra se, antes, encerrasse o conflito com a Rússia.


Com isso, o governo alemão decide apoiar um projeto de um revolucionário russo, um bolchevique chamado Parvus, que apresenta uma ideia, a de que o governo alemão faça um acordo com Lenin, pois este defendia a retirada da Rússia da Guerra, devido aos elevados custos humanos que tal envolvimento gerava para o povo russo, que sofria com a fome, o desemprego e a miséria.
 
Lenin foi brilhantemente interpretado por Ben Kingsley, que ficou muito parecido com o líder Bolchevique.

Assim, Parvus sugere ao governo alemão dar as garantias necessárias a fim de levar (de trem) Lenin de volta para a Rússia, permitindo que o mesmo liderasse uma Revolução Socialista que, após ser vitoriosa, assinaria um armistício com a Alemanha.
 
Parvus é um oportunista que gosta da boa vida e que tem como objetivo ganhar uma boa quantia de dinheiro com a intermediação deste projeto. Porém, os desejos do governo alemão e de Lenin acabaram fazendo com que eles aceitassem a proposta de Parvus. 

Neste momento vemos Lenin, em uma reunião com os líderes bolcheviques (Zinoviev, Radek...), reclamando justamente que o fato deles estarem exilados os impede de atuar politicamente no cenário russo, fazendo críticas a Stalin e Kámenev pelo fato de que ambos defendiam uma colaboração com o Governo Provisório, de caráter burguês e liberal. Ele está frustrado com o fato de estar preso na Suíça e de não ter os recursos necessários para retornar à Rússia. 


Para tornar o projeto possível, Parvus entra em contato com dois bolcheviques suíços (Platten e Grimm) que eram aliados de Lenin e que irão fazer um contato inicial com o líder revolucionário russo. O filme também mostra que Lenin percebe a clara intenção de Parvus de ter o controle do projeto e impõem algumas condições para que possa aceitar a oferta, pois deixa claro que não será uma marionete de Parvus. Assim, ele rejeita ter qualquer reunião com o oportunista Parvus, enviando Radek para conversar com o mesmo. 


Assim, Lenin deixa claro que não quer nenhum favor do governo alemão e faz questão de pagar pelas passagens (com dinheiro fornecidos bolcheviques suíços) e diz que os exilados que voltarão ao país natal irão levar a própria comida. Logo, Lenin procura se cercar de vários cuidados a fim de mostrar que seu acordo com o governo alemão e com Parvus tinha limites e que os mesmos não iriam implicar em qualquer compromisso com eles, além do acordo que permitiria o seu para a Rússia.
 
Karl Radek (à frente) e Zinoviev (ao fundo, em pé) disputavam quem mais exercia influência sobre Lenin, o indiscutível líder do partido Bolchevique.

Desta maneira, Lenin tomará medidas para que, no momento decisivo, em que os Bolcheviques se encontravam na Suécia e estavam prestes a entrar na Finlândia (que na época era parte integrante do Império Russo), o dinheiro que Parvus iria repassar para Lenin fosse depositado em contas controladas por este último e não pelo esperto intermediário.
 
E tal acordo foi feito sem que Lenin se tornasse um agente do governo imperial ou um traidor, tal como foi acusado quando decidiu aceitar a oferta de ajuda alemã para voltar à Rússia. 

E o filme também mostra que Lenin, em nenhum momento, impõem a sua vontade aos demais Bolcheviques, procurando debater previamente todas as questões e submetendo as decisões à concordância dos demais. Ele procura sempre perguntar aos outros o que eles pensam e está sempre pronto a apoiar alguma proposta caso entenda que ela é a melhor. 


Lenin, quando quer convencer os outros das suas posições, também procura sempre argumentar. Em nenhum momento ele age como um ditador, respeitando sempre as opiniões dos demais e, ao mesmo tempo, dando as broncas necessárias quando entender que eles cometem algum erro. 


E fica claro também que a sua esposa (Nadia Krupskaia) era uma intelectual muito respeitada e tinha um papel muito importante, atuando de forma intensa na vida política, defendendo as suas ideias, mas sem jamais deixar de apoiar Lenin, o ajudando também a organizar a sua vida política e intelectual. 


Lenin
convence os bolcheviques de que eles deveriam procurar conversar com outros grupos de exilados políticos russos, como os Mencheviques (liderados por Martov) e os Socialistas Revolucionários para que todos eles façam a viagem juntos, pois assim ninguém poderá chamá-los de traidores, mas a sua proposta será recusada pelos dois grupos. 
 
Bolcheviques são hostilizados por exilados russos que são contrários ao retorno deles para a Rússia. Posteriormente, no entanto, eles perceberiam o acerto da decisão de Lenin e também quiseram voltar, mesmo que fosse em um comboio fornecido pelo governo da Alemanha Imperial.

Na verdade, quando Lenin e os Bolcheviques decidem voltar sozinhos para a Rússia eles serão atacados pelos membros dos movimentos que decidiram permanecer na Suíça. Mas, depois, quando os Mencheviques viram que a viagem dos Bolcheviques tinha sido bem sucedida, eles irão pressionar Martov para que também retornem, mesmo que tenham que fazer um acordo com o governo da Alemanha. 


O filme também trata do relacionamento romântico entre Lenin e Inessa, que era do conhecimento de Nadia, e que foi mantido em caráter privado. Fica claro que Lenin e Inessa se amavam, mas que não poderiam ficar juntos, pois ele se preocupava com as consequências políticas de abandonar Nadia e passar a viver com Inessa. Logo, o líder bolchevique abrirá mão de viver com Inessa, pois ele priorizará a sua atividade política e revolucionária. 


É bom ressaltar que Inessa também era uma bolchevique autêntica e também uma brilhante intelectual, cuja atuação se voltou para a defesa dos interesses das mulheres, que tiveram uma participação bastante significativa nas Revoluções russas de 1917 (na Liberal, de Fevereiro, e na Socialista, de Outubro). 


Lenin era um grande defensor da ativa participação feminina nas lutas políticas e as tratava em igualdade de condições em relação aos homens. Inclusive, Lenin defende que Inessa seja eleita para o Comitê Central do Partido Bolchevique, o que é aprovado. 

Lenin também possuía alguns problemas de saúde e exigia que tal informação não viesse a público, pois caso isso acontecesse ele temia os efeitos políticos de tal revelação. Portanto, não foi à toa que, posteriormente, todos os líderes soviéticos procuraram manter a população desinformada a respeito dos seus problemas de saúde, pois essa era uma prática que vinha desde Lenin. 


A viagem de trem dos Bolcheviques será supervisionada por dois oficiais do Exército alemão, que são o major Planetz e o capitão von Buhring, sendo que o primeiro é um disciplinado cumpridor de ordens, enquanto que o segundo é um nacionalista fanático que deseja matar Lenin, no que será impedido por Planetz. Em todas as estações nas quais o trem parava sempre havia militares alemães protegendo o mesmo.
 
Dominique Sanda interpreta Inessa Armand, o grande amor da vida de Lenin e que também era uma líder bolchevique e uma intelectual muito respeitada. Ela liderava o grupo bolchevique de Paris desde 1910 e falava cinco idiomas fluentemente. Lenin chegou a indicar Inessa para o Comitê Central do partido. Ela faleceu em 1920, vítima de cólera, e Lenin chorou muito em seu enterro.

E como a viagem era longa, em algumas localidades Lenin foi procurado por algumas pessoas que desejavam conversar com ele, mas a orientação era que evitasse contatos com cidadãos alemães, a fim de não criar problemas para o governo imperial do país que ainda lutava uma guerra brutal e sanguinária. Em uma das paradas, dois deputados do SPD (Partido Social-Democrata alemão) tentaram conversar com Lenin, mas este se recusou. 


Nestes momentos, cabia ao jovem Karl Radek ou a Zinoviev conversar com as pessoas que procuravam por Lenin. E em um debate improvisado este último criticou os deputados do SPD (Jansan e Renkl), dizendo que os mesmos haviam aprovado os chamados 'créditos de guerra' para o governo alemão em 1914. E Radek os chama de 'palhaços do Reichstag'.


Obs5: O SPD era o principal partido da 'Segunda Internacional', que reunia os principais partidos Socialistas, Trabalhistas e Social-Democratas europeus (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda, Rússia...). Ela foi criada em 1880 e durante toda a sua existência anterior à Primeira Guerra Mundial os partidos que a integravam condenavam as Guerras Imperialistas, pois diziam que estas atendiam apenas aos interesses da Burguesia, que enviava os trabalhadores para que se matassem nos campos de batalha. Porém, quando estoura a Guerra (em Agosto de 2014), quase todos os partidos da Internacional apoiaram os governos de seus respectivos países. Lenin (que participou de vários dos Congressos da Internacional) e os Bolcheviques foram um dos poucos que criticaram esse apoio e denunciaram a Internacional como sendo chauvinista. Alguns líderes, minoritários, do SPD alemão (Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht) também condenaram o apoio da legenda aos créditos de guerra e saíram do SPD depois, criando a 'Liga Spartacus'. Daí o fato de Radek e Zinoviev terem criticado os dois deputados do SPD nesta cena.  


Além dos deputados do SPD, um grupo de operários alemães socialistas que trabalhavam na ferrovia acabam descobrindo a presença de Lenin e dos Bolcheviques no trem em uma das paradas e, assim, insistem em ver o líder revolucionário russo discursar. 
 
Operários alemães socialistas ficam sabendo que Lenin estava no trem e vão até o local para tentar ver e ouvir o líder Bolchevique. Lenin não pôde discursar, mas eles o aplaudiram mesmo assim. 

Mas devido ao acordo feito com o governo alemão, de não falar com alemães, Lenin não faz isso, no que é substituído por Radek que, entusiasmado com a recepção e o apoio dos trabalhadores alemães, acaba fazendo um discurso radical, estimulando os alemães a expulsar os militares e a derrubar a Monarquia alemã. 

Com isso, Lenin, Zinoviev, Nadia e Inessa o censuram por sua atitude, sendo que Zinoviev (que disputava com Radek a capacidade de influenciar Lenin) defendeu a expulsão do mesmo do partido Bolchevique, mas isso não irá acontecer. Lenin apreciava o entusiasmo de Radek, mas o avisou de que aquilo não poderia mais se repetir e é decidido que ele não entraria na Rússia, ficando na Suécia. 


Em um determinado momento o comboio parou em Berlim e o capitão reacionário von Buhring acaba tomando contato com a realidade enfrentada pelo povo alemão, de fome e miséria, vendo inúmeras pessoas recebendo sopa de graça, bem como assistindo a uma manifestação de trabalhadores que exigiam o fim da guerra. Ele confrontou os trabalhadores e acabou apanhando dos mesmos.  


Enquanto isso, na Rússia, o 'Governo Provisório', de caráter liberal-burguês, mantém o país na Guerra, fator este que fará com que a insatisfação e revolta da população vá se intensificando cada vez mais. Aliás, Lenin demonstra ter consciência plena deste fato. 
 
Assim, quando Lenin volta para a Rússia ele divulgará, no dia seguinte à sua chegada que ocorreu no dia 16 de Abril, pelo calendário gregoriano) as famosas 'Teses de Abril', que já comentei aqui, defendendo que o poder do 'Governo Provisório' fosse totalmente transferido para os Sovietes (conselhos de operários, soldados e camponeses), promovendo uma Revolução Socialista no país.

Lenin também toma a iniciativa de propor a  mudança de nome do partido, o que será aprovado, que vai passar de 'Bolcheviques Sociais-Democratas' para 'Partido Comunista Bolchevique', pois o nome antigo não representava mais o que eles eram. Lenin dizia que eles não eram nem 'democratas burgueses' e tampouco 'socialistas chauvinistas'.
 
 Camponeses russos aplaudem Lenin quando este chegou ao país. Uma das primeiras medidas de Lenin, quando assumiu o governo do país (em Novembro de 1917), foi promover a Reforma Agrária.

Quando chegam na Finlândia eles serão revistados por soldados ingleses, que fazem uma revista minuciosa e que impedem a entrada de Platten no país, pois o mesmo era suíço e não russo.
 
Depois eles rumam para Petrogrado, mas antes de chegar eles tem a sua viagem interrompida por oficiais do Exército russo, que atacam Lenin e os Bolcheviques, chamando-os de 'traidores'. Lenin faz um pequeno discurso, que é bastante aplaudido pelos camponeses e soldados presentes, mostrando que as suas ideias e propostas já eram bastante populares na Rússia. 

Desta maneira, eles continuam a viagem e chegam em Petrogrado, na noite de 16 de Abril, onde são recebidos por dezenas de milhares de pessoas (operários e soldados, principalmente) que aplaudem Lenin e os Bolcheviques com suas bandeiras vermelhas. 


No dia seguinte Lenin divulgará as 'Teses de Abril' e um novo ciclo revolucionário irá se iniciar na Rússia e que resultará no triunfo da primeira Revolução Socialista da história. 


Informações Adicionais!

Título: Il Treno di Lenin (O Trem de Lenin);
Diretor: Damiano Damiani;
Roteiro: Damiano Damiani; Enzo Bettiza; Dario Staffa; Jean-Marie Drot; baseado no livro de Michael Pearson;
Duração: 206 minutos;
País de Produção: Alemanha, Áustria, Itália, Espanha;
Ano de Produção: 1988;
Música: Nicola Piovani;
Fotografia: Sebastiano Celeste; 
Elenco: Ben Kingsley (Lenin); Leslie Caron (Nadia Krupskaia); Dominique Sanda (Inessa Armand); Peter Whitman (Radek); Timothy West (Parvus); Jason Connery (David Suljashvili); Paolo Bonacelli (Zinoviev); Gunther Maria Halmer (Major Von Planetz); Robin McCallum (Von Buhring); Xavier Elorriaga (Platten); Franz Gary (Misha); Wolfgang Gasser (Martov); Mattia Sbragia (Furstenberg); Manfred Anrae (Kerensky). 
 
Quando chegou à estação Finlândia (em Petrogrado, atual São Petersburgo), na noite de 16/04/1917, Lenin foi recebido por dezenas de milhares de pessoas, principalmente por operários e soldados.

Links:
 
Filme disponível no Youtube:
 
Primeira Parte:
 
Segunda Parte:
 
As Teses de Abril:
https://pcb.org.br/portal/docs/astesesdeabril.pdf

1917 - Lenin retorna à Rússia:
https://www.dw.com/pt-br/1917-lenin-retorna-à-rússia/a-498290

O retorno de Lenin à Rússia e as Teses de Abril:
https://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/25/teses.htm

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