quinta-feira, 19 de setembro de 2019

'Le Stagioni del Nostro Amore" - Influenciado por Antonioni, Florestano Vancini mostra as desilusões da intelectualidade de Esquerda italiana do Pós-Guerra!

'Le Stagioni del Nostro Amore" - Influenciado por Antonioni, Florestano Vancini mostra as desilusões da intelectualidade de Esquerda italiana do Pós-Guerra! - Marcos Doniseti!
'Le Stagioni del Nostro Amore' (Enquanto Durou o Nosso Amor; Florestano Vancini; 1966) foi um dos vários filmes que retrataram a crise que a Esquerda italiana, especialmente aquela que era ligada ao PCI, enfrentou  na primeira metade da década de 1960.

'Le Stagioni del Nostro Amore' (As Estações do Nosso Amor)!

Este é um belo filme do período áureo do cinema italiano e que foi dirigido por Florestano Vancini. Ele foi um dos últimos filmes do ciclo do chamado 'Pós-Neorrealismo', que durou de 1955 a 1967. E também é um dos melhores filmes desta safra. 

O protagonista do filme é Vittorio Borghi (que é interpretado pelo brilhante Enrico Maria Salerno) e a história se desenvolve em meados da década de 1960, vinte anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Vittorio é um jornalista italiano de quarenta anos que lutou na Resistência (foi um Partigiano, um guerrilheiro) e que sempre foi ligado ao PCI (Partido Comunista Italiano). Vittorio foi colaborador, por muitos anos, do jornal do PCI ("L'Unità"), para o qual escreveu inúmeros artigos. Seu pai (Mario Borghi), já falecido, também foi um corajoso militante socialista que também lutou contra o regime fascista de Mussolini.

Mas agora, aos 40 anos, Vittorio mergulhou em um momento de grave crise existencial, pois ele perdeu todas as suas referências: políticas, ideológicas, familiares, pessoais e amorosas. Vittorio procura refletir sobre as causas desta situação e vai buscar pelas respostas em seu próprio passado.
Enrico Maria Salerno, um dos melhores atores italianos, interpreta Vittorio Borghi, um intelectual ligado ao PCI, que lutou na Resistência, mas que em meados da década de 1960 enfrenta uma crise existencial. Assim, ele faz uma viagem ao passado a fim de tentar compreender quando foi que isso começou.

A crise existencial que Vittorio enfrenta é desencadeada pelo fim de um intenso romance com uma bela jovem (Elena) que é interpretada pela lindíssima e talentosa atriz francesa Jacqueline Sassard, que encerrou a sua carreira precocemente, em 1969, pois ela optou por uma tranquila vida familiar depois que se casou.

A bela Elena (que tem cerca de 20-25 anos) engravidou de Vittorio e deseja que ele abandone a sua família para viver com ela, mas ele não age desta maneira, o que a leva a romper o relacionamento.

Assim, Vittorio procura fazer uma reflexão a respeito de uma vida cuja melhor parte está no passado, quando ele era feliz, otimista, mas foi quando tomou as decisões que o levaram a essa situação de crise existencial.

Desta maneira, Vittorio volta para a sua cidade natal (Mântua, localizada na região da Lombardia, que fica próxima de Milão), onde reencontra seus velhos amigos (da época da Resistência e do PCI), encontra antigos comunistas que foram amigos de seu pai e revê um antigo amor, uma bela existencialista (Francesca), que é interpretada por Ainouk Aimée.
Jacqueline Sassard e Enrico Maria Salerno em uma bela cena de amor deste clássico de Florestano Vancini.

Vittorio e Francesca eram apaixonados e chegaram a namorar na juventude, mas ela escolheu se casar com um rico burguês, pois não via nenhuma perspectiva de ter uma vida confortável ao lado de Vittorio. Agora ela também é infeliz, apesar de manter as (boas) aparências, pois está sempre elegante.

Os amigos de Vittorio da época da Resistência também mudaram e se adaptaram aos novos tempos, de uma Itália que se manteve capitalista e que, na época em que o filme foi realizado, vivia a fase final de um longo período de rápido crescimento econômico que havia começado por volta de 1954/1955.

Obs: A crise econômica italiana começaria apenas em 1967 e se agravaria a partir de 1968, quando começou um longo período de conflitos políticos, econômicos e sociais, que irá terminar apenas por volta de 1980/1981. Estes anos foram os chamados 'Anni di Piombo' (Anos de Chumbo), época em que os grupos extremistas (de Direita e de Esquerda) abalaram a Itália com inúmeros atentados terroristas, assassinados e conflitos de rua. Neste período da história italiana, morreram cerca de 2 mil pessoas vítimas da violência política.

Assim, um antigo comunista (Olindo Civinini) virou um comerciante que vende roupas para os burgueses da cidade  (e que tem em Francesca uma das suas principais clientes) e um ex-Partigiano (Tancredi) casou, formou família e virou um simples guarda noturno. Logo, Vittotio constata que os ideais socialistas e revolucionários da época da Resistência ficaram no passado.
Quando retorna para a sua cidade natal (Pádua, no norte da Itália) Vittorio reencontra uma antiga paixão da juventude, a bela Francesca.

Vittorio descobre que até mesmo um intelectual que pertence ao PCI (Leonardo Varzi) e de quem ele é amigo desde a adolescência, que sempre foi dotado de grande energia política e capacidade analítica, e por quem Vittorio sempre nutriu um grande respeito e admiração, está vivendo um período conturbado, embora o mesmo ainda manifeste a sua crença nos ideais comunistas.

Mas o próprio Vittorio mudou profundamente: Ele está desapontado, não acredita mais nos ideais pelos quais lutou durante e depois da Guerra e da Resistência. Logo, infeliz e ferido em seus sentimentos, ele não consegue encontrar um ponto de contato com aqueles que estiveram próximos a ele em sua juventude.

A peregrinação aos lugares do passado, onde procura as raízes da crise existencial que enfrenta, terminará em um salão de danças público ao largo do Rio Pó, onde um grupo de adolescentes conseguiu fazer funcionar uma jukebox e dançam de forma alegre, enérgica e despreocupada, apresentando uma postura festiva perante a vida.

São outros jovens, que não fazem a menor ideia de quem seja Vittorio, ou seja, não há que estabeleça uma conexão entre a velha guarda revolucionária do PCI com os jovens dos anos 1960. 

Vittorio volta para Mântua, sua cidade natal, e se encontra com Francesca, com quem teve um romance no passado, mas que não deu certo, pois ela o desprezou para se casa com um burguês bem mais endinheirado do que ela. 

Logo, o filme já indica claramente para uma ruptura geracional que ficaria bastante evidente nos últimos anos daquela década explosiva. Estes jovens ainda desfrutam de uma vida feliz e também preservam o seu otimismo perante a vida, tal como aconteceu com o próprio Vittorio em sua juventude. E a explosão emocional dele no final reflete o contraste entre o seu desespero e a energia daqueles jovens. 

O filme de Vancini é claramente influenciado pela obra inovadora do genial Michelangelo Antonioni. 

Assim, temos uma conexão bem evidente entre os sentimentos do protagonista (Vittorio), o clima gelado do inverno do norte da Itália e a fotografia do filme, em um branco estourado, o que é uma evidência clara dessa influência. 

Afinal, essa conexão entre os elementos da paisagem e o estado espiritual dos protagonistas sempre foi um aspecto importante da obra de Antonioni.
Um belo desenho mostrando Elena e Vittorio.

Informações Adicionais! 

Título: Le Stagioni del Nostro Amore (Enquanto Durou o Nosso Amor);
Diretor: Florestano Vancini;
Roteiro: Florestano Vancini; Elio Bartolini;
Ano de Produção: 1966;
País de Produção: Itália;
Duração: 101 minutos;
Música: Carlos Rustichelli; 
Fotografia: Dario Di Palma;
Elenco: Enrico Maria Salerno (Vittorio Borghi); Jacqueline Sassard (Elena); Anouk Aimée (Francesca); Gian Maria Volonté (Leonardo Varzi); Gastone Moschin (Carlo/Tancredi).
Prêmio FIPRESCI (Federação da Crítica Internacional) no Festival de Cinema de Berlim de 1966.
Golden Goblet de Melhor Ator para Enrico Maria Salerno, na Itália, em 1966.

A belíssima Jacqueline Sassard, que interpreta Elena, a jovem que se envolve com Vittorio. O fim do relacionamento deles leva Vittorio a entrar em uma crise existencial, passando a questionar tudo o que fez em sua vida. 

Nenhum comentário: