sábado, 21 de setembro de 2019

"Lola" mostra o olhar corrosivo de Fassbinder sobre o 'Milagre Econômico' alemão do Pós Guerra!

Lola mostra o olhar corrosivo de Fassbinder sobre o 'Milagre Econômico' alemão do Pós Guerra! - Marcos Doniseti!
'Lola' (1981) é o segundo filme da Trilogia de Fassbinder sobre o 'Milagre Econômico' alemão e mostra que a corrupção, a hipocrisia e a imoralidade também fizeram parte deste processo histórico.
Rainer W. Fassbinder foi um dos mais geniais e talentosos cineastas europeus do Pós Guerra, tendo integrado a segunda geração do ‘Novo Cinema Alemão’, que começou em 1962 quando tivemos a publicação do 'Manifesto de Oberhausen'.
Fassbinder, junto com Wim Wenders e Werner Herzog, constituiu o seu trio mais criativo, de maior sucesso comercial e também o mais premiado internacionalmente, embora o movimento tenha tido outros representantes que produziram uma obra excepcional, tais como Margarethe von Trotta, Volker Schlondorff e Alexander Kluge. 
Os filmes de Fassbinder contam a história da Alemanha no século XX, mostrando as crises do período do Entre Guerras e a ascensão do Nazismo (em ‘Berlin Alexanderplatz’), a Segunda Guerra Mundial (em ‘Lili Marlene’) e as mudanças pelas quais o país passou durante o Pós Guerra, destacando o 'Milagre Econômico' na consagrada ‘Trilogia da Alemanha Ocidental’.
‘Lola’ (1981) é o segundo filme desta ‘Trilogia’, que conta a história da Alemanha Ocidental no Pós Guerra e que começou com ‘O Casamento de Maria Braun’ (1978) e que foi concluída com ‘O Desespero de Veronika Voss’ (1982).

Armin-Mueller Stahl e Barbara Sukowa: Interpretações brilhantes neste clássico de Fassbinder, que também possui uma fotografia que reflete o clima de devassidão moral no qual os personagens vivem. 
Em ‘Lola’, o prefeito de uma pequena cidade da Alemanha Ocidental nomeia um novo diretor de planejamento urbano (von Bohm, magistralmente interpretado por Armin Mueller-Stahl), que é considerado íntegro, honesto, moralista e incorruptível.
Porém, von Bohm acabará se deparando com uma intensa atividade criminosa e corrupta que envolve a elite dominante local, que desvia recursos das obras públicas que são realizadas na cidade: o prefeito, jornalistas, empresários, funcionários públicos participam desse esquema de corrupção.
 
E tem algo mais que os une: Eles são clientes de um bordel que pertence a um dos principais membros desta elite cínica, imoral e corrupta (Schuckert, interpretado brilhantemente por Mario Adorf).
 
Os acontecimentos se desenvolvem em plena época do ‘Milagre Econômico’ alemão, cujo início coincide com o momento em que a Alemanha conquistou a sua primeira Copa do Mundo de Futebol, em 1954, na Suíça, após a reconstrução do país ter sido concluída. Essa reconstrução foi viabilizada pelo 'Plano Marshall', que foi financiado com dinheiro dos EUA e que vigorou entre 1948 e 1953. 
 
Gradualmente, o moralista von Bohm vai percebendo como é que as coisas funcionam naquela pequena cidade e ele decide enfrentar a elite corrupta da cidade, inviabilizando a construção de um grande conjunto habitacional, cuja concorrência é viciada e com a qual os membros da elite local irão se locupletar.
 
O grande ator Armin Mueller Stahl interpreta von Bohn, que tenta escapar ao esquema de corrupção que vigora na cidade onde assumiu a responsabilidade pelo planejamento urbano e, logo, pela realização de obras públicas.

No entanto, o triste e solitário von Bohm acaba se apaixonando por Lola (interpretada brilhantemente por Barbara Sukowa), uma bela e sensual mulher, que é mãe solteira e, também, é uma prostituta que trabalha no bordel que pertence a Schuckert, um dos mais ativos e corruptos membros da elite dominante local e que tem grandes interesses no setor de construção de obras públicas. 
O cínico Schuckert se especializa em subornar os funcionários envolvidos nestes projetos de construção, permitindo que frequentem o seu bordel e escolham as prostitutas de sua preferência. Essa paixão de von Bohm por Lola irá mudar o rumo da sua, até então, entediante vida e o levará a se envolver com a elite corrupta da cidade, além de promover a sua ruína ética e moral. 
A se destacar a belíssima fotografia, a bela e irônica trilha sonora, o roteiro extremamente crítico, corrosivo e sarcástico a respeito da Alemanha Ocidental, país que foi criado em 1949 quando as zonas de ocupação dos EUA, França e Grã-Bretanha foram unificadas pelos EUA, já como parte do novo ciclo histórico da Guerra Fria. 

Destaque-se, também, a brilhante interpretação de Barbara Sukowa, que graças à sua atuação conquistou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Munique, em 1981. 
 
Barbara Sukowa está perfeita no papel de Lola, que trabalha em uma boate que pertence a Schuckert (Mario Adorf), que faz parte da corrupta elite da cidade.
Informações Adicionais!

Título: Lola;
Diretor: Rainer Werner Fassbinder; 
Roteiro: R.W. Fassbinder, Pea Frohlich e Peter Marthesheimer;
País de Produção: Alemanha;
Ano de Produção: 1981;
Gênero: Drama;
Duração: 115 minutos; 
Música: Peer Raben e Freddy Quinn; 
Fotografia: Xaver Schwarzenberger;
Elenco: Barbara Sukowa (Lola); Armin-Mueller Stahl (Von Bohm); Mario Adorf (Schuckert); Mathias Fucks (Esslin); Karin Baal (Mãe de Lola); Elisabeth Volkmann (Gigi); Hark Bohm (Volker); Christine Kaufmann (Susi).
Prêmios: 
Melhor Atriz para Barbara Sukowa no Festival de Munique (1981). 
Melhor Atriz para Barbara Sukowa no Festival de Cinema Alemão (1982).
Melhor Ator para Armin-Mueller Stahl no Festival de Cinema Alemão (1982). 
 
A excepcional atriz Barbara Sukowa, que também atuou em 'Berlin Alexanderplatz', interpreta Lola, que ajudará a arruinar moralmente ao, até então, incorruptível von Bohm.

Trailer do Filme:


Nenhum comentário: