segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

'Verão Violento' mostra a beleza, a desilusão amorosa e a melancolia da obra de Valerio Zurlini! - Marcos Doniseti!

'Verão Violento' mostra a beleza, a desilusão amorosa e a melancolia da obra de Valerio Zurlini! - Marcos Doniseti!
'Verão Violento' ('Estate Violenta', 1959) é mais um excelente filme do genial cineasta italiano Valerio Zurlini e que, junto com 'La Ragazza com la Valigia' (1961) e 'La Prima Notte di Quiete' (1972) formam uma 'Trilogia dos Amores Impossíveis'.

Este é mais um belo filme de Valerio Zurlini, o poeta da desilusão amorosa (como já o definiram), que filmou o amor frustrado, a tristeza e a melancolia. 

A história se passa em Riccione, distrito de Rimini, em 1943 (em plena Segunda Guerra Mundial e durante uma época em que o regime Fascista de Mussolini estava desmoronando) onde um grupo de jovens amigos burgueses desocupados (e que deram um jeito de escapar do serviço militar) ignora o conflito e só quer saber de festa, praia, namoros rápidos e diversão. 

Um destes jovens é Carlo Caremoli, filho de um poderoso líder fascista local (Ettore), e cuja família ascendeu social e economicamente graças à ditadura de Mussolini, vivendo em uma mansão aristocrática local, mas cujos gostos em arte, mobília, etc, mostram que sempre estiveram muito distante da nobreza italiana, que os despreza. 

Num destes dias em que se encontrava na praia com os seus amigos, ocorre um 'rasante' de um avião alemão, o que deixa a todos assustados, incluindo uma garota de 4 anos (Colomba) que é socorrida por Carlo. Logo depois, chega a mãe da menina, por quem Carlos sente-se imediatamente atraído. Ela é Roberta, de 30 anos, e que é uma jovem, bela e sensual viúva (seu marido foi um militar italiano que morreu na Segunda Guerra Mundial), mas que tem uma vida triste e melancólica ao lado da mãe repressora e da filha na aristocrática mansão da família. 
Cena do avião fazendo uma rasante sobre a praia. A guerra faz com que Carlo e Roberta se conheçam, mas também irá fazer com que eles acabem se afastando. 
A cena do avião é um sinal de que, de alguma maneira, a guerra irá afetar, sim, a vida dos personagens, principalmente de Carlo e Roberta. Esta, é claro, percebe o interesse crescente deste jovem impetuoso, romântico e confiante, que vai até a casa dela para convidá-la a fim de realizarem uma viagem até San Marino. Ela aceita, mas depois fica receosa de se envolver com alguém bem mais jovem e que é de outra classe social. Além disso, sua mãe é controladora ao extremo e faz de tudo para convencer a filha a não se envolver com Carlo, pois isso irá provocar um verdadeiro escândalo.

Assim, uma série de obstáculos vão se colocar no caminho dos dois: o fato dela ser uma viúva, ser mãe de uma criança, de ser integrante de uma família aristocrática, de ser bem mais velha do que Carlo e de possuir  uma mãe repressiva e controladora, além da guerra, é claro. 

Tudo isso faz com que ela hesite em aceitar a aproximação de Carlo, mesmo que, com o tempo, ela vá ficando cada vez mais atraída pelo mesmo. 
No circo, Roberta usa a sua lanterna para iluminar Carlo.
Mas a possibilidade de viver um grande amor, e de colocar um fim à sua vida triste e melancólica, fará com que isso logo mude e, à medida que o relacionamento entre ela e o persistente Carlo vai se estreitando, os sentimentos de ambos vão ficando cada mais fez fortes e intensos. 

A origem social de Carlo, cuja família ascendeu social e economicamente por meio da política (o pai, Ettore, é um poderoso e violento líder fascista da cidade) também é motivo de crítica por parte da mãe aristocrática de Roberta, quando ele vai à casa desta pela primeira vez. 

Todos estes fatores irão se colocar no caminho dos dois e serão obstáculos para o relacionamento entre Carlo e Roberta. Mas, mesmo correndo o risco de que seu envolvimento com Carlo acabe se tornando motivo de escândalo, ela acaba por não resistir e inicia um romance com o jovem apaixonado que, não importa onde esteja (no circo, dançando com outra em uma festa, na praia), só tem olhos para ela. 

Aliás, a forma como se dá essa aproximação, entre Carlo e Roberta, durante o filme é algo que mostra a diferença entre um Mestre do Cinema, como é Zurlini, e um cineasta comum. Ela é gradual, uma espécie de 'dança de sedução', que vai levar os dois a desenvolver uma paixão cada vez mais intensa e a ter um tórrido e intenso romance. 

Neste sentido, duas cenas são emblemáticas: a do circo e a da dança, na mansão de Carlo. No circo, em um determinado momento a luz se apaga (olha a guerra interferindo novamente na vida dos protagonistas) e Roberta usa a sua lanterna para iluminar Carlo, que a olha de forma apaixonada.
No circo, Carlo olha para Roberta, que o ilumina com a sua lanterna.
Uma das mais belas cenas do filme, inclusive, é quando o grupo de amigos (incluindo a bela viúva) vai até a mansão de Carlo para beber e dançar. Carlo dança com Rosanna, que é totalmente apaixonada por ele e que sente um ciúmes imenso de Roberta, mas fica trocando olhares apaixonados com Roberta. E a música que toca neste momento é perfeita: 'Temptation' ('Tentação', que é exatamente o que ambos estão sentindo; quem a canta é Bing Crosby). 

Logo depois, quando Carlo e Roberta dançam e saem para o jardim, eles trocam o seu primeiro beijo, que é visto por Rosanna, que vai embora chorando. 

Obs: Na cena em que os amigos de Carlo vão até a sua mansão, um deles pergunta quem é o autor que pintou o quadro que está na parede. E Carlo diz que o mesmo é Carlo Carrá. Este foi um pintor que foi um dos criadores do Futurismo, movimento artístico criado em 1909/1910. O movimento Futurista apoiou o Fascismo e, tal como o movimento criado por Benito Mussolini, defendia a guerra, a agressividade, o militarismo e o patriotismo. 

Mesmo com todos os fatores contrários (políticos, familiares, sociais, a guerra, etc), Roberta não resiste aos seus sentimentos cada vez mais fortes por Carlo e acaba tendo um romance intenso, ardente e apaixonado com ele, vivenciando algo que ela nunca sentiu antes, nem mesmo pelo seu ex-marido. 

Em função disso, pela primeira vez na vida ela decide enfrentar e desafiar a mãe repressora e as convenções sociais, dizendo que antes sempre fazia o que os outros mandavam, mas que agora isso não iria mais acontecer, falando ainda para a mãe que ama Carlo e que não irá deixá-lo. 

Porém, a guerra irá novamente interferir no destino de ambos e, como é um filme do poeta da melancolia e da desilusão amorosa que estamos assistindo, não teremos um final feliz à 'la Hollywood'. 
No circo, Roberta olha para Carlo. 
A se destacar no filme, temos as belas atuações dos protagonistas, a trilha sonora e a iluminação. Esta, em especial, é uma espécie de 'personagem' do filme, representando os vários momentos de paixão, tensão, angústia, tristeza e melancolia vividos pelos personagens. E a fotografia é belíssima, como sempre acontece nos filmes de Zurlini, que era apaixonado por pintura. 

Este é mais um brilhante filme deste verdadeiro Mestre do Cinema e que merece ser visto, sem dúvida alguma. 

Infelizmente, a importância da obra de Valerio Zurlini somente foi reconhecida após a sua morte, em 1982, aos 56 anos idade. 

Recentemente os seus filmes foram restaurados e lançados em DVD, inclusive no Brasil (pela Versátil). 
Mesmo com todos os obstáculos existentes, Roberta e Carlo vivem um romance intenso em meio à guerra, pressões familiares, convenções sociais, valores tradicionais.
Informações Adicionais!

Título: 'Estate Violenta' (Verão Violento);
Diretor: Valerio Zurlini;
País de Produção: Itália;
Ano de Produção: 1959;
Duração: 98 minutos;
Gênero: Drama Romântico;
Música: Mario Nascimbene;
Fotografia: Tino Santoni;
Elenco: Eleonora Rossi Drago (Roberta Parmesan), Jean-Louis Trintignant (Carlo Caremoli), Lilla Brignone (mãe de Roberta), Federica Ranchi (Maddalena), Jacqueline Sassard (Rosanna), Enrico Maria Salerno (Ettore Caremoli, pai de Carlo).
Prêmios: Melhor Atriz para Eleonora Rossi Drago do Sindicato Nacional de Críticos da Itália (1960) e no Festival de Cinema de Mar del Plata (1960). 

Trailer do Filme:

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