quarta-feira, 14 de novembro de 2018

'Campane a Martello': Luigi Zampa faz homenagem às mulheres italianas e defende o predomínio do interesse coletivo sobre o individual! - Marcos Doniseti!

'Campane a Martello': Luigi Zampa faz homenagem às mulheres italianas e defende o predomínio do interesse coletivo sobre o individual! - Marcos Doniseti!
Luigi Zampa mostra o quanto as mulheres italianas sofreram com as consequências da Segunda Guerra Mundial, durante a qual muitas delas foram forçadas a se prostituir para poder sobreviver, devido à destruição e a miséria provocada pelo envolvimento da Itália no conflito. 
Contexto histórico!

Este é um belo e sensível filme de Luigi Zampa, que foi um dos principais diretores italianos ligados ao Neo-Realismo cinematográfico italiano, embora ele não desfrute da mesma fama de outros cineastas consagrados, como são os casos de Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti, que constituem, de certa maneira, a 'Santíssima Trindade' do Neo-Realismo. 

O roteiro do filme de Zampa é de autoria de Piero Tellini, que também escreveu roteiros para alguns importantes filmes Neo-Realistas, incluindo 'Il Bandito' e 'Il Delitto di Giovanni Episcopo' (que foram dirigidos por Alberto Lattuada) e 'Vivere in Pace' e 'Angelina, a Honorável', sendo que estes dois últimos foram dirigidos pelo mesmo Luigi Zampa.

A trama de 'Campane a Martello' (Toquem os Sinos) se desenvolve após o final da Segunda Guerra Mundial, quando os soldados dos EUA que foram lutar na Itália estão retornando ao seu país, depois de lutarem durante 21 meses, entre Julho de 1943 e Abril de 1945, em território italiano contra as forças do Nazi-Fascismo.

A Itália desta época é uma país muito pobre, com um povo que passa fome e vive na miséria, o que é resultado do fracasso econômico do regime Fascista e das derrotas humilhantes sofridas na guerra, durante a qual o território e o povo italianos sofreram intensos bombardeios e foram palco e vítimas de violentos combates. 
Mulheres italianas se despedem dos soldados dos EUA no porto de Livorno. Muitas delas se prostituíram e engravidaram durante a guerra. 

E o que vemos é um país devastado, com muitas cidades em ruínas, a área rural destruída (os camponeses foram vítimas das 'requisições' de alimentos feitas pelo soldados), milhares de mulheres italianas foram estupradas (inclusive por soldados das Forças Aliadas), havia muitos desempregados, crianças abandonadas, fome, miséria, elevada criminalidade e prostituição em grande escala. 


No início do filme, vemos o porto da cidade de Livorno sendo recuperado, com muitos barris no local, pois a região produz vinho e o mesmo é exportado, o que mostra um início de recuperação da economia italiana, mas que ainda está longe de beneficiar à população. Mas enquanto o navio italiano ancorado no porto está em ruínas, o navio dos EUA que levam os soldados ianques de volta para a sua terra natal é 'novo em folha'.

De fato, a recuperação econômica e a reconstrução da Itália, mesmo, ainda irá demorar alguns anos para que pudesse ser concluída, o que irá acontecer por volta de 1953/1954, cinco anos após a produção de 'Campane a Martello', graças aos recursos enviados pelos EUA por meio do Plano Marshall. 

A trama do filme!

A protagonista da história é uma bonita jovem (Agostina Bortoloci), que é interpretada pela bela Gina Lollobrigida (ainda em início de carreira; este foi o seu terceiro filme), originária da cidade de Isola d'Ischia (que é uma ilha localizada na província de Nápoles, no sul da Itália). 
Jornal italiano 'Il Tempo' anuncia o retorno dos soldados dos EUA para a sua terra natal, logo após a derrota do Nazi-Fascismo na Europa. 

Antes da Segunda Guerra Mundial começar a bela Agostina era uma empregada doméstica, mas que durante o conflito viveu em Livorno (localizada na região da Toscana, norte da Itália, próxima a Florença), período durante o qual ela praticou a mais 'antiga das profissões': a prostituição. Seus principais clientes (bem como de muitas outras mulheres italianas daquela época) foram os soldados dos EUA que lutaram no país.


Aliás, logo no início do filme vemos a notícia nos jornais do retorno destes soldados para o seu país natal e as mulheres italianas, com as quais eles se relacionaram durante a sua estadia na terra de Leonardo da Vinci, foram ao porto se despedir dos mesmos. 

Estes soldados ianques eram bem abastecidos de dólares e produtos que eram desejados pelos italianos (alimentos e cigarros, por exemplo, que foram usados como se fosse dinheiro na Europa dominada pelos Aliados) e tinham um elevado poder de compra na empobrecida e miserável Itália da época da Segunda Guerra Mundial (1940-1945), conflito no qual as Forças Armadas italianas sofreram sucessivas e humilhantes derrotas. 

Assim, não saía caro para os militares ianques o envolvimento com mulheres italianas para as quais a prostituição acabou sendo a única alternativa para sobreviver em meio ao caso e à miséria gerada pela Guerra em que Mussolini jogou o país, em Junho de 1940. 
Agostina e outras prostitutas foram expulsas de Livorno e são obrigadas a retornar para as suas cidades de origem. 

Em uma carta que escreveu para a sua esposa, durante a invasão da Sicília, em Julho de 1943, o general George S. Patton, que comandou as tropas dos EUA na invasão da ilha, disse que com uma lata de feijão já era possível convencer uma mulher da ilha a se prostituir, tal a miséria que existia ali. E no seu diário, Patton escreveu o seguinte: "A gente deste país é a mais carente e esquecida por Deus que já vi". 


Obs1: As afirmações feitas por Patton, em sua carta e no seu diário, foram retiradas do livro 'A Segunda Guerra Mundial', de Antony Beevor (página 555). 

As humilhantes derrotas sofridas pelas Forças Armadas italianas acabaram por mostrar ao povo italiano o quanto o regime de Mussolini era frágil e havia se imposto com base em mentiras descaradas, como a de que iria fazer da Itália um novo Império Romano, transformando-a numa potência mundial que seria respeitada e temida por outras nações. 

As derrotas fragorosas sofridas pela Itália na Guerra (no Norte da África, na Grécia) deixaram claro para o povo italiano o quanto ele havia sido enganado e iludido pelo regime Fascista.  

No caso da trama do filme vimos que após o final da guerra o governo decidiu expulsar, para as suas cidades de origem, todas as prostitutas que não eram originárias da região em que estavam, sendo que Agostina foi uma delas. Ela tentou convencer o funcionário dos Carabinieiri (a Polícia italiana) a não fazer isso, mas ele se manteve inflexível, e ela ficou sem opção, a não ser retornar para a sua cidade natal, na ilha de Ischia. 
Loretta (interpretada por Yvonne Sanson, atriz grega que fez carreira na Itália) e Agostina chegam a Ischia, para onde vão em busca do dinheiro que esta última enviou para que o pároco Don Giuseppe guardasse. O que ela não sabe é que Don Andrea, o novo padre, gastou todo o seu dinheiro na montagem de um orfanato para 20 crianças. 

Agostina volta para Ischia junto com outra amiga de profissão (Australia) que fica sabendo que a amiga fez uma boa poupança durante todos aqueles anos, mas que não depositou o dinheiro em um banco. Agostina mandou todo o dinheiro para um padre de Ischia (Don Giuseppe), pedindo que o mesmo guardasse o dinheiro que havia enviado (eram quase 1.500.000 Liras).


Em função disso, quando chega em Ischia, os moradores da cidade pensam que Agostina é uma mulher rica, de uma família abastada e respeitável, sendo tratada como tal pelos habitantes locais quando chegou à cidade. 

Porém, ao desembarcar em Ischia e procurar pelo padre (Don Giuseppe) a quem tinha enviado todo o dinheiro que havia acumulado, Agostina ficou sabendo que ele havia morrido (com 92 anos) e que o novo pároco (Don Andrea) havia gasto tudo para construir um orfanato no qual abrigou 20 crianças e cujas mães eram mulheres que haviam sido engravidadas por soldados aliados durante a Guerra, mas que foram abandonadas pelas mães, que não tinham condições de criar as crianças. 

Desta maneira, Agostina fica totalmente desapontada, pois ela e a sua melhor amiga (Loretta/Australia) planejavam usar o dinheiro acumulado para abrir uma loja, o que lhes permitiria abandonar a prostituição, transformando-se em comerciantes respeitáveis na Itália do Pós-Guerra. 
Agostina e Loretta olham para as crianças do orfanato e estranham o motivo delas serem tão admiradas pelas mesmas. 

Mas como o padre, Don Andrea, usara o dinheiro para construir o orfanato, os planos das duas foram por água abaixo, sendo que durante boa parte do filme vemos várias situações em que elas demonstram, claramente, a sua frustração pelo que havia acontecido. Inicialmente, elas chegam a querer manter distância das crianças que chamam Agostina de 'Mamãe' e somente no final é que elas vão se dar conta da importância do orfanato para aquelas crianças abandonadas. 


E os moradores de Ischia, incluindo os seus habitantes de maior prestígio (prefeito, comandante da Polícia, empresários locais), não cansam de bajular Agostina, pensando que ela era uma mulher muito rica e pensando que poderiam arrancar mais dinheiro dela para seus projetos. 

E o ex-noivo de Agostina, um soldado chamado Marco, acaba retornando para Ischia para se encontrar com a mesma. Marco diz que deseja ir para Nápoles e se casar com ela, mas Agostina fala que não o merece, pelo seu passado, a respeito do qual ela não comenta absolutamente nada, escondendo que viveu como prostituta durante quatro anos (1941-1945). Marco insiste e diz que irá esperar por ela, em Nápoles, sendo que Agostina, depois de pensar em voltar a viver da prostituição, acaba concordando.

No entanto, em um determinado momento, Agostina terá uma conversado reveladora com Don Andrea, na qual este demonstra que sabia, sim, que o dinheiro que ele usara para construir o orfanato não era da Igreja, mas dela, Agostina. Mas ele pensara que Agostina era rica e que tal dinheiro não iria lhe fazer falta alguma. 

Porém, o choque maior que Don Andrea sofre é descobrir como Agostina havia acumulado tais recursos, fazendo com que o padre fique doente. E depois ele irá tentar ressarcir Agostina e, para isso, tenta convencer o prefeito da cidade a lhe dar o dinheiro necessário para poder pagar a ex-prostituta. 

E com o objetivo de pressionar o governante local, Don Andrea manda tocar os sinos da Igreja (daí o nome do filme...), reúne o povo em frente ao local e fala para todos os moradores de Ischia que sem o dinheiro da prefeitura ele não terá como manter o orfanato em funcionamento. E para deixar isso bem claro, Don Andrea fecha o orfanato, colocando as crianças na escadaria da Igreja, local em que elas ficam durante uma noite inteira. 
As crianças do orfanato olham para a 'Mama Agostina' pela primeira vez. As crianças eram filhas de mães italianas e de soldados de vários países (EUA, Inglaterra, Alemanha, Filipinas...). Don Andrea faz uma brincadeira, dizendo que os soldados não 'negaram fogo' quando se relacionaram com as mulheres italianas...

Tal atitude, no entanto, é atacada pelo prefeito e pelos poderosos locais, que pouco se importam com a situação das crianças e pensam apenas em seus próprios interesses.


Isso acontece porque o prefeito da cidade está reservando o dinheiro do governo para a construção de um monumento (ao custo de 700 mil liras) que é considerado prioritário por ele, mas que não irá beneficiar a população em absolutamente nada.Toda esta situação acaba deixando a população da cidade indignada e o prefeito, fortemente pressionado pelos moradores, mesmo que a contragosto, acaba cedendo e doa os recursos necessários (700 mil Liras) para manter o orfanato em funcionamento. 

Mas a revolta popular fica ainda mais intensa quando as pessoas descobrem que Don Andrea tinha escondido de todos que ele irá, de fato, usar o dinheiro da prefeitura para ressarcir Agostina. Com isso, a população se volta contra Agostina e Don Andrea. 

No final, apesar de Loretta falar que poderão retomar o dinheiro, ameaçando até processar Don Andrea, Agostina acaba desistindo da ideia de recuperar o seu dinheiro, pois ela percebe que ajudar aquelas vinte crianças é mais importante do que abrir a sua loja e enriquecer, e decide ir embora, para Nápoles, onde continuará a sua luta em busca de uma vida digna, junto com Marco. 

Enquanto isso, Don Andrea acaba falecendo, devido aos problemas de saúde que são resultado do tempo em que ficou preso em um campo de concentração na Alemanha. O comandante da Polícia recusa-se a ficar com as 700 mil Liras e os demais líderes da cidade (prefeito, empresários) acabam fazendo a mesma coisa. Assim, a Igreja fica com o dinheiro e pode manter as crianças no orfanato. 
Don Andrea fala para Agostina e Loretta a respeito dos gastos que tiveram para construir o orfanato para as 20 crianças. Ele gastou todo o dinheiro que ela enviou para o padre anterior, Don Giuseppe, já falecido. Merece destaque a brilhante atuação de Eduardo De Filippo no papel de Don Andrea. 

Tema do filme: Interesse Individual X Interesse Coletivo!


Desta maneira, vemos que os principais assuntos deste belo filme de Luigi Zampa são a condenação do egoísmo e do individualismo, bem como a possibilidade de redenção dos italianos por meio do predomínio do interesse coletivo sobre o individual na tarefa de construir a Itália do Pós-Guerra. 

O egoísmo, inicialmente, é de Agostina e de Australia, que ficam inconsoláveis com o fato do dinheiro da primeira ter sido usado para construir o orfanato, mostrando pouca preocupação com o destino daquelas vinte crianças abandonadas que foram beneficiadas pela obra. 

E depois vemos o egoísmo do padre (Don Andrea), que usou o dinheiro de Agostina, mesmo sabendo que o mesmo não pertencia à Igreja, para construir o orfanato. Ele não se preocupou com o fato de que ela estava sendo  fortemente prejudicada, para não dizer roubada, mesmo. 

O prefeito também também deixa claro que também possui essa mesma postura individualista, pois pensa apenas em fazer uma obra que irá beneficiá-lo politicamente, demonstrando também seu desprezo pela situação da crianças do orfanato. 

E também fica claro o egoísmo da população local que, inicialmente, defendia o uso do dinheiro da prefeitura para manter o orfanato funcionando (mas que usa seu próprio dinheiro para ir ao cinema) e que mudou de ideia quando as pessoas ficaram sabendo que Don Andrea iria ressarcir Agostina, pouco se importando com o fato de que o dinheiro dela foi usado, sem a sua autorização, para a construção do orfanato.
Um rico empresário faz um discurso elogiando a capacidade de iniciativa individual, o espírito empreendedor, que permitiu que Agostina (uma prostituta) fosse embora da cidade e acumulasse riqueza. Já o trabalhador diz que ela é uma legítima representante da classe operária. E o prefeito diz que ela foi bem sucedida devido à sua espiritualidade, procurando agradar aos fiéis da cidade. Somente no final é que eles irão descobrir qual foi a maneira pela qual ela acumulou tanto dinheiro. 

E a maneira como Zampa conclui o seu filme, que possui um tom levemente satírico que aponta para o fato de que a reconstrução da Itália no Pós-Guerra, depois de muitos anos de crise econômica (Grande Depressão dos anos 1930), guerra e miséria, iria exigir uma postura diferente por parte dos italianos, que teriam de abrir mão daquilo que é totalmente supérfluo (exemplo: a prefeitura construir uma obra apenas para fortalecer politicamente os governantes).


No lugar dessas obras inúteis, os Zampa deixa claro que os italianos deveriam passar a investir naquilo que fosse prioritário para melhorar as condições de vida da população, como seria a construção de orfanatos, creches e escolas para dar abrigo e oportunidades de estudo a milhares de crianças abandonadas, que existiam em grande número na Itália, Alemanha e em toda a Europa ao final da Segunda Guerra Mundial.

E a sequência final mostra Agostina se emocionando com a homenagem sincera que as crianças do orfanato lhe fizeram. Assim, ela percebe que fez a escolha certa ao abrir mão do dinheiro, permitindo que o orfanato pudesse continuar funcionando. E até os adultos da cidade (prefeito, comandante da Polícia) terminam por homenageá-la no momento em que ela embarca para Nápoles.  

Logo, neste ótimo filme dirigido por Zampa e roteirizado por Tellini, fica clara a condenação do individualismo burguês e da ganância pessoal (ou seja, do que chamamos atualmente de Capitalismo Neoliberal) e a defesa do predomínio dos interesses coletivos, defendendo a ideia de que deve-se dar total prioridade para a necessidade de se resolver os principais problemas sociais e econômicos que a Itália possuía naquele momento e que já enumerei aqui. 

Obs2: O tom de sátira que está presente em alguns momentos deste filme de Luigi Zampa foi novamente utilizado em outro excelente filme que foi dirigido por ele, que foi o 'Gli Anni Rugenti' (1962), que ridiculariza o Fascismo do início ao fim. Este filme também já foi analisado por mim aqui no blog. De certa maneira, Zampa foi um dos diretores que antecipou o imenso sucesso, de alcance mundial, das comédias italianas dos anos 1950, 1960 e 1970. Os geniais diretores Pietro Germi, Dino Risi, Mario Monicelli e Ettore Scola foram alguns dos principais nomes. 
O padre de Ischia (Don Andrea) convoca o povo e avisa que terá que fechar o orfanato por falta de recursos e cobra que o Prefeito ceda as 700 mil Liras, que estão destinados para construir o 'monumento à vitória', para o orfanato em vez de construir um monumento inútil. 

Luigi Zampa, o Neo-Realismo e a redenção do povo italiano no Pós-Guerra!


Esta visão, essencialmente socialista, que é defendida por Luigi Zampa e Piero Tellini em 'Campane a Martello', pode não ser do agrado de muitos (principalmente dos neoliberais), mas é perfeitamente coerente com as ideias que eram defendidas pelos cineastas e roteiristas ligados ao Neo-Realismo italiano, que mostraram, corajosamente, quais eram os principais problemas que afligiam o povo italiano naquele momento e que a solução para os mesmos estava na construção de uma sociedade justa e igualitária. 

Somente assim é que o povo italiano poderia se redimir dos vinte anos em que o país foi dominado pelo regime Fascista liderado por Mussolini. Aliás, este subiu ao poder em Outubro de 1922 e foi derrubado em Julho de 1943. Logo, Mussollini governou a Itália por 20 anos e 9 meses. E quantas crianças temos no orfanato? Vinte. É como se para cada ano de domínio fascista, tivéssemos uma criança abandonada. 

Logo, cada uma destas crianças órfãs representa um ano de governo fascista e cuidar delas, no Pós-Guerra, simboliza a redenção não apenas de Agostina (que abriu mão de receber o dinheiro de volta), mas de todo o povo italiano, que deu um apoio significativo ao governo de Mussolini durante muitos anos e que, portanto, ajudou a colocar a Itália na catastrófica situação em que a mesma se encontrava após o final da Segunda Guerra Mundial. 

Aliás, o próprio Zampa já havia tratado, de forma corajosa, desse assunto em seu filme imediatamente anterior, que foi 'Anni Difficili', que foi produzido em 1948, um ano antes de 'Campane a Martello'. 
As 20 crianças (uma para cada ano de governo Fascista liderado por Mussolini) passam a noite na escadaria da Igreja.

Portanto, a obra de Zampa é coerente com a sua visão de mundo e 'Campane a Martello' é um belo exemplar da mesma. E também vimos, neste filme, algumas das principais características do Neo-Realismo, tais como: 


A) O uso de atores não-profissionais (moradores de Ischia atuaram no filme); 
B) A filmagem em locações naturais;
C) Mostrar na tela do cinema aspectos importantes da realidade econômica e social da Itália da época, caso da prostituição e das crianças abandonadas;
D) A pobreza da região e do povo, bem como as desigualdades sociais, aparecem com destaque no filme;
E) A crítica aos valores individualistas e egoístas da burguesia.  

Entre as novidades, temos a presença de duas belas atrizes protagonizando o filme (Yvone Sanson e Gina Lollobrigida), o que também será feito por outros cineastas Neo-Realistas (o que foi o caso de Giuseppe De Santis, com Silvana Mangano em 'Riso Amaro', que já analisei aqui no blog).  

Obs3: A respeito do tema das crianças abandonadas e menores infratores na Europa do Pós-Guerra, temos outros ótimos filmes Neo-Realistas que trataram do assunto, tais como: Sciuscià (Vítimas da Tormenta, de Vittorio De Sica, de 1946), 'Alemanha Ano Zero' (de Roberto Rossellini, de 1948) e 'Proibito Rubare' (Luigi Comencini, de 1948). Os dois primeiros filmes já foram analisado por mim aqui no blog. 


As crianças do orfanato vão se despedir da 'Mama Agostina', que desistiu de recuperar o dinheiro que Don Andrea usou para criar o orfanato, deixando as 700 mil Liras para a Igreja manter o orfanato funcionando. 

Informações Adicionais!

Título: Campane a Martello (Toquem os Sinos);
Direitor: Luigi Zampa;
Roteiro: Piero Tellini;
Ano de Produção: 1949; País de Produção: Itália;
Duração: 85 minutos; Gênero: Drama;
Música: Nino Rota; Fotografia: Carlo Montuori;
Assistentes de Direção: Mauro Bolognini; Giuseppe Colizzi;
Elenco: Gina Lollobrigida (Agostina Bortoloci); Yvonne Sanson (Loretta/Australia); Carlo Romano (O Marechal); Clelia Matania (Bianca); Eduardo De Filippo (Don Andrea); Carlo Giustini (Marco); Ada Colangeli (Francesca), Carlo Pisacane (Filippo, o sacristão), Agostino Salvietti (Prefeito); Salvatore Arcidiacono (Farmacêutico); Vittoria Febbi (Connie). 

Links:

Informações sobre 'Campane a Martello':

https://www.imdb.com/title/tt0042303/?ref_=nv_sr_2

Texto sobre o filme 'Sciucià' (Vítimas da Tormenta), de Vittorio De Sica:

http://popeseries.blogspot.com/2017/03/sciuscia-vitimas-da-tormenta-mostra-as.html
Agostina fica emocionada e chora com as homenagens que recebe quando vai embora para Nápoles. 
Texto sobre o filme 'Alemanha Ano Zero', de Roberto Rossellini:

http://popeseries.blogspot.com/2018/08/alemanha-ano-zero-rossellini-mostra.html

Texto sobre o filme 'Gli Anni Ruggenti':

http://popeseries.blogspot.com/2017/05/gli-anni-ruggenti-luigi-zampa-fez.html

Texto sobre o filme 'Riso Amaro' (Arroz Amargo):

http://popeseries.blogspot.com/2017/03/riso-amaro-arroz-amargo-um-classico-do.html

Trecho do Filme:

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