A saga do detetive Lew Archer, de Ross Macdonald - por Renato Pompeu, do Diário do Comércio
Ross Macdonald: Um dos melhores escritors do romance policial. |
Archer se transformou em Lew Harper no filme Harper, com Paul Newman, pois o ator achava que nomes começados com a letra H davam sorte, e foi Lew Millar em uma série de televisão, além de propriamente Lew Archer em outras séries.
O nome Lew Archer é uma dupla homenagem a escritores que Macdonald
apreciava: o Lew vem de Lew Wallace, criador do célebre personagem
corredor de biga no antigo Império Romano, Ben-Hur. E o Archer lembra
Miles Archer, sócio do detetive particular Sam Spade, este o principal
personagem do famoso romance O Falcão Maltês, do escritor Dashiell
Hammett.
Como o próprio Macdonald, Archer é rebento de uma família californiana
disfuncional, desfeita pelo abandono do pai e marido. No caso do
detetive, isso o transforma num adolescente perturbado, que se torna um
pequeno delinquente, mas é regenerado pela influência de um policial
veterano.
O próprio Archer se torna policial, em Long Beach, na Califórnia, mas se revolta com tanta corrupção que testemunha entre seus colegas e acaba sendo demitido. Na Segunda Guerra Mundial, serve como agente de contraespionagem do Exército dos Estados Unidos.
O próprio Archer se torna policial, em Long Beach, na Califórnia, mas se revolta com tanta corrupção que testemunha entre seus colegas e acaba sendo demitido. Na Segunda Guerra Mundial, serve como agente de contraespionagem do Exército dos Estados Unidos.
Tornado detetive particular, Archer atua nos chamados subúrbios em
expansão então, nos anos 1950, no Sul da Califórnia, equivalentes aos
chamados condomínios no Brasil, ou a bairros como Alphaville.
Em termos de ficção policial, o criador Ross Macdonald e a criatura Lew Archer se inserem na longa transição efetuada a partir da primeira tradição do gênero, baseada no raciocínio lógico, dedutivo e indutivo, em que cérebros geniais como Sherlock Holmes, de Conan Doyle, e Hercule Poirot e Miss Marple, de Agatha Christie, deslindam tramas a partir de pistas, a tradição de textos literários policiais intelectualizados tipicamente ingleses, para a segunda tradição do gênero.
Em termos de ficção policial, o criador Ross Macdonald e a criatura Lew Archer se inserem na longa transição efetuada a partir da primeira tradição do gênero, baseada no raciocínio lógico, dedutivo e indutivo, em que cérebros geniais como Sherlock Holmes, de Conan Doyle, e Hercule Poirot e Miss Marple, de Agatha Christie, deslindam tramas a partir de pistas, a tradição de textos literários policiais intelectualizados tipicamente ingleses, para a segunda tradição do gênero.
Nesta segunda tradição, com o gênero policial tornado tipicamente
americano, o essencial são as ações físicas dos detetives durante suas
investigações, particularmente procurando indivíduos desaparecidos ou
objetos preciosos sumidos, muitas vezes envolvidos em lutas corporais
violentas e em tiroteios.
Tudo isso, porém, é finamente temperado por análises psicológicas mais ou menos profundas. Essa tradição foi iniciada por Dashiell Hammett e desenvolvida pelo famoso autor Raymond Chandler, em especial em seu personagem Philip Marlowe, que foi a primeira inspiração de Ross Macdonald.
Tudo isso, porém, é finamente temperado por análises psicológicas mais ou menos profundas. Essa tradição foi iniciada por Dashiell Hammett e desenvolvida pelo famoso autor Raymond Chandler, em especial em seu personagem Philip Marlowe, que foi a primeira inspiração de Ross Macdonald.
Mas Lew Archer representa o ponto culminante dessa segunda corrente da
literatura policial. Particularmente ele se caracteriza por se envolver
em problemas das famílias que o procuram, normalmente para tentar
localizar um filho ou uma filha que desapareceu e que talvez tenha
morrido , possivelmente por assassínio. Archer muitas vezes descobre
segredos de família que a grande maioria dos seus membros sequer sabia que existiam.
Como o próprio Archer, e como o próprio autor Macdonald, muitas vezes
ele se depara, entre seus clientes, com famílias desajustadas pelo
abandono de um cônjuge.
Depois de Lew Archer, a literatura policial americana passaria dessa
fase "realista e psicológica", para uma fase "naturalista e brutal", que
se especializaria em descrição nua e crua de cenas sanguinolentas ou de
cadáveres muito machucados, como nos livros de Michaell Spillane.
Em seguida viria a fase atual, mais visível nas séries de televisão, em que os antigos detetives particulares são substituídos pelas forças regulares da polícia, dando-se ênfase ao desenvolvimento tecnológico de seus laboratórios científicos e periciais tão avançados, e aos conflitos emocionais de investigadores, vítimas, assassinos e pessoas em volta.
Em seguida viria a fase atual, mais visível nas séries de televisão, em que os antigos detetives particulares são substituídos pelas forças regulares da polícia, dando-se ênfase ao desenvolvimento tecnológico de seus laboratórios científicos e periciais tão avançados, e aos conflitos emocionais de investigadores, vítimas, assassinos e pessoas em volta.
Assim, se há pessoas nostálgicas da antiga fase intelectualizada da
literatura policial, em que o principal é o raciocínio, há também
pessoas que sentem saudades de detetives como Lew Archer, um homem de
olhos azuis, triste, beberrão, sempre com saudades de sua ex-mulher Sue,
e que bate perna em busca de pistas e de pessoas desaparecidas, que se
envolve com os dramas sentimentais e familiares de seus clientes e do
círculo de pessoas que os rodeia.
Para esses leitores, Os Arquivos de Archer são um prato cheio.
Para esses leitores, Os Arquivos de Archer são um prato cheio.
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