O Filme “Noir” - por Emerson F.C. Paubel
Scarlet Street |
O filme noir (lê-se nuá)
é um dos gêneros cinematográficos “de época” mais admirados e populares do
final do século vinte, apesar de o termo noir ser desconhecido à época
na qual os filmes foram produzidos.
Basicamente, ele significa “filme
escuro” – uma variação do termo francês do século 19 “novela escura”
– referindo-se a qualquer número de dramas policiais carregados
psicologicamente dos anos 1940-50.
Na
época em que foram feitos, os filmes eram relacionados simplesmente a gângsteres
ou mistérios, sem qualidades aparentes separando-os de outras produções.
Os
críticos franceses originalmente usaram a designação film noir para
definir filmes dos anos 1930, tais como La Chienne (Jean Renoir) – mais
tarde refeito em Hollywood por Fritz Lang sob o nome de Scarlet Street;
porém, ele se aplicava igualmente bem a uma particular gama de filmes
americanos e foi aceito pela crítica nos EUA a partir do final dos anos 50 para
definir um tipo de gênero – especificamente um sub-gênero do filme policial.
Hoje, há verdadeiros festivais de filmes noir na programação dos
cinemas e redes de TV, uma grande ironia para um gênero que foi definido com um
termo que os produtores e críticos da época provavelmente não teriam
compreendido.
O desenvolvimento do filme noir foi gradual,
chegando algum tempo após o ciclo de filmes clássicos de gângsteres em
Hollywood.
Os filmes policiais dos anos 1920-30 tinham seu lado psicológico –
por exemplo, The Last Mile, Sabotage e The Petrified Forest
– nos quais a motivação dos criminosos era tão fascinante quanto seus
crimes.
Mesmo The Roaring Twenties, com James Cagney, no final do ciclo
de filmes de gângsteres da Warner Bros, apresentou um anti-herói cuja
psicologia o levou a aceitar a morte – após sobreviver à Primeira Guerra
Mundial, aos primeiros conflitos entre gângsteres e ao fim da “Proibição”
(período no qual o governo americano proibiu a comercialização de bebidas
alcoólicas).
Alguns outros poucos filmes, em especial M (Fritz Lang),
estrelando o então jovem Peter Lorre, focava mais na psicologia da mente
criminosa do que na história da caçada do criminoso de uma criança.
Contudo,
estes trabalhos relativamente sofisticados foram exceção mais do que regra e a
maioria dos filmes policiais dos anos 30 foram, na melhor das hipóteses,
tiroteios bem feitos amarrados a material policial extravagante.
The Big Sleep |
O filme noir como gênero definido começou no
início dos anos 40, com filmes que lidavam com o lado sinistro de uma
psicologia idêntica entre perseguidores e criminosos, a ponto de em The Big
Sleep (1946), de Howard Hawks, a seqüência de crimes que suportam a trama
ser difícil de discernir.
Por outro lado, o primeiro filme genuinamente noir,
segundo muitos críticos, foi I Wake up Screaming, de H. Bruce
Humberstone, baseado numa novela de Steve Fisher e estrelando Victor Mature,
Betty Grable e Laird Cregar.
O título pode dar calafrios na espinha, mas os
elementos verdadeiramente noir residem no sadismo pesado do personagem de
Cregar, um policial obsessivo e homicida que atormenta os dois suspeitos
(Mature, Grable) pelo assassinato de uma atriz.
O filme conta a história do
crime e da investigação, mas sua verdadeira força está na habilidade em
fazer com que o espectador se sinta tão ameaçado quanto os dois suspeitos –
eles se encontram encurralados numa intricada teia legal e psicológica tecida
pelo policial.
O espectador sente cada choque, à medida que os fios da teia são
puxados bruscamente e tensionados fortemente, assim como os próprios
personagens. Torna-se claro após alguns minutos de filme que estamos na presença
de algo perigoso e doentio; mesmo nos dias de hoje, assistir a esse filme é uma
experiência indescritível.
Apesar de ninguém tentar rivalizar conscientemente
com I Wake Up Screaming, ele foi padronizado filme noir padrão – a selva de pedra habitada por personagens que
parecem perdidos ou feridos psicologicamente e cercados por armadilhas que são
mais imaginárias do que reais, com a lei e a justiça sempre excedendo seus
limites no sentido de destruí-los. I Wake Up Screaming acrescenta o
elemento necessário para representar a lei como uma força sinistra e ardilosa
simbolizando a injustiça.
The Maltese Falcon (1941), de John Huston, é
também freqüentemente citado como um dos pioneiros do filme noir, mas
sua psicologia é mais fraca que a do filme de Humberstone.
Sam Spade,
personagem vivido por Humphrey Bogart, entretanto se movimenta por um mundo
reconhecidamente noir, repleto de homens e mulheres obsessivos com
temperamento homicida, policiais cuja dedicação beira ao sadismo, mulheres
cuja sexualidade é pessimamente controlada – e utilizada conscientemente para
fins de destruição – e, no centro de tudo, um herói que luta constantemente
contra seus piores impulsos.
Um outro filme do mesmo período que parece definir
o nascimento do gênero foi This Gun for Hire (1941), de Frank Tuttle,
baseado em “A Gun for Sale”, de Graham Greene, e estrelando Alan
Ladd, Veronica Lake e o onipresente Laird Cregar.
A estória de um matador de
aluguel era fora do convencional para os padrões de Hollywood, mas Ladd trouxe
tanta humanidade e desespero para seu personagem que as platéias acharam
irresistível – e essa mistura de psicose e honradez tornou-o o mais
extraordinário anti-herói de Hollywood, contrastando bem com o personagem patético
e caprichoso de Laird Cregar e o empresário traidor de Tully Marshall. As
origens do filme noir durante esta época, tendo como fundo o início da
Segunda Guerra Mundial, não foram uma mera coincidência.
A chegada da Guerra à Europa degradou o humor do povo
americano tal como a Grande Depressão, em todos exceto nos piores dias, não
tinha feito. Os EUA sobreviveram à Depressão, mas subitamente o mundo parecia
estar se tornando mais ameaçador do que tinha sido durante aqueles dias
agitados – os líderes da Alemanha democraticamente eleitos planejavam
conquistar a Europa e o extermínio de milhões, e os outros líderes comparáveis
na cena internacional eram os ditadores da URSS e Japão; Inglaterra e França
estavam paralisados; e os EUA, cuja participação prévia na política
internacional durante a Primeira Guerra Mundial terminou em desastre para o
Presidente e o Congresso, estavam incapazes de agir.
Para tornar pior as coisas,
havia o fato do início da Segunda Guerra coincidir com o fim dos últimos vestígios
do desemprego da Grande Depressão. O filme noir foi uma reação ao
mundo que se desenhava em 1941. Na época, os filmes estavam mais preparados
para um novo tipo de herói e um novo leque de personagens. A imposição do Código
de Produção (Production Code), censurando o conteúdo dos filmes a partir de
1933, teve o efeito de limpar e clarificar as superfícies externas dos
personagens e das tramas, mais do que seus autores, atores e diretores poderiam
ter gostado.
Atores como James Cagney, Humphrey Bogart e mesmo John Wayne (dê
uma olhada em sua representação como Ringo Kid em Stagecoach) tinham
trabalhado para trazer algum lado obscuro para sua representação, mas somente
de uma maneira muito limitada. Geralmente, os filmes se tornaram menos abrangentes após oito anos de
censura auto-imposta.
Quando o
filme noir apareceu durante o início dos anos 40, mostrando lados do
comportamento humano anteriormente ignorados, o público respondeu mais
entusiasticamente. A Guerra também ajudou em outro aspecto – muitos
dos trabalhos que se seguiram não teriam passado pelos censores nos anos 30,
mas após a entrada da América na guerra, os padrões se perderam à medida que
a indústria cinematográfica reconheceu que o mundo era um lugar mais violento
e perigoso. E uma nova geração de escritores chegou em Hollywood para se
aproveitar disso.
O trabalho do autor Cornell Woolrich, em particular, serviu
como ponto de referência para estes dramas psicológicos obscuros.
Uma pessoa
profundamente atormentada, porém um escritor talentoso que sofria de depressão
crônica e uma obsessão por sua própria mãe e que era homossexual, Woolrich
foi um dos mais populares escritores de ficção policial no início dos anos
40; seu trabalho foi extensamente publicado em revistas assim como em novelas.
Sua estória "Black Friday" e novellas como "Phantom
Lady" e "The Night Has A Thousand Eyes" tornaram-se a base
para muitos filmes importantes durante os primeiros anos daquela década; além
disso, ele criou o texto que subseqüentemente foi adaptado ao cinema como Rear
Window, de Alfred Hitchcock.
Kiss of Death |
Ao nível mais popular, Dashiel Hammett (The Falcon
Maltese) e Raymond Chandler (The Big Sleep, Farewell my Lovely)
estavam em demanda como nunca e nos anos 40 eles finalmente viram as
personalidades sinistras de seus personagens levadas às telas razoavelmente
intactas.
O filme noir foi o primeiro gênero no qual o perigo com o qual
os personagens se defrontavam era mais psicológico do que físico.
A platéia parecia responder bem a esse fenômeno, e o sucesso de This
Gun for Hire e I Wake up Screaming, em particular, anunciou uma era
de dramas policiais sinistros e mistérios habitados por personagens estranhos e
obcecados: Phantom Lady, Deadline At Dawn, The Woman In the
Window, Scarlet Street, Murder My Sweet, The Lost Weekend,
The Strange Love of Martha Ivers, Pitfall, Dead Reckoning,
The Dark Corner, Edge of Doom, Force Of Evil, Kiss of Death,
The Asphalt Jungle, They Live By Night, D.O.A.
Os títulos
por si só falam a respeito desses filmes.
Uma
típica trama noir poderia envolver uma pessoa que comete um pequeno e
aparente sem importância ato de indiscrição – estando bêbada, fazendo um
favor para um estranho ou falhando ao realizar uma tarefa para um estranho – e
acaba se encontrando num dilema de vida ou morte.
Em Dark Corner, Mark
Stevens se vê perseguido, agredido e preso por um detetive particular por um
assassinato que não cometeu, tudo a pedido de um homem (Clifton Webb) que mal
sabe ou se lembra de sua própria motivação pervertida por vingança.
Em Deadline
At Dawn, o único filme dirigido pelo renomado diretor de teatro Harold
Clurman, o marinheiro Bill Williams, durante uma visita a Nova Iorque, acorda após
um porre e descobre que a mulher com a qual estava – e que estava tentando
roubá-lo - foi estrangulada e ele
pode ficar comprometido por vários indícios e testemunhas.
Em
Pitfall, Dick Powell, investigador de uma companhia de seguros, dá atenção
para uma mulher aparentemente carente e vulnerável (Lizabeth Scott) e isto o
envolve em uma fraude, uma chantagem e um assassinato. Finalmente, em D.O.A.,
talvez o mais sinistro dos filmes noir, o empresário Edmond O´Brien
percebe que lhe foi dado um veneno letal, de efeito prolongado, que o matará em
24 horas e ele gasta este tempo tentando descobrir o porquê do envenenamento;
ao final, descobre que foi assassinado somente porque documentou uma conta de
venda para um homem que nunca vira antes, o que tornara-o uma testemunha em
potencial num caso de fraude e assassinato.
Laura |
Em outros exemplos do gênero, os personagens são
tudo, menos inocentes.
O filme Laura (1944), de Otto Preminger, por
exemplo, o qual também é um dos mais românticos noir feitos, todos os
envolvidos na trama (exceto por um mordomo) são potenciais suspeitos do
assassinato e têm motivos para tanto.
Mesmo
o policial, interpretado por Dana Andrews, está tão absorvido por seu trabalho
que ele não percebe a selvageria e o sadismo que movem suas ações e motivações.
Andrews, Preminger, e a estrela do filme, Gene Tierney explorariam novamente
esse personagem em 1950, no filme Where The Sidewalk Ends, no qual
Andrews representa um policial que inadvertidamente se envolve num assassinato
– ironicamente, um dos poucos crimes que ele é acusado e que não é culpado!
Um outro exemplo brilhante do gênero é Force of
Evil (1948), de Abraham Polonsky, o único que não nasceu em Hollywood.
Filme de uma produtora independente chamada Enterprise Studios, em Force
of Evil estrelava John Garfield como um empresário bem-sucedido de Wall
Street tentando comandar um sindicato que planeja quebrar o “jogo-do-bicho”
local e transformá-lo em uma loteria legal, mas, para isso, ele precisa
arruinar a vida de seu irmão – com o qual está brigado – , um pequeno
“bicheiro”. Garfield é destruído quando ele tenta salvar o bem-estar
financeiro de seu irmão, o que custa a vida deste (brilhantemente interpretado
por Thomas Gomez) no processo.
A Força da Maldade mencionada no título
original é o capitalismo e a ganância do sistema. Em The Asphalt Jungle
(1950), de John Huston, todos são culpados e ou são pegos ou mortos –
saber disso não diminui a importância do filme, pois o modo como eles são
pegos ou mortos é do que realmente trata o filme.
Mesmo Samuel Goldwyn, conhecido por fazer filmes para atingir o maior público
possível (The Best Years of Our Lives, Hans Christian Andersen,
etc.), produziu um filme noir, Edge of Doom, o qual provou ser um
dos mais sombrios e bizarros exemplos do gênero. Farley Granger, que
trabalharia muito melhor em Side Street, interpreta um garoto pobre de
Boston que mata acidentalmente um padre e passa o resto do filme tentando
escapar de sua responsabilidade e sua perseguição por outro padre (Dana
Andrews).
A importância do filme noir diminuiu durante
os anos 50, algum tempo após o final da Guerra Mundial que deu origem ao seu
nascimento. A longevidade do gênero, contudo, pode ser atribuída primeiro à
sua flexibilidade – ao contrário dos westerns, os filmes policiais
nunca saem de moda e as diferentes manifestações do crime oferecem uma rica
seleção de matéria-prima.
Ao final dos anos 40, à medida que a delinqüência
juvenil estava se tornando um assunto prioritário, a Universal produziu City
Across The River (basedo no best seller “The Amboy Dukes”, de
Irving Shulman), sobre gangues de rua na região de Brownsville do Brooklyn.
E
nos anos 50, mesmo o “Terror Vermelho” (a paranóia anti-comunista)
manifestou-se no filme noir, em um dos melhores thrillers
policiais da década, Pickup On South Street (1953), de Samuel
Fuller, no qual um batedor de carteiras (Richard Widmark) se encontra metido com
espiões inimigos e agentes do F.B.I quando ele rouba a bolsa de uma mulher que
contém um valioso pedaço de microfilme - Thelma Ritter, a qual, apesar da
produção "B", recebeu uma indicação ao Oscar.
O ciclo do film noir deu
origem a várias partituras musicais marcantes,
compostas por maestros como David
Raksin (Laura) e, principalmente, o lendário Miklos
Rozsa (Double Indemnity, The Lost Weekend, Naked City).
O interesse pelo gênero somente diminuiu
quando a televisão acabou com o mercado deste tipo de baixa produção, e o
“tiro de misericórdia” foi dado quando o filme colorido se tornou padrão
em Hollywood. Era muito difícil, senão impossível, filmar estórias da
natureza do noir em cores sem o ambiente sinistro que a fotografia em
preto-e-branco propiciava – a cor, tal como usada naqueles dias, tirava a
concentração e, por questão de necessidade, criava imagens muito brilhantes.
O filme noir, contudo, não desapareceu inteiramente como gênero e campo
de estudo.
Na França, diretores como Jean-Pierre Melville (Bob
Le Flambeur) e Jean-Luc Godard (Breathless) foram profundamente
influenciados pelo gênero americano. Jules Dassin também fez um clássico
filme noir, Riffifi. Ocasionalmente, um filme como Cry Terror de
Andrew e Virginia Stone ou Key Witness, de Phil Karlson – ambos
datando do começo dos anos 60 – emergiriam de Hollywood, mas foram apenas uma
exceção e nenhum atingiu o sucesso esperado, de modo a trazer um interesse
maior.
Como a qualidade dos filmes de Hollywood piorou, cinéfilos
e estudantes de cinema crescentemente se voltaram aos gêneros mais antigos e
descobriram o filme noir. Além disso, a total fixação americana pelo
filme noir data a partir dos anos 60, à medida que expectadores e
estudantes – procurando por algo mais do que A Noviça Rebelde ou mesmo
a série de filmes de James Bond poderiam oferecer – começaram a levar a sério
estes velhos filmes policiais e estudando-os em modos que teriam surpreendido
seus produtores.
Nos anos 70 e 80, qualquer um podia encontrar a influência do
filme noir em bons mistérios como The Midnight Man (1974), de
Burt Lancaster e Roland Kibbee, Blade Runner (1982), de Riddley Scott e A
Honra do Poderoso Prizzi (1985), de John Huston; nos anos 90, filmes como Reservoir
Dogs (1992), de Quentin Tarantino, ajudaram a preservar o gênero.
O Que é Afinal um Filme Noir?
Há
sete elementos de um filme noir que Raymond Borde e Etienne Chauteton
apontaram em Panorama du Film Americain (extraído e traduzido em Film
Noir Reader, editado por Alain Silver e James Ursini). São eles:
um crime;
a
perspectiva dos criminosos, não da polícia;
uma visão
invertida das tradicionais fontes de autoridade, tal como a corrupção policial;
alianças
e lealdades instáveis;
a
“femme fatale” (fêmea fatal): a mulher que causa a ruína e/ou morte de um
bom homem;
violência
bruta;
motivação
e mudanças em complôs bizarros.
Paul
Schrader observa a dificuldade em definir film noir em Film Comment
(também reimpresso em Film Noir Reader), porém o limita em um período específico
– de The Maltese Falcon (1941)
até Touch of Evil (1958). Ele argumenta que o noir é
literalmente preto. Cenas noturnas, iluminação de alto contraste e sombras
fazem parte do estilo noir. Além disso, o filme noir trabalha com
tempo não-linear, disjuntivo.
Apesar
destas duas tentativas de definir o filme noir sejam úteis, elas
igualmente são limitadas. A diferença entre filme noir e policial,
segundo Borde e Chaumeton, é muito pequena. Filmes como The Naked City e
Crossfire foram estruturadas a partir de uma perspectiva do policial,
ainda que não haja limites para a violência bruta e a perversão dos
assassinatos em Crossfire. Borde e Chaumeton também negligenciam o
elemento de transgressão moral/perversão que torna um noir
verdadeiramente obscuro.
Além disso, o argumento de Schrader que o gênero noir
está morto é prematuro. Filmes recentes como Bound, Dark City
e virtualmente qualquer coisa de John Dahl não são meramente homenagens ao
filme noir, mas versões contemporâneas deste. A seção “Film Noir”
do Internet
Movie Database lista filmes de 1927 (The Underworld) até o
presente. Uma estatística destes indica um pico primário de 1945 até 1951, e
outro pico de 1951 até cerca de 1958 com um ressurgimento nos anos 1990.
Entretanto,
Schrader está correto ao afirmar que definir o noir é quase impossível.
Quantos elementos noir são necessários para se fazer um noir? Um?
Três? Sete? Então,
um noir pode ter apenas um único elemento, enquanto que outro filme que
possua três não seja considerado um noir.
O
que segue é uma outra tentativa de preencher a lacuna de definições do filme noir
em complemento às definições dadas acima:
1.
Perversão/transgressão
moral. Um grande
exemplo é William Bendix usando termos afetuosos como “docinho” e
“querido” enquanto tortura Alan Ladd, em The Glass Key;
2.
Destino.
Freqüentemente, os
protagonistas do noir se metem em encrenca por causa de traços de
personalidade (Double Indemnity e Criss Cross) ou circunstâncias
além do seu controle (Detour).
3.
Traição/Ilusão. Todas as relações humanas estão sob risco no
mundo noir – a relação entre cônjuges (Pitfall, Woman in
the Window), entre patrões e empregados (Phantom
Lady), entre clientes e investigadores particulares (The Maltese Falcon,
The Big Sleep),
entre amantes (Criss
Cross)
e mesmo entre pais e filhos (Mildred Pierce). Toda relação
presumidamente baseada na verdade e mesmo no amor tem o potencial de se
transformar em traição por dinheiro ou sexo, ou ambos.
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