Quando
morreu, na manhã de 10 de Janeiro de 1961, Dashiell Hammett já não
publicava um livro desde 1934. Era respeitado nos meios liberais americanos,
por ter enfrentado as acusações de "conspirador vermelho" do comité
McCarthy (o que lhe valeu seis meses na prisão a limpar latrinas). Os
seus herdeiros na literatura americana consideravam-no o "pai"do moderno
romance policial e tentavam seguir-lhe o exemplo.
A sua obra (cinco romances e dezenas de pequenas histórias que publicou na revista Black Mask) está a ser reavaliada em vários países. Em França, uma editora, a Omnibus, acaba de reunir as 65 novelas num só volume, Coups de Feu dans la Nuit.
A grande importância de Hammett deriva sobretudo do facto de ele ter levado o crime (e a literatura que dele fazia o seu elemento central) dos salões em que os autores clássicos do género o tinham encerrado para as ruas, onde ele realmente acontecia na vida real. Do vaso veneziano para as valetas - como descreveria, mais tarde, Raymond Chandler, o outro autor fundamental do género. Devolveu o assassínio ao tipo de pessoas que o cometem por um motivo e não apenas para providenciar um cadáver.
Eram os tempos dos gangsters, da lei seca, da corrupção desenfreada nas entidades oficiais e nas grandes corporações. Hammett procedia a uma anatomia social do crime, em que o assassínio e o cadáver (o primeiro de muitos) com que iniciava a narrativa eram, muitas vezes, apenas o pretexto para descrever uma sociedade violenta, cínica e sem esperança.
Cínicos e sem esperança eram os seus protagonistas: o detective da Continental, primeiro, Sam Spade, depois. Este, que seria encarnado no cinema por Humphrey Bogart, era um homem desencantado, que abusava do tabaco e do álcool, de poucas (e medidas) palavras, frio e duro. O tipo de características necessárias para enfrentar os poderosos com que tinha de lidar sempre que um cadáver lhe saía ao caminho. Violento também, mas com as marcas da violência sofrida também a marcar-lhe o rosto e o corpo. E um código de honra inabalável.
A escrita de Hammett tinha a mesma marca: frases secas e curtas, nada de adjectivos, nem de digressões poéticas, nem de desvios "literários". A prosa tão descarnada como a realidade desses tempos duros. Essa era, aliás, a característica que mais o distinguia de Raymond Chandler, que um dia aspirara a ser poeta e cujo protagonista - Philip Marlowe - se servia mais do humor (um humor sacrcástico, é verdade) que dos punhos. Curiosamente, ambos seriam interpretados no cinema por Humphrey Bogart, apesar de Chandler afirmar que o intérprete ideal de Marlowe era Cary Grant.
A secura e o desencanto seduziram gerações de autores e de leitores. A ponto de um dos mais importantes cultivadores do género nas últimas décadas, o espanhol Manuel Vázquez Montalbán, ter afirmado que "Dashiell Hammett é tão importante para a história da literatura americana como Hemingway ou Faulkner". Nem mais.
Link:
http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1753164&seccao=Livros&page=-1
A sua obra (cinco romances e dezenas de pequenas histórias que publicou na revista Black Mask) está a ser reavaliada em vários países. Em França, uma editora, a Omnibus, acaba de reunir as 65 novelas num só volume, Coups de Feu dans la Nuit.
A grande importância de Hammett deriva sobretudo do facto de ele ter levado o crime (e a literatura que dele fazia o seu elemento central) dos salões em que os autores clássicos do género o tinham encerrado para as ruas, onde ele realmente acontecia na vida real. Do vaso veneziano para as valetas - como descreveria, mais tarde, Raymond Chandler, o outro autor fundamental do género. Devolveu o assassínio ao tipo de pessoas que o cometem por um motivo e não apenas para providenciar um cadáver.
Eram os tempos dos gangsters, da lei seca, da corrupção desenfreada nas entidades oficiais e nas grandes corporações. Hammett procedia a uma anatomia social do crime, em que o assassínio e o cadáver (o primeiro de muitos) com que iniciava a narrativa eram, muitas vezes, apenas o pretexto para descrever uma sociedade violenta, cínica e sem esperança.
Cínicos e sem esperança eram os seus protagonistas: o detective da Continental, primeiro, Sam Spade, depois. Este, que seria encarnado no cinema por Humphrey Bogart, era um homem desencantado, que abusava do tabaco e do álcool, de poucas (e medidas) palavras, frio e duro. O tipo de características necessárias para enfrentar os poderosos com que tinha de lidar sempre que um cadáver lhe saía ao caminho. Violento também, mas com as marcas da violência sofrida também a marcar-lhe o rosto e o corpo. E um código de honra inabalável.
A escrita de Hammett tinha a mesma marca: frases secas e curtas, nada de adjectivos, nem de digressões poéticas, nem de desvios "literários". A prosa tão descarnada como a realidade desses tempos duros. Essa era, aliás, a característica que mais o distinguia de Raymond Chandler, que um dia aspirara a ser poeta e cujo protagonista - Philip Marlowe - se servia mais do humor (um humor sacrcástico, é verdade) que dos punhos. Curiosamente, ambos seriam interpretados no cinema por Humphrey Bogart, apesar de Chandler afirmar que o intérprete ideal de Marlowe era Cary Grant.
A secura e o desencanto seduziram gerações de autores e de leitores. A ponto de um dos mais importantes cultivadores do género nas últimas décadas, o espanhol Manuel Vázquez Montalbán, ter afirmado que "Dashiell Hammett é tão importante para a história da literatura americana como Hemingway ou Faulkner". Nem mais.
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