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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Dashiell Hammett: o escritor que levou o crime à rua!
Quando
morreu, na manhã de 10 de Janeiro de 1961, Dashiell Hammett já não
publicava um livro desde 1934. Era respeitado nos meios liberais americanos,
por ter enfrentado as acusações de "conspirador vermelho" do comité
McCarthy (o que lhe valeu seis meses na prisão a limpar latrinas). Os
seus herdeiros na literatura americana consideravam-no o "pai"do moderno
romance policial e tentavam seguir-lhe o exemplo.
A sua obra (cinco romances e dezenas de pequenas histórias que publicou na revista Black Mask) está a ser reavaliada em vários países. Em França, uma editora, a Omnibus, acaba de reunir as 65 novelas num só volume, Coups de Feu dans la Nuit.
A grande importância de Hammett deriva sobretudo do facto de ele ter levado o crime (e a literatura que dele fazia o seu elemento central) dos salões em que os autores clássicos do género o tinham encerrado para as ruas, onde ele realmente acontecia na vida real. Do vaso veneziano para as valetas - como descreveria, mais tarde, Raymond Chandler, o outro autor fundamental do género. Devolveu o assassínio ao tipo de pessoas que o cometem por um motivo e não apenas para providenciar um cadáver.
Eram os tempos dos gangsters, da lei seca, da corrupção desenfreada nas entidades oficiais e nas grandes corporações. Hammett procedia a uma anatomia social do crime, em que o assassínio e o cadáver (o primeiro de muitos) com que iniciava a narrativa eram, muitas vezes, apenas o pretexto para descrever uma sociedade violenta, cínica e sem esperança.
Cínicos e sem esperança eram os seus protagonistas: o detective da Continental, primeiro, Sam Spade, depois. Este, que seria encarnado no cinema por Humphrey Bogart, era um homem desencantado, que abusava do tabaco e do álcool, de poucas (e medidas) palavras, frio e duro. O tipo de características necessárias para enfrentar os poderosos com que tinha de lidar sempre que um cadáver lhe saía ao caminho. Violento também, mas com as marcas da violência sofrida também a marcar-lhe o rosto e o corpo. E um código de honra inabalável.
A escrita de Hammett tinha a mesma marca: frases secas e curtas, nada de adjectivos, nem de digressões poéticas, nem de desvios "literários". A prosa tão descarnada como a realidade desses tempos duros. Essa era, aliás, a característica que mais o distinguia de Raymond Chandler, que um dia aspirara a ser poeta e cujo protagonista - Philip Marlowe - se servia mais do humor (um humor sacrcástico, é verdade) que dos punhos. Curiosamente, ambos seriam interpretados no cinema por Humphrey Bogart, apesar de Chandler afirmar que o intérprete ideal de Marlowe era Cary Grant.
A secura e o desencanto seduziram gerações de autores e de leitores. A ponto de um dos mais importantes cultivadores do género nas últimas décadas, o espanhol Manuel Vázquez Montalbán, ter afirmado que "Dashiell Hammett é tão importante para a história da literatura americana como Hemingway ou Faulkner". Nem mais.
Link:
http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1753164&seccao=Livros&page=-1
A sua obra (cinco romances e dezenas de pequenas histórias que publicou na revista Black Mask) está a ser reavaliada em vários países. Em França, uma editora, a Omnibus, acaba de reunir as 65 novelas num só volume, Coups de Feu dans la Nuit.
A grande importância de Hammett deriva sobretudo do facto de ele ter levado o crime (e a literatura que dele fazia o seu elemento central) dos salões em que os autores clássicos do género o tinham encerrado para as ruas, onde ele realmente acontecia na vida real. Do vaso veneziano para as valetas - como descreveria, mais tarde, Raymond Chandler, o outro autor fundamental do género. Devolveu o assassínio ao tipo de pessoas que o cometem por um motivo e não apenas para providenciar um cadáver.
Eram os tempos dos gangsters, da lei seca, da corrupção desenfreada nas entidades oficiais e nas grandes corporações. Hammett procedia a uma anatomia social do crime, em que o assassínio e o cadáver (o primeiro de muitos) com que iniciava a narrativa eram, muitas vezes, apenas o pretexto para descrever uma sociedade violenta, cínica e sem esperança.
Cínicos e sem esperança eram os seus protagonistas: o detective da Continental, primeiro, Sam Spade, depois. Este, que seria encarnado no cinema por Humphrey Bogart, era um homem desencantado, que abusava do tabaco e do álcool, de poucas (e medidas) palavras, frio e duro. O tipo de características necessárias para enfrentar os poderosos com que tinha de lidar sempre que um cadáver lhe saía ao caminho. Violento também, mas com as marcas da violência sofrida também a marcar-lhe o rosto e o corpo. E um código de honra inabalável.
A escrita de Hammett tinha a mesma marca: frases secas e curtas, nada de adjectivos, nem de digressões poéticas, nem de desvios "literários". A prosa tão descarnada como a realidade desses tempos duros. Essa era, aliás, a característica que mais o distinguia de Raymond Chandler, que um dia aspirara a ser poeta e cujo protagonista - Philip Marlowe - se servia mais do humor (um humor sacrcástico, é verdade) que dos punhos. Curiosamente, ambos seriam interpretados no cinema por Humphrey Bogart, apesar de Chandler afirmar que o intérprete ideal de Marlowe era Cary Grant.
A secura e o desencanto seduziram gerações de autores e de leitores. A ponto de um dos mais importantes cultivadores do género nas últimas décadas, o espanhol Manuel Vázquez Montalbán, ter afirmado que "Dashiell Hammett é tão importante para a história da literatura americana como Hemingway ou Faulkner". Nem mais.
Link:
http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1753164&seccao=Livros&page=-1
Ross Macdonald: A saga do detetive Lew Archer!
A saga do detetive Lew Archer, de Ross Macdonald - por Renato Pompeu, do Diário do Comércio
Ross Macdonald: Um dos melhores escritors do romance policial. |
Archer se transformou em Lew Harper no filme Harper, com Paul Newman, pois o ator achava que nomes começados com a letra H davam sorte, e foi Lew Millar em uma série de televisão, além de propriamente Lew Archer em outras séries.
O nome Lew Archer é uma dupla homenagem a escritores que Macdonald
apreciava: o Lew vem de Lew Wallace, criador do célebre personagem
corredor de biga no antigo Império Romano, Ben-Hur. E o Archer lembra
Miles Archer, sócio do detetive particular Sam Spade, este o principal
personagem do famoso romance O Falcão Maltês, do escritor Dashiell
Hammett.
Como o próprio Macdonald, Archer é rebento de uma família californiana
disfuncional, desfeita pelo abandono do pai e marido. No caso do
detetive, isso o transforma num adolescente perturbado, que se torna um
pequeno delinquente, mas é regenerado pela influência de um policial
veterano.
O próprio Archer se torna policial, em Long Beach, na Califórnia, mas se revolta com tanta corrupção que testemunha entre seus colegas e acaba sendo demitido. Na Segunda Guerra Mundial, serve como agente de contraespionagem do Exército dos Estados Unidos.
O próprio Archer se torna policial, em Long Beach, na Califórnia, mas se revolta com tanta corrupção que testemunha entre seus colegas e acaba sendo demitido. Na Segunda Guerra Mundial, serve como agente de contraespionagem do Exército dos Estados Unidos.
Tornado detetive particular, Archer atua nos chamados subúrbios em
expansão então, nos anos 1950, no Sul da Califórnia, equivalentes aos
chamados condomínios no Brasil, ou a bairros como Alphaville.
Em termos de ficção policial, o criador Ross Macdonald e a criatura Lew Archer se inserem na longa transição efetuada a partir da primeira tradição do gênero, baseada no raciocínio lógico, dedutivo e indutivo, em que cérebros geniais como Sherlock Holmes, de Conan Doyle, e Hercule Poirot e Miss Marple, de Agatha Christie, deslindam tramas a partir de pistas, a tradição de textos literários policiais intelectualizados tipicamente ingleses, para a segunda tradição do gênero.
Em termos de ficção policial, o criador Ross Macdonald e a criatura Lew Archer se inserem na longa transição efetuada a partir da primeira tradição do gênero, baseada no raciocínio lógico, dedutivo e indutivo, em que cérebros geniais como Sherlock Holmes, de Conan Doyle, e Hercule Poirot e Miss Marple, de Agatha Christie, deslindam tramas a partir de pistas, a tradição de textos literários policiais intelectualizados tipicamente ingleses, para a segunda tradição do gênero.
Nesta segunda tradição, com o gênero policial tornado tipicamente
americano, o essencial são as ações físicas dos detetives durante suas
investigações, particularmente procurando indivíduos desaparecidos ou
objetos preciosos sumidos, muitas vezes envolvidos em lutas corporais
violentas e em tiroteios.
Tudo isso, porém, é finamente temperado por análises psicológicas mais ou menos profundas. Essa tradição foi iniciada por Dashiell Hammett e desenvolvida pelo famoso autor Raymond Chandler, em especial em seu personagem Philip Marlowe, que foi a primeira inspiração de Ross Macdonald.
Tudo isso, porém, é finamente temperado por análises psicológicas mais ou menos profundas. Essa tradição foi iniciada por Dashiell Hammett e desenvolvida pelo famoso autor Raymond Chandler, em especial em seu personagem Philip Marlowe, que foi a primeira inspiração de Ross Macdonald.
Mas Lew Archer representa o ponto culminante dessa segunda corrente da
literatura policial. Particularmente ele se caracteriza por se envolver
em problemas das famílias que o procuram, normalmente para tentar
localizar um filho ou uma filha que desapareceu e que talvez tenha
morrido , possivelmente por assassínio. Archer muitas vezes descobre
segredos de família que a grande maioria dos seus membros sequer sabia que existiam.
Como o próprio Archer, e como o próprio autor Macdonald, muitas vezes
ele se depara, entre seus clientes, com famílias desajustadas pelo
abandono de um cônjuge.
Depois de Lew Archer, a literatura policial americana passaria dessa
fase "realista e psicológica", para uma fase "naturalista e brutal", que
se especializaria em descrição nua e crua de cenas sanguinolentas ou de
cadáveres muito machucados, como nos livros de Michaell Spillane.
Em seguida viria a fase atual, mais visível nas séries de televisão, em que os antigos detetives particulares são substituídos pelas forças regulares da polícia, dando-se ênfase ao desenvolvimento tecnológico de seus laboratórios científicos e periciais tão avançados, e aos conflitos emocionais de investigadores, vítimas, assassinos e pessoas em volta.
Em seguida viria a fase atual, mais visível nas séries de televisão, em que os antigos detetives particulares são substituídos pelas forças regulares da polícia, dando-se ênfase ao desenvolvimento tecnológico de seus laboratórios científicos e periciais tão avançados, e aos conflitos emocionais de investigadores, vítimas, assassinos e pessoas em volta.
Assim, se há pessoas nostálgicas da antiga fase intelectualizada da
literatura policial, em que o principal é o raciocínio, há também
pessoas que sentem saudades de detetives como Lew Archer, um homem de
olhos azuis, triste, beberrão, sempre com saudades de sua ex-mulher Sue,
e que bate perna em busca de pistas e de pessoas desaparecidas, que se
envolve com os dramas sentimentais e familiares de seus clientes e do
círculo de pessoas que os rodeia.
Para esses leitores, Os Arquivos de Archer são um prato cheio.
Para esses leitores, Os Arquivos de Archer são um prato cheio.
Link:
Raymond Chandler: O Mestre do Romance Policial Noir!
RAYMOND CHANDLER - por Mayrant Gallo, do blog 'Infiltrados'
Se Dashiel Hammett criou o relato policial noir,
foi no entanto Raymond Chandler quem lhe conferiu prestígio literário e
artístico.
Mesmo os leitores que não apreciam a literatura policial
respeitam-no, como respeitam Georges Simenon, Patricia Highsmith, James
M. Cain e David Goodis, autores que, apesar de sua
opção pelo relato policial, não se limitaram às amarras do gênero.
Como
se cumprissem à risca uma hipotética cartilha ditada por Edgar Allan
Poe ou Pablo Picasso, fizeram arte com a matéria que escolheram:
impuseram-se um estilo, uma linguagem, uma dicção, de modo que, ao
lermos o texto de um, sabemos que não estamos lendo o texto de nenhum
outro.
E não interessa se o entrecho policial é ou não é relevante; o
que importa é como cada um desses escritores, a começar por Hammett,
estrutura e molda suas histórias, e o efeito que extrai delas e que,
durante a leitura, migra para a sensibilidade do leitor, que, assim,
apreende um pouco mais da realidade à sua volta, sempre um enigma.
Nascido em Chicago em 1888, Raymond Chandler estudou na Inglaterra,
França e Alemanha. Teve uma formação clássica, e isso muito colaborou
para que ele deslocasse para o gênero policial uma linguagem que
poderia, muito bem, estar a serviço de outro ramo da arte literária.
Depois de saltar de uma para outra profissão (foi professor, revisor,
soldado das forças canadense e britânica, contador, redator, executivo
de uma empresa de petróleo e detetive particular, o que lhe conferiu
larga experiência de vida e a desenvoltura necessária à sua
representação realista do mundo), Chandler se estabeleceu na California,
palco de seus contos e romances.
Escreveu: O sono eterno (1939), O longo adeus (1953), Adeus minha adorada (1940), A irmãzinha (1949), A dama do lago (1943), Janela para a morte (1942), Playback (1958), dezenas de contos, espalhados por várias coletâneas, e Amor e morte em Poodle Springs, que deixou inacabado e foi concluído por Robert B. Parker.
Também foi roteirista de Hollywood. Todos os seus romances foram levados ao cinema, tornando-se grandes clássicos do gênero noir.
Seu personagem Philip Marlowe, protagonista de seus romances, entrou
para a galeria dos grandes detetives, ao lado do comissário Maigret, do
padre Brown, de Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Dupin.
Em 1956, com a
morte da esposa, Chandler entregou-se ao álcool, o que certamente
contribuiu para a sua morte, aos 71 anos, em 1959. Era, porém, um
escritor admirado e respeitado, nos EUA e no mundo, e não apenas como
autor de romances e contos policiais.
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