quinta-feira, 25 de abril de 2019

'Il Caso Mattei': Francesco Rosi conta a história verídica do atentado que matou o líder italiano que desafiou o poder das 'Sete Irmãs'!

'Il Caso Mattei': Francesco Rosi conta a história verídica do atentado que matou o líder italiano que desafiou o poder das 'Sete Irmãs'! - Marcos Doniseti!
"Il Caso Mattei" (O Caso Mattei; Francesco Rosi; 1972): Este clássico filme dirigido por Francesco Rosi conta a história de Enrico Mattei, que foi o responsável por transformar uma falida empresa estatal italiana em uma das mais poderosas petrolíferas e holdings do mundo, desafiando o poderio das famosas 'Sete Irmãs'. 

O contexto histórico!

Enrico Mattei foi o mais poderoso dirigente do maior conglomerado industrial e econômico da Itália no Pós-Guerra, que foi a ENI (Ente Nazionali Idrocarburi).

A ENI foi uma empresa estatal que foi criada em Fevereiro de 1953 a partir das ruínas da AGIP, que era uma empresa petrolífera (também estatal) que havia sido criada por Benito Mussolini em 1926 mas que, durante o regime fascista, fracassou na tentativa de encontrar gás natural ou petróleo no território italiano. 

Porém, no Pós-Guerra,  o governo conservador do PDC (Partido Democrata-Cristão) queria liquidar a AGIP, fechando a empresa, devido às pressões dos políticos liberais, que eram contrários à atuação do Estado na economia e que viam a AGIP como sendo uma 'herança fascista'.

Mas o visionário Enrico Mattei convenceu o governo italiano de que a AGIP não deveria ser liquidada, muito pelo contrário, mas fortalecida. E foi exatamente isso que ele fez depois que obteve do governo do país o apoio político necessário para expandir e desenvolver a AGIP/ENI.

Assim, Matttei desenvolveu uma estratégia de longo prazo que transformou a ENI em uma das mais poderosas empresas petrolíferas do mundo e que, depois, passou a controlar inúmeras outras empresas (também estatais), transformando-se em uma imensa e poderosa holding, que também atuava em muitos setores: petroquímica, geração de energia, navegação, gás, projetos e engenharia, construção, etc. 

"L'Assassinio di Enrico Mattei" foi o livro que deu origem ao filme de Francesco Rosi. Ele é de autoria de Fúlvio Bellini e Alessandro Previdi, sendo que foi publicado em Janeiro de 1970, pouco mais de sete anos após o atentado que tirou a vida de Mattei, que ocorreu em 27/10/1962.

Porém, Mattei  também adotou uma política de obrigar a que todas as empresas da holding fossem lucrativas e competitivas. Sua política de promover imensos investimentos no setor industrial e de infraestrutura contribuiu imensamente para o desenvolvimento industrial e econômico da Itália no Pós-Guerra.

Enrico Mattei levou adiante a política de fechar acordos com governos de países árabes e muçulmanos possuidores de petróleo (Líbia, Argélia, Tunísia, Egito, Nigéria, etc) e de fazer acordos que previam uma divisão de lucros que era muito favorável aos mesmos, pois os governos detentores das reservas petrolíferas ficavam com 75% dos lucros, enquanto que a ENI ficava com os outros 25%.

Enquanto isso, as 'Sete Irmãs' que dominavam o mercado petrolífero global sempre ofereciam acordos nos quais os lucros eram divididos pela metade, com as petroleiras ficando com 50% dos mesmos e os governos dos países produtores ficando com os outros 50%.

Essa postura de Enrico Mattei, de conceder 75% dos lucros aos governos dos países produtores, fez com que a ENI se expandisse rapidamente entre os países do então chamado 'Terceiro Mundo'. 

Essa política adotada por Mattei também se beneficiou do processo de descolonização que ocorreu na África e na Ásia nas décadas de 1950 e 1960, que permitiu o surgimento de dezenas de novas nações independentes. 

Os governantes destes novos países ambicionavam desenvolver economicamente seus países e melhorar as condições de vida de suas populações. E para isso estes governos dos países precisavam de recursos (capital, tecnologia, trabalhadores qualificados) que muitos deles não possuíam. 

Enrico Mattei (o verdadeiro) cumprimenta Gamal Abdel Nasser, líder do Egito, que foi um dos países que assinou contrato para extração de petróleo com a ENI. Mattei defendia uma nova maneira de se relacionar com os países em desenvolvimento. 

No entanto, essa rápida expansão da ENI pelo mundo em desenvolvimento (que, na época, era chamado de 'Terceiro Mundo') representava um claro desafio ao domínio do mercado mundial de petróleo pelas famosas 'Sete Irmãs', que eram (estou usando os nomes atuais): Shell (anglo-holandesa), British Petroleum (britânica); Exxon, Chevron, Mobil, Texaco e Gulf (estas cinco eram todas dos EUA). Estas empresas, somadas, controlavam 85% do mercado mundial de petróleo. 

Desta maneira, EUA e Grã-Bretanha controlavam o mercado mundial de petróleo no Pós-Guerra, produto que era essencial (e que ainda é) para o desenvolvimento da economia capitalista globalizada. A ENI foi a empresa que desafiou esse domínio das 'Sete Irmãs', fato este que as deixou, no mínimo, profundamente irritadas.

E o responsável por isso foi Enrico Mattei, que acabou pagando com a própria vida por essa ousadia, sendo assassinado em 1962, quando o avião em que viajava de Catania (na Sicília) rumo a Milão acabou sendo sabotado, levando a queda do mesmo antes de aterrissar na pista do aeroporto da cidade. 

Além disso, Enrico Mattei também fez a ENI assinar acordos petrolíferos com a União Soviética, o que gerou fortes críticas do governos dos EUA, pois ainda estávamos vivendo a época da Guerra Fria. Não se pode esquecer, por exemplo, que o ano do assassinato de Enrico Mattei, que foi 1962, também foi aquele em que tivemos a famosa 'Crise dos Mísseis', em Cuba, que quase levou o mundo a uma devastadora guerra nuclear entre EUA e URSS. 
O fantástico ator Gian Maria Volonté interpreta Enrico Mattei. Nesta cena, ele esconde da esposa uma carta que continha ameaças de morte.

Este corajoso filme de Francesco Rosi (diretor de ideias socialistas, mas que nunca foi filiado a nenhum partido, embora fosse próximo do PCI), realizado em 1972, usa de um livro escrito na época para denunciar este crime. O livro se chama "L'Assassinio di Enrico Mattei".

Obs1: Os autores do livro usado por Francesco Rosi para realizar o seu belo filme são Fúlvio Bellini e Alessandro Previdi. Bellini foi um partigiano (guerrilheiro) que lutou contra o nazifascismo e no Pós-Guerra ele se tornou um autor voltado para temas da história italiana, escrevendo livros sobre a história do PCI (Partido Comunista Italiano), a respeito da queda do regime Fascista de Mussolini em Julho de 1943 e também sobre o sequestro e morte de Aldo Moro pelas 'Brigadas Vermelhas' em 1978. Previdi também foi um Partigiano e no Pós-Guerra ele se tornou jornalista, trabalhando em importantes jornais italianos. 

É bom que se diga que embora milhões de italianos, durante muitos anos, afirmassem que Mattei tinha sido assassinado, somente em 1997 é que a Procuradoria da cidade de Pavia (norte da Itália) comprovou o fato de que isso havia acontecido. Nas investigações realizadas foi realizada uma autópsia nos ossos do corpo de Mattei e descobriu-se a presença de traços de explosivos nos mesmos. 

Também foi provado que o agricultor que, na época afirmou que tinha visto o avião explodir em pleno ar (antes de atingir o solo, portanto) mudou, posteriormente, a sua versão quando prestou depoimento para a Justiça. 

Aliás, todas essas informações, que foram comprovadas em 1997, já apareciam neste corajoso filme dirigido por Francesco Rosi em 1972 e que, inclusive, participa do filme como diretor e personagem do mesmo.
Enrico Mattei fazia bom uso da Mídia para divulgar as suas realizações.

O Cinema Político Italiano!

Durante as décadas de 1960 e 1970 foram produzidos na Itália inúmeros filmes que procuravam retratar a realidade política e social do país. E para entender isso é necessário compreender o que aconteceu no país neste período.

Os primeiros anos da década de 1960 foram marcados pelo 'Boom' econômico, pela retomada das greves operárias e pelo início da participação do Partido Socialista Italiano no governo do país, que começou em 1963.

Mas o período que foi o mais conturbado politicamente foi aquele que tivemos entre os anos de 1968 e 1981. Em 1968 tivemos a emergência de um forte e organizado movimento estudantil que, tal como ocorreu na França, realizou inúmeras manifestações.

Nos anos seguintes as lutas dos estudantes e de segmentos da classe operária e da intelectualidade  italianas resultaram na criação de inúmeros movimentos de Extrema-Esquerda, tais como o 'Prima Linea', as 'Brigate Rosse' (Brigadas Vermelhas) e o 'Lotta Continua'. Este último chegou a ter cerca de 20 mil militantes, 
sendo bastante atuante.

Destes movimentos de Extrema-Esquerda o mais famoso foram as 'Brigadas Vermelhas', que foram as responsáveis pelo sequestro e morte de Aldo Moro  (um dos líderes principais do Partido Democrata-Cristão) em Abril de 1978.

A polícia vai até o local do acidente conversar com as pessoas a respeito das circunstâncias da queda do avião em que Mattei estava. 

Esta foi uma época em que a Itália foi palco de inúmeros conflitos políticos e sociais que eram travados entre forças extremistas, de Direita e de Esquerda, nas ruas das principais cidades italianas. Tais grupos extremistas usaram de muita violência, promovendo inúmeros atentados terroristas e assassinatos de inimigos políticos e ideológicos. Até mesmo jornalistas, editores e juízes eram vítimas dessa violência.

Estes anos entraram para a história italiana com o nome de 'Anni di Piombo' (Anos de Chumbo), período no qual morreram cerca de 2 mil pessoas, que foram vítimas da violência política do período.

O ponto de partida para essa onda de violência política foi o famoso atentado que ocorreu em uma agência bancária na Piazza Fontana (Praça Fontana), no dia 12/12/1969, em Milão, e que foi realizado pela Extrema-Direita. Esse atentado brutal resultou na morte de 17 pessoas. Outras 88 ficaram feridas. Além disso, ocorreram também alguns atentados, de menor porte, em Roma.

Na época, as investigações sobre o atentado de Milão foram manipuladas no sentido de se tentar culpar um grupo da Esquerda Anarquista como o responsável pelo atentado, mas posteriormente descobriu-se que foram grupos de Extrema-Direita, que envolviam Militares, Serviço Secreto, políticos direitistas, Neofascistas e a Máfia.

Tais atentados perpetrados pela Extrema-Direita faziam parte da chamada 'Estratégia de Tensão', que visava promover um processo de radicalização política e ideológica a fim de justificar um Golpe de Estado que implantasse uma Ditadura Militar na Itália. 

Tal estratégia já havia sido usada na Grécia, o que resultou em um Golpe de Estado 
em 1967.
Mattei procura pelo engenheiro Ferrari, que comandou uma pesquisa na época do regime fascista, mas que havia sido demitido da AGIP. Ele que afirmava que existia uma grande jazida de gás natural na região Vale do Rio Pó. Mattei o recontratou e a jazida foi encontrada. 

A intenção desses grupos extremistas de Direita era culpar os grupos de Extrema-Esquerda pelos atentados em Milão e Roma, usando os mesmos para levar o Golpe de Estado adiante, mas o plano acabou fracassando. Aliás, qualquer semelhança com outros Golpes semelhantes na história não é mera coincidência. Exemplo disso foi incêndio do Reichstag alemão, em 27/02/1933, que foi usado por Hitler como justificativa para implantar a Ditadura na Alemanha, dizendo que o mesmo fazia parte de um 'Golpe de Estado Comunista', o que era uma deslavada mentira.  

Obs2: O cineasta italiano Marco Tullio Giordana dirigiu um excelente filme a respeito da história do atentado na Piazza Fontana e que se chama 'Romanzo di una Strage'.

A Itália já possuía uma bela história de produzir filmes que retratassem a realidade do país e do seu povo desde a época do Neorrealismo, que se desenvolveu a partir de 1943, com a realização do filme 'Ossessione', de Luchino Visconti, e que se consolidou com o grande sucesso alcançado por 'Roma Città Aperta', de Roberto Rossellini, de 1945. 'Ladrões de Bicicleta', (1948) de Vittorio De Sica, foi outra produção neorrealista que obteve grande sucesso, chegando até a conquistar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1950 e o Globo de Ouro do mesmo ano.

Aliás, isso ajuda a explicar porque vários dos principais cineastas italianos que realizaram os filmes do ciclo do 'Cinema Político' tiveram a sua formação na época do Neorrealismo, o que foram os casos de Francesco MaselliElio Petri e de Francesco Rosi (diretor deste 'Il Caso Mattei'), por exemplo. Eles trabalharam com vários dos principais diretores ligados ao Neorrealismo.
Operários italianos olham para o gás que é extraído do Vale do Rio Pó. Com a descoberta a região inicia um longo período de crescimento econômico.

Assim, Francesco Rosi trabalhou com Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Luigi Zampa e Luciano Emmer, seja na condição de roteirista ou como assistente de direção.

Entre os inúmeros filmes da época do ciclo do 'Cinema Político Italiano', nós tivemos:

- Os Delfins (Francesco Maselli; 1960);
- O Assassino (Elio Petri; 1961);
- Aquele que Sabe Viver (Dino Risi; 1962);
- As Mãos sobre a Cidade (Francesco Rosi; 1963);
- O Boom (Vittorio De Sica; 1963);
- Antes da Revolução (Bernardo Bertolucci; 1964);
- De Punhos Cerrados (Marco Bellocchio; 1965);
- Enquanto Durou o Nosso Amor (Florestano Vancini; 1966);
- Os Subversivos (Paolo e Vittorio Taviani; 1967);
- Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita (Elio Petri; 1970);
- A Classe Operária vai ao Paraíso (Elio Petri; 1971);
- Mimi, o metalúrgico (Lina Wertmuller; 1972);
- O Monstro na Primeira Página (Marco Bellocchio; 1972);
- Golpe de Estado à Italiana (Mario Monicelli; 1973);
- Nós que nos amávamos Tanto (Mario Monicelli; 1974);
- Cadáveres llustres (Francesco Rosi; 1976);
- Eu Tenho Medo (Damiano Damiani; 1977).

Enrico Mattei sempre recebia muito bem os jornalistas a fim de divulgar as suas realizações à frente da AGIP/ENI.

A trama do filme! 

A história do filme já foi resumida aqui e a mesma trata do assassinato de Enrico Mattei por meio de um atentado terrorista que derrubou o avião no qual ele viajava. Mattei vivia sofrendo ameaças de morte e foi alertado de que o seu avião poderia ser sabotado, mas dizia que se realmente desejassem a sua morte, então não haveria como impedir que isso acontecesse.

Mattei era o dirigente da principal holding empresarial italiana (a ENI), de caráter estatal, que era a maior investidora da Itália, atuando em inúmeros setores produtivos. O mais importante setor em que a ENI atuava era o de petróleo.

O filme de Francesco Rosi começa mostrando o local em que ocorreu a queda do avião em que Mattei viajava, um pouco antes de chegar ao aeroporto de Milão (ele caiu nas proximidades de Pavia). Mattei vinha da Sicília e o filme de Rosi mostra que o avião em que o dirigente da ENI viajou foi sabotado, de maneira a que explodisse em pleno ar quando começasse a se preparar para fazer a aterrissagem.

Durante o filme vemos a Polícia interrogando os moradores da região em que o avião explodiu, o que resultou na morte de Mattei, de um jornalista da revista 'Time' e do piloto. Durante os interrogatórios realizados no local do atentado um camponês chegou a declarar que tinha visto o avião que levava Mattei explodir em pleno ar, deixando claro que havia ocorrido um atentado terrorista.

Mas, posteriormente, o mesmo camponês, quando prestou depoimento para a Justiça, apresentou uma versão diferente, dizendo que não tinha visto explosão alguma. Então, o filme de Mattei deixa aberta a possibilidade que o camponês teria sido ameaçado. 

Dirigente de uma das 'Sete Irmãs', que se sentiam bastante incomodadas pela política de Enrico Mattei de levar a ENI a assinar contratos de exploração de petróleo com países árabes (Líbia, Argélia, Tunísia).

Inclusive, quando a Justiça italiana comprovou (em 1997) que Mattei tinha morrido em um atentado terrorista a Procuradoria de Pavia (local onde o avião explodiu), que havia reaberto o caso, anunciou que iria processar o agricultor pelo fato dele ter modificado o seu depoimento, o que impediu que fosse comprovado que Mattei havia sido assassinado.

O filme mistura vários momentos históricos, começando já com a morte de Mattei e depois conta a história de como ele se tornou o presidente da AGIP e, mais adiante, da ENI e, mais tarde, como ele enfrentou, sem medo, o imenso poder das 'Sete Irmãs'.

Rosi mostra que Mattei teve que lutar intensamente, desde o início, para conseguir provar que a AGIP (e a futura ENI) era uma empresa viável e que valia a pena manter a mesma funcionando. Ele usa, inclusive, de depoimentos verdadeiros de dirigentes italianos da época de Mattei e o próprio Rosi chega a participar do filme, como alguém que está investigando a morte de Mattei.


Obs3: Aliás, ao pedir que um jornalista originário da Sicília (Mauro de Mauro, do jornal siciliano "L'Ora", que era próximo do PCI) investigasse, em Setembro de 1970, as circunstâncias da morte de Mattei, o mesmo acabou sendo assassinado, o que mostra que o caso do assassinato de Mattei, mesmo depois de tanto tempo (o filme é de 1972), ainda era um tema tabu e bastante perigoso para se mexer. O jornal "L'Ora" sempre foi conhecido por combater e denunciar os crimes da Máfia e sofreu vários ataques da organização.
No filme, Francesco Rosi promove um debate entre Enrico Mattei e um jornalista liberal, que se opunha à sua política de promover grandes investimentos produtivos por meio da ENI.

Mas para que isso acontecesse ele sabia que era necessário encontrar alguma fonte de riqueza que a AGIP pudesse explorar e que gerasse lucros e benefícios para a economia italiana. E foi assim que o persistente Mattei encontrou entre inúmeros documentos da empresa a comprovação de que isso seria possível. Ele leu relatórios elaborados por técnicos da empresa que diziam existir petróleo e gás natural no Vale do Rio Pó (norte da Itália). 

Mattei procura pelo engenheiro da AGIP que comandou a prospecção (engenheiro Ferrari) e que havia sido demitido junto com outros técnicos tempos antes, quando o governo italiano ainda demonstrava intensão de fechar a empresa. Mattei o encontra em Milão (em frente à Catedral da Cidade, na 'Piazza del Duomo' ou 'Praza da Catedral') e o questiona sobre a viabilidade daqueles estudos. 

Ferrari explica que os estudos foram elaborados de maneira rigorosa e, assim, Mattei decide viajar com ele até a região em que haviam sido encontrados indícios da existência de gás natural e petróleo. 

Mattei e Ferrari encontram uma região desolada, com os trabalhadores que antigamente eram empregados da AGIP estando inativos, desempregados, que passavam o tempo jogando cartas em um barracão. Ferrari afirma que a jazida de gás natural é enorme e, depois de comprovar a existência das mesmas, Mattei recontrata o técnico e os trabalhadores que haviam sido demitidos.
Mattei discurso para diretores de grandes empresas de petróleo, incluindo as 'Sete Irmãs', e reafirma a defesa das políticas que adotou à frente da ENI, para irritação do Cartel privado que controlava o mercado mundial de petróleo.

Com a descoberta de grandes reservas de gás, Mattei conseguirá um empréstimo bancário e unindo tais recursos com o apoio de importantes lideranças políticas do governo do Partido Democrata-Cristão ele consegue levar adiante o seu projeto de manter a AGIP funcionando. Em 1953 ele irá transformar a mesma AGIP na ENI, que se tornará uma das maiores holdings da Europa no Pós-Guerra, atuando em vários setores da economia italiana. 

E graças à descoberta do gás, que era explorado apenas pela AGIP (e pela futura ENI) a industrialização do norte da Itália passou a contar com uma importante fonte de energia, visto que a Itália sempre sofreu muito para se desenvolver a sua indústria e a sua economia justamente pelo fato de ser um país pobre em recursos naturais. 

Para defender a ENI e poder enfrentar os interesses das chamadas 'Sete Irmãs', Mattei contava sempre a história de um gatinho, débil e fraco (que simbolizava a ENI), que queria se alimentar, mas que era impedido pelas 'Setes Irmãs' (representadas por cães raivosos). 

O filme clássico de Rosi também mostra que Mattei era muito habilidoso no seu relacionamento com a imprensa, procurando usar a mesma para fazer uma ampla publicidade das realizações da AGIP/ENI. E mesmo quando os jornalistas criticavam a sua atuação e da empresa ele procurava conversar com os mesmos a fim de prestar esclarecimentos e informações.
Mattei levou o jornalista que o contestava até a Tunísia para ver pessoalmente os investimentos que eram feitos pela ENI no país africano.

Assim, temos no filme um jornalista (sem nome) que representa esse segmento da imprensa, defensora do Liberalismo econômico, e que era extremamente crítico com a atuação da ENI e acusava a empresa de usar verbas secretas e de excesso de intervenção na economia. Mattei diz, claramente, para o jornalista que o mesmo está defendendo tais interesses privados e não os da Itália. A ENI, diz Mattei, gera trabalho para 50 mil pessoas altamente qualificadas. 

Assim, em vez de arrumar confusão publicamente com esse jornalista, Mattei o convida para acompanhar como era a sua rotina de trabalho, levando-o até a visitar uma plataforma de petróleo da ENI, bem como os países árabes (Líbia, Argélia, Tunísia), com os quais a ENI havia assinado inúmeros contratos de produção (baseado na divisão 75%/25%). 

Estes países haviam descoberto grandes reservas de petróleo, mas não possuíam o capital, a tecnologia e nem os trabalhadores qualificados para fazer o trabalho de pesquisa e extração do petróleo. A ENI fornecia tudo isso. Desta maneira, a ENI irá ocupar um importante espaço no mercado petrolífero global que, antigamente, era exclusivo das 'Sete Irmãs', o que irá deixar as mesmas profundamente irritadas. 

Esse conflito com essas empresas, que atuavam como um gigantesco Cartel Privado, dividindo o controle do petróleo no mundo entre elas, é representado no filme por um diretor de uma destas empresas (é um personagem alto, cabelos brancos, pele extremamente clara e corpulento) e que não aceita nenhuma das ideias e políticas de Enrico Mattei. 
Gian Maria Volonté tem mais uma excelente atuação neste filme clássico do 'Cinema Político Italiano'. Nesta cena, Mattei é recebido com festa pelo povo da Sicília.

Desta maneira, Mattei acaba desenvolvendo uma política externa própria, que leva em consideração os interesses italianos, o que faz com que a ENI assine até mesmo contratos de compra de petróleo soviético, para profunda irritação dos EUA. 

Com esse imenso crescimento da ENI, dentro da própria Itália o engenheiro Enrico Mattei se torna uma importante liderança econômica e também política e é requisitado até mesmo para usar a empresa a fim de salvar empresas que estão correndo o risco de quebrar, gerando aumento do desemprego. 

E quando a ENI encontra reservas de gás natural na Sicília ele foi recebido na ilha como se fosse o verdadeiro governante da Itália, com festas públicas, passeatas, com a presença de milhares de pessoas e reuniões e jantares com as figuras mais poderosas da ilha. 

Embora o filme não diga exatamente quem teriam sido os responsáveis pela morte de Enrico Mattei, no mesmo é sugerido que tivemos participação do Serviço Secreto francês e da Máfia. 

Em 1997, como já afirmei, finalmente foi comprovado, pela Justiça italiana, que essa versão que o filme apresenta para a morte de Enrico Mattei é verdadeira. Porém, até agora não se sabe quem foram os responsáveis pelo atentado que o vitimou.
O cineasta Francesco Rosi (de boina e óculos escuros) aparece em algumas cenas do seu filme, incluindo esta, feita em uma lanchonete do aeroporto de Catania, de onde saiu o avião que levava Mattei para Milão e cuja queda provocou a sua morte. 

Informações Adicionais!

Título: Il Caso Mattei (O Caso Mattei);
Diretor: Francesco Rosi;
Roteiro: Francesco Rosi e Tonino Guerra; Baseado no livro "L'Assassinio di Enrico Mattei", de autoria de Fúlvio Bellini e Alessandro Previdi;
Ano de Produção: 1972;
País de Produção: Itália;
Gênero: Drama Político;
Duração: 110 minutos;
Música: Piero Piccioni;
Fotografia: Pasqualino De Santis;
Elenco: Gian Maria Volonté (Enrico Mattei);
Prêmios: Melhor Filme - Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1972.
Globo de Ouro (Itália) - Melhor Filme em 1973. 



Links:

Itália admite que Enrico Mattei morreu em um atentado terrorista:

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/11/22/mundo/9.html

Enrico Mattei, a AGIP e as Sete Irmãs:

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cinema/Petrobras-um-filme-a-ser-revisto/59/32548

A história da ENI e seus conflitos com as 'Sete Irmãs':

https://jornalggn.com.br/historia/a-italia-contra-as-sete-irmas-do-petroleo-por-andre-araujo/

https://jornalggn.com.br/historia/eni-a-petroleira-italiana-da-guerra-fria/

Enrico Mattei e o jornalista McHale sorrindo, pouco antes da queda do avião que matou os dois. Com a morte de Mattei as 'Sete Irmãs' se livraram da pessoa que mais afetava negativamente aos seus interesses. 

Informações sobre o filme:

https://www.imdb.com/title/tt0068346/?ref_=ttfc_fc_tt

História do livro que deu origem ao filme:

http://www.archiviostorico.info/Rubriche/Librieriviste/recensioni4/assassinioEnricoMattei.htm

domingo, 14 de abril de 2019

Algumas curiosidades sobre a 'Nouvelle Vague': Bergman, Hitchcock, os Stones e 'Acossado'!

Algumas curiosidades sobre a 'Nouvelle Vague': Bergman, Hitchcock, os Stones e 'Acossado'! - Marcos Doniseti!
Harriet Anderson interpretou a primeira personagem feminina de perfil independente e que não era castigada no final.

'Monika e o Desejo' e a 'Nouvelle Vague'!

O filme 'Monika e o Desejo', de Ingmar Bergman, foi de grande importância para a Nouvelle Vague. 
A personagem Monika deste filme de  Ingmar Bergman, que é de 1953, foi a primeira personagem feminina que rompeu com o padrão vigente no cinema da época.
Até aquele momento as mulheres eram representadas, principalmente, como mães, esposas e donas-de-casa perfeitas, ou como 'femme fatale' que enganavam e manipulavam os homens, mas que eram punidas no final.
A Monika do filme de Ingmar Bergman foi a primeira personagem que enganou e manipulou os homens e que não foi punida no final.
Na época, isso não gerou grande repercussão, mas a situação mudou radicalmente com o advento da Nouvelle Vague, pois os cineastas do movimento (Godard, Truffaut..) usaram a personagem de Bergman como o modelo de representação feminina que passaram a usar em seus filmes.
Assim, a Patricia (de 'Acossado') e a Catherine  (de 'Jules et Jim') foram personagens que se basearam na Monika. Elas também enganaram os homens nestes dois filmes e não foram punidas no final.
E depois esse modelo de representação da mulher se espalhou pelo cinema mundial, graças à Nouvelle Vague.

Hitchcock X Nouvelle Vague!
A atriz Tippi Hedren interpreta Melanie Daniels em 'Os Pássaros', de Hitchcock.

Afinal, porque os pássaros atacam a personagem Melanie Daniels em 'The Birds', o clássico filme de Hitchcock que foi lançado em 1963 e foi baseado em uma história real?

Alguns dizem que a explicação é que Hitchcock não gostava de mulheres fortes e de espírito independente. 


Oras, é exatamente esse o perfil da Melanie Daniels, uma mulher que trabalha, ganha o seu próprio dinheiro, se interessa por um homem e toma a iniciativa de ir atrás dele, com o objetivo de conquistar o mesmo, fato este que desagrada a ex-namorada e a mãe do mesmo. 


Assim, talvez de forma não intencional, em 'The Birds' o cineasta inglês Hitchcock navegava na contramão dos filmes da Nouvelle Vague francesa, que divulgava justamente esse modelo de representação feminina, de mulher livre e independente, e que era inspirado na personagem Monika, do filme de Ingmar Bergman, 'Monika e o Desejo', de 1953.


Godard, Jean-Paul Belmondo, Jean Seberg e 'Acossado'!
'Mil vidas valem mais do que Uma', autobiografia de Jean-Paul Belmondo, é um ótimo livro e nele temos um capítulo dedicado à sua participação em 'Acossado', o clássico atemporal de Godard que promoveu uma verdadeira revolução cinematográfica.

Quando Godard chamou Jean-Paul Belmondo (que tinha 26 anos de idade) para participar de 'Acossado' o mesmo ficou surpreso, embora o cineasta tivesse avisado que o convidaria para atuar quando dirigisse o seu primeiro longa-metragem. Godard havia trabalhado com Belmondo em um curta-metragem ('Charlotte et son Jules') que havia sido filmado em 1958 e que se passava em um pequeno quarto de hotel, cena que Godard, de certa maneira, retrabalhou em 'Acossado'.

As filmagens de "Acossado" se realizaram entre os dias 17 de Agosto e 21 de Setembro de 1959 (21 dias úteis) e filme teve um orçamento bastante reduzido, custando 1/3 do orçamento médio de um filme francês da época, que era de 150 milhões de francos.

No entanto, apesar da sua agente ter tentado convencer Belmondo a não participar de "Acossado", ele decide aceitar a oferta de trabalho, mesmo ganhando pouco para isso (apenas 400 mil francos antigos). Aliás, a agente dele tentou convencer o ator a abandonar as filmagens pois dizia que aquele seria um fracasso e iria destruir a carreira de Belmondo. 

Quanto à Jean Seberg, ela tinha apenas 20 anos na época das filmagens e foi contratada pelo valor de US$ 15 mil, o que equivalia a 1/6 do valor do orçamento total de 'Acossado'.

Livro "A Nouvelle Vague e Godard' é um livro fantástico, de autoria de Michel Marie, que conta a origem da Nouvelle Vague e disseca o filme-manifesto 'Acossado'.

Jean Seberg era casada com um jovem advogado francês (François Moreuil) que ajudou a convencer a Columbia (com quem Jean Seberg tinha contrato) a permitir a participação dela no primeiro longa-metragem de Godard. A empresa dos EUA assinou contrato com o produtor do filme, Georges de Beauregard, que produziu inúmeros filmes da Nouvelle Vague

Godard queria muito a participação de Jean Seberg em 'Acossado' pois, segundo Belmondo, ele teria uma paixão secreta pela mesma e via nisso a possibilidade de se aproximar dela. De acordo com o que Belmondo escreveu em sua autobiografia, Godard lhe disse o seguinte a respeito da jovem e bela atria: "O que amo nela é o mistério que exala. Podemos pedir para interpretar qualquer coisa com verossimilhança. Jean pode ser uma garça, um anjo, uma puta. Uma virgem retardada ou uma ninfomaníaca". 

E o fato de que, na época (1959), Jean Seberg estava morando em Paris e de que seus dois primeiros filmes, que foram dirigidos por Otto Preminger, não tinham feito sucesso, tornou mais fácil a sua contratação para trabalhar em 'Acossado'

O próprio Godard se empenhou bastante para que Jean Seberg viesse a ser contratada, chegando a enviar um telegrama de 12 páginas para a Columbia, a quem ofereceu metade dos benefícios mundiais do filme, a fim de convencer a empresa a permitir a participação dela em 'À Bout De Souffle'.

Durante as filmagens, Jean Seberg estranhou bastante os métodos de trabalho poucos ortodoxos de Godard, considerando que o filme era 'pouco sério' e 'amadorístico'. Ela chegou a pensar em abandonar as filmagens. Godard chegou a dizer, em uma carta para Pierre Braunberger, que "Jean Seberg está transtornada e que lamenta estar no filme". 

Embora o genial cineasta tivesse, sim, um plano de trabalho rigoroso e um roteiro detalhado, ele reescrevia as cenas e os diálogos no dia em que as filmagens seriam realizadas e entregava as mesmas para Belmondo e Seberg faltando pouco tempo para começar a filmar, pois queria que eles improvisassem bastante. 

Godard exigiu a presença de da jovem e belíssima Jean Seberg em 'Acossado'. Ela e Belmondo pensaram que o filme iria ser um fracasso, mas se enganaram totalmente. 

Belmondo também afirma que ele e Jean Seberg se entenderam muito bem e se divertiram como crianças e que ambos tinham dúvidas a respeito do que aconteceria com aquele 'filme maluco'. Ele diz que os dois tinham consciências das inúmeras transgressões do filme e estavam convencidos de que o mesmo seria um fracasso. 

Belmondo mostra, em seu livro, que procurou acompanhar o lançamento de 'Acossado', que ocorreu em 16/03/1960, e que pediu à sua esposa (Élodie) que fosse assistir ao filme e ficasse observando as reações do público, pois se o mesmo fosse bem recebido pelo público 'intelectualizado e esnobe 'de Paris o mesmo seria um sucesso. Na volta ela diz, para Belmondo, que todos estavam comentando a respeito do filme. 

No dia seguinte, outros conhecidos lhe informam a respeito da recepção do público, sendo um deles diz que o escritor e cineasta Jean Cocteau afirmou o seguinte: "Ele teve sucesso onde todos os outros falharam", referindo-se a Godard, além de elogiar muito a atuação de Belmondo. O sucesso do filme foi tão grande que, no dia seguinte à estreia, ele passou a receber inúmeras ofertas de trabalho, com cachês altíssimos. 

Belmondo diz que a obra-prima de Godard havia se transformado em seu cartão de visitas e que "Acossado" era uma 'nova categoria de filme', que o mesmo constituía uma verdadeira 'explosão libertadora' e que ele havia dinamitado as regras morais e cinematográficas. 

Belmondo também diz que a genialidade de Godard passou a ser reconhecida mesmo pelos outros cineastas e que o filme era 'um fenômeno, um filme impregnado de vida e que exerce influência sobre ela'. Ele conclui dizendo que 'Nada mais será igual depois de Acossado, cujo efeito é libertador, ao contrário do que o título sugere.".

Belmondo acertou em cheio. 

Godard, os Stones e uma 'rapidinha' durante as sessões de gravação de 'Sympathy for the Devil'!
Ótimo livro da atriz e ex-esposa de Godard e na qual temos um relato bastante interessante a respeito do trabalho que o cineasta francês fez com os The Rolling Stones em 1968 e que resultou no filme 'Sympathy for the Devil'/'One Plus One'.

Em plena ebulição do Maio de 1968 francês, Godard foi até a Inglaterra cumprir um contrato que havia assinado anteriormente com produtores ingleses e que previa a realização de um filme com os Beatles, mas John Lennon não se interessou e inviabilizou o projeto. 

Porém, novos produtores ingleses (Iain Quarrier e Michael Pearson) compraram o contrato e conseguiram convencer os The Rolling Stones a realizar o filme com Godard, de quem os Stones diziam ser fãs.

No entanto, o fato de ter que abandonar a França em meio à Greve Geral, que mobilizou mais de 10 milhões de trabalhadores e paralisou o país por várias semanas, irritou profundamente Godard, que disse para a sua esposa, a jovem atriz Anne Wiazemsky, que ele havia conhecido durante as filmagens de 'A Chinesa': "Ainda por cima, estamos traindo os operários em greve! Somos fura-greves! Sabe o que isso significa?". 

Mas, enquanto Godard se irritava com o fato de ter que abandonar a França naquele momento, Anne não escondia a excitação pelo fato de que iria conhecer os integrantes dos The Rolling Stones... Ela diz que, durante as sessões de gravação tirou muitas fotos e que ficou fascinada com tudo, principalmente com os sorrisos de Mick Jagger e, em especial, com o guitarrista Keiht Richards. Godard percebeu isso e disse para Anne "Você gostou desse Stone"...

Quando se conheceram, Godard, Mick Jagger e os Stones se entenderam perfeitamente, desde o início, combinando que um não iria interferir no trabalho do outro. Os Stones fariam o seu trabalho (que seria finalizar o arranjo da música 'Sympathy for the Devil') e Godard faria o seu. 

No estúdio de gravação, Godard mandou instalar um travelling que imitava uma espécie de oito no chão e os técnicos ingleses seguiam todas as instruções do cineasta francês. 

Em determinado momento, a sessão de gravação teve que ser interrompida pois Keith Richards e Anita Pallenberg, a bela namorada do guitarrista, foram para trás de um biombo. Com isso, os Stones pararam de tocar e Mick Jagger avisou Godard, dizendo "Estão fazendo amor, vamos esperar", ao que Godard respondeu "Então vamos esperar também"...

Links:

Keith Richars, Mick Jagger, Godard, Bill Wyman, Charlie Watts e Brian Jones sorrindo. O relacionamento entre o genial cineasta e o grupo foi excelente durante as filmagens.

Livro de Anne Wiazemsky:

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/godard-e-eu/

Charlotte et son Jules:

http://www.portalbrasileirodecinema.com.br/godard/filme-1959-charlotte-et-son-jules.php?indice=filmes&anos=1950