domingo, 14 de abril de 2019

Algumas curiosidades sobre a 'Nouvelle Vague': Bergman, Hitchcock, os Stones e 'Acossado'!

Algumas curiosidades sobre a 'Nouvelle Vague': Bergman, Hitchcock, os Stones e 'Acossado'! - Marcos Doniseti!
Harriet Anderson interpretou a primeira personagem feminina de perfil independente e que não era castigada no final.

'Monika e o Desejo' e a 'Nouvelle Vague'!

O filme 'Monika e o Desejo', de Ingmar Bergman, foi de grande importância para a Nouvelle Vague. 
A personagem Monika deste filme de  Ingmar Bergman, que é de 1953, foi a primeira personagem feminina que rompeu com o padrão vigente no cinema da época.
Até aquele momento as mulheres eram representadas, principalmente, como mães, esposas e donas-de-casa perfeitas, ou como 'femme fatale' que enganavam e manipulavam os homens, mas que eram punidas no final.
A Monika do filme de Ingmar Bergman foi a primeira personagem que enganou e manipulou os homens e que não foi punida no final.
Na época, isso não gerou grande repercussão, mas a situação mudou radicalmente com o advento da Nouvelle Vague, pois os cineastas do movimento (Godard, Truffaut..) usaram a personagem de Bergman como o modelo de representação feminina que passaram a usar em seus filmes.
Assim, a Patricia (de 'Acossado') e a Catherine  (de 'Jules et Jim') foram personagens que se basearam na Monika. Elas também enganaram os homens nestes dois filmes e não foram punidas no final.
E depois esse modelo de representação da mulher se espalhou pelo cinema mundial, graças à Nouvelle Vague.

Hitchcock X Nouvelle Vague!
A atriz Tippi Hedren interpreta Melanie Daniels em 'Os Pássaros', de Hitchcock.

Afinal, porque os pássaros atacam a personagem Melanie Daniels em 'The Birds', o clássico filme de Hitchcock que foi lançado em 1963 e foi baseado em uma história real?

Alguns dizem que a explicação é que Hitchcock não gostava de mulheres fortes e de espírito independente. 


Oras, é exatamente esse o perfil da Melanie Daniels, uma mulher que trabalha, ganha o seu próprio dinheiro, se interessa por um homem e toma a iniciativa de ir atrás dele, com o objetivo de conquistar o mesmo, fato este que desagrada a ex-namorada e a mãe do mesmo. 


Assim, talvez de forma não intencional, em 'The Birds' o cineasta inglês Hitchcock navegava na contramão dos filmes da Nouvelle Vague francesa, que divulgava justamente esse modelo de representação feminina, de mulher livre e independente, e que era inspirado na personagem Monika, do filme de Ingmar Bergman, 'Monika e o Desejo', de 1953.


Godard, Jean-Paul Belmondo, Jean Seberg e 'Acossado'!
'Mil vidas valem mais do que Uma', autobiografia de Jean-Paul Belmondo, é um ótimo livro e nele temos um capítulo dedicado à sua participação em 'Acossado', o clássico atemporal de Godard que promoveu uma verdadeira revolução cinematográfica.

Quando Godard chamou Jean-Paul Belmondo (que tinha 26 anos de idade) para participar de 'Acossado' o mesmo ficou surpreso, embora o cineasta tivesse avisado que o convidaria para atuar quando dirigisse o seu primeiro longa-metragem. Godard havia trabalhado com Belmondo em um curta-metragem ('Charlotte et son Jules') que havia sido filmado em 1958 e que se passava em um pequeno quarto de hotel, cena que Godard, de certa maneira, retrabalhou em 'Acossado'.

As filmagens de "Acossado" se realizaram entre os dias 17 de Agosto e 21 de Setembro de 1959 (21 dias úteis) e filme teve um orçamento bastante reduzido, custando 1/3 do orçamento médio de um filme francês da época, que era de 150 milhões de francos.

No entanto, apesar da sua agente ter tentado convencer Belmondo a não participar de "Acossado", ele decide aceitar a oferta de trabalho, mesmo ganhando pouco para isso (apenas 400 mil francos antigos). Aliás, a agente dele tentou convencer o ator a abandonar as filmagens pois dizia que aquele seria um fracasso e iria destruir a carreira de Belmondo. 

Quanto à Jean Seberg, ela tinha apenas 20 anos na época das filmagens e foi contratada pelo valor de US$ 15 mil, o que equivalia a 1/6 do valor do orçamento total de 'Acossado'.

Livro "A Nouvelle Vague e Godard' é um livro fantástico, de autoria de Michel Marie, que conta a origem da Nouvelle Vague e disseca o filme-manifesto 'Acossado'.

Jean Seberg era casada com um jovem advogado francês (François Moreuil) que ajudou a convencer a Columbia (com quem Jean Seberg tinha contrato) a permitir a participação dela no primeiro longa-metragem de Godard. A empresa dos EUA assinou contrato com o produtor do filme, Georges de Beauregard, que produziu inúmeros filmes da Nouvelle Vague

Godard queria muito a participação de Jean Seberg em 'Acossado' pois, segundo Belmondo, ele teria uma paixão secreta pela mesma e via nisso a possibilidade de se aproximar dela. De acordo com o que Belmondo escreveu em sua autobiografia, Godard lhe disse o seguinte a respeito da jovem e bela atria: "O que amo nela é o mistério que exala. Podemos pedir para interpretar qualquer coisa com verossimilhança. Jean pode ser uma garça, um anjo, uma puta. Uma virgem retardada ou uma ninfomaníaca". 

E o fato de que, na época (1959), Jean Seberg estava morando em Paris e de que seus dois primeiros filmes, que foram dirigidos por Otto Preminger, não tinham feito sucesso, tornou mais fácil a sua contratação para trabalhar em 'Acossado'

O próprio Godard se empenhou bastante para que Jean Seberg viesse a ser contratada, chegando a enviar um telegrama de 12 páginas para a Columbia, a quem ofereceu metade dos benefícios mundiais do filme, a fim de convencer a empresa a permitir a participação dela em 'À Bout De Souffle'.

Durante as filmagens, Jean Seberg estranhou bastante os métodos de trabalho poucos ortodoxos de Godard, considerando que o filme era 'pouco sério' e 'amadorístico'. Ela chegou a pensar em abandonar as filmagens. Godard chegou a dizer, em uma carta para Pierre Braunberger, que "Jean Seberg está transtornada e que lamenta estar no filme". 

Embora o genial cineasta tivesse, sim, um plano de trabalho rigoroso e um roteiro detalhado, ele reescrevia as cenas e os diálogos no dia em que as filmagens seriam realizadas e entregava as mesmas para Belmondo e Seberg faltando pouco tempo para começar a filmar, pois queria que eles improvisassem bastante. 

Godard exigiu a presença de da jovem e belíssima Jean Seberg em 'Acossado'. Ela e Belmondo pensaram que o filme iria ser um fracasso, mas se enganaram totalmente. 

Belmondo também afirma que ele e Jean Seberg se entenderam muito bem e se divertiram como crianças e que ambos tinham dúvidas a respeito do que aconteceria com aquele 'filme maluco'. Ele diz que os dois tinham consciências das inúmeras transgressões do filme e estavam convencidos de que o mesmo seria um fracasso. 

Belmondo mostra, em seu livro, que procurou acompanhar o lançamento de 'Acossado', que ocorreu em 16/03/1960, e que pediu à sua esposa (Élodie) que fosse assistir ao filme e ficasse observando as reações do público, pois se o mesmo fosse bem recebido pelo público 'intelectualizado e esnobe 'de Paris o mesmo seria um sucesso. Na volta ela diz, para Belmondo, que todos estavam comentando a respeito do filme. 

No dia seguinte, outros conhecidos lhe informam a respeito da recepção do público, sendo um deles diz que o escritor e cineasta Jean Cocteau afirmou o seguinte: "Ele teve sucesso onde todos os outros falharam", referindo-se a Godard, além de elogiar muito a atuação de Belmondo. O sucesso do filme foi tão grande que, no dia seguinte à estreia, ele passou a receber inúmeras ofertas de trabalho, com cachês altíssimos. 

Belmondo diz que a obra-prima de Godard havia se transformado em seu cartão de visitas e que "Acossado" era uma 'nova categoria de filme', que o mesmo constituía uma verdadeira 'explosão libertadora' e que ele havia dinamitado as regras morais e cinematográficas. 

Belmondo também diz que a genialidade de Godard passou a ser reconhecida mesmo pelos outros cineastas e que o filme era 'um fenômeno, um filme impregnado de vida e que exerce influência sobre ela'. Ele conclui dizendo que 'Nada mais será igual depois de Acossado, cujo efeito é libertador, ao contrário do que o título sugere.".

Belmondo acertou em cheio. 

Godard, os Stones e uma 'rapidinha' durante as sessões de gravação de 'Sympathy for the Devil'!
Ótimo livro da atriz e ex-esposa de Godard e na qual temos um relato bastante interessante a respeito do trabalho que o cineasta francês fez com os The Rolling Stones em 1968 e que resultou no filme 'Sympathy for the Devil'/'One Plus One'.

Em plena ebulição do Maio de 1968 francês, Godard foi até a Inglaterra cumprir um contrato que havia assinado anteriormente com produtores ingleses e que previa a realização de um filme com os Beatles, mas John Lennon não se interessou e inviabilizou o projeto. 

Porém, novos produtores ingleses (Iain Quarrier e Michael Pearson) compraram o contrato e conseguiram convencer os The Rolling Stones a realizar o filme com Godard, de quem os Stones diziam ser fãs.

No entanto, o fato de ter que abandonar a França em meio à Greve Geral, que mobilizou mais de 10 milhões de trabalhadores e paralisou o país por várias semanas, irritou profundamente Godard, que disse para a sua esposa, a jovem atriz Anne Wiazemsky, que ele havia conhecido durante as filmagens de 'A Chinesa': "Ainda por cima, estamos traindo os operários em greve! Somos fura-greves! Sabe o que isso significa?". 

Mas, enquanto Godard se irritava com o fato de ter que abandonar a França naquele momento, Anne não escondia a excitação pelo fato de que iria conhecer os integrantes dos The Rolling Stones... Ela diz que, durante as sessões de gravação tirou muitas fotos e que ficou fascinada com tudo, principalmente com os sorrisos de Mick Jagger e, em especial, com o guitarrista Keiht Richards. Godard percebeu isso e disse para Anne "Você gostou desse Stone"...

Quando se conheceram, Godard, Mick Jagger e os Stones se entenderam perfeitamente, desde o início, combinando que um não iria interferir no trabalho do outro. Os Stones fariam o seu trabalho (que seria finalizar o arranjo da música 'Sympathy for the Devil') e Godard faria o seu. 

No estúdio de gravação, Godard mandou instalar um travelling que imitava uma espécie de oito no chão e os técnicos ingleses seguiam todas as instruções do cineasta francês. 

Em determinado momento, a sessão de gravação teve que ser interrompida pois Keith Richards e Anita Pallenberg, a bela namorada do guitarrista, foram para trás de um biombo. Com isso, os Stones pararam de tocar e Mick Jagger avisou Godard, dizendo "Estão fazendo amor, vamos esperar", ao que Godard respondeu "Então vamos esperar também"...

Links:

Keith Richars, Mick Jagger, Godard, Bill Wyman, Charlie Watts e Brian Jones sorrindo. O relacionamento entre o genial cineasta e o grupo foi excelente durante as filmagens.

Livro de Anne Wiazemsky:

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/godard-e-eu/

Charlotte et son Jules:

http://www.portalbrasileirodecinema.com.br/godard/filme-1959-charlotte-et-son-jules.php?indice=filmes&anos=1950

Um comentário:

Atif islam disse...

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