domingo, 9 de abril de 2017

‘Ossessione’ – Baseado em romance Policial Noir, Visconti fez o primeiro filme Neorrealista! – Marcos Doniseti!

‘Ossessione’ – Baseado em romance Policial Noir, Visconti fez o primeiro filme Neorrealista! – Marcos Doniseti!
'Ossessione', filme de Luchino Visconti de 1943, é considerado o primeiro filme Neo-Realista. 
As origens do Neorrealismo Italiano!

Durante muitos anos desenvolveu-se um debate sobre qual teria sido a origem do Neo-Realismo italiano, que foi um dos mais influentes e importantes ‘movimentos’ cinematográficos da história. Martin Scorsese diz, no documentário ‘Viagem à Itália’, que este foi o mais importante movimento da história do Cinema. 

‘Roma, Cidade Aberta’ foi considerado pelos críticos, e por muitos anos, como sendo o marco inaugural do Neo-Realismo, mas nem Roberto Rossellini e Luchino Visconti concordavam com isso.

A respeito dessa polêmica, Visconti declarou o seguinte: 

“Por mais que se diga... "mas, já havia ‘O Navio-Hospitale’ ‘O Homem da Cruz’, de Rossellini, ou ‘Uomini sul Fondo’, de De Robertis", esses filmes, de fato, eram documentários. A meu ver, é absolutamente necessário deixar de lado os dois filmes de Rossellini que citei, porque eram fascistas, de propaganda fascista. De Sica ainda rodava filmes como ‘Teresa Venerdi’, ‘Un Garibaldino ai Convento’ e, pouco depois de ‘Obsessão’, realizou ‘A Culpa dos Pais’, que já seguia a mesma linha. [...] O termo "neo-realismo" nasceu com ‘Obsessão’.”.

Rossellini, por sua vez, afirmou o seguinte sobre as origens do Neo-Realismo: 

“Se o chamado neo-realismo se revelou ao mundo de forma mais impressionante através de ‘Roma, Cíttà Aperta’, cabe aos outros julgar. Eu vejo o nascimento do neo-realismo mais para lá: em primeiro lugar, em alguns documentários de guerra romanceados, nos quais também eu estou representado com ‘La Nave Bianca’; depois, nos verdadeiros filmes de ficção sobre a guerra, dos quais fui colaborador no roteiro, como ‘Luciano Serra Pilota’, ou realizador, como ‘L'uomo Âalla Croce’; por fim, e sobretudo, em certos filmes menores, como ‘Avanti cè Posto’,’L'ultima Carrozzella’ e ‘Campo de' Fiori’, em que a fórmula do neo-realismo, se assim o quisermos chamar, vem se compondo através das criações espontâneas dos atores: de Anna Magnani e de Aldo Fabrizi, particularmente.”.
Luchino Visconti era chamado de 'Conde Vermelho', pois apesar da sua origem aristocrática ele era um marxista declarado. Mas ele sempre preservou uma grande autonomia em relação ao PCI, ao qual era ligado. 
Obs1: As afirmações de Rossellini e Visconti sobre as origens do Neo-Realismo foram retiradas do capítulo ‘Neo-Realismo Italiano’, de autoria de Mariarosaria Fabris, que está incluído no livro ‘História do Cinema Mundial’ (Fernando Mascarello; org.).

Foi o próprio montador de ‘Ossessione’, Mario Serandrei, o responsável por usar da expressão Neo-Realismo, pela primeira vez, para definir este filme de Visconti, que foi realizado em 1943 e que foi repudiado pelo regime Fascista, pois mostrava uma imagem bastante ‘negativa’ (ou melhor, realista) da Itália.

O regime Fascista, liderado por Mussolini, dava grande valor ao Cinema, que era a principal forma de entretenimento popular na era pré-Televisão. 

O ‘Duce’ Mussolini (um ex-socialista que, depois, tornou-se um líder da Extrema-Direita e inimigo mortal do Socialismo, o qual tentou exterminar, aliando-se a Hitler para atingir esse objetivo) considerava, tal como Lenin, que o Cinema era a mais poderosa das artes, principalmente no aspecto de influenciar as ideias e o comportamento das massas populares, o que era de grande importância para o regime fascista. 
Mussolini concordava com Lenin, que considerava o Cinema como sendo uma forma de arte de grande importância para influenciar as ideias e o comportamento da população. Por isso ele investiu na construção da Cinecittà, que produziu mais de 330 filmes entre 1937 e 1943.
Para poder concorrer com a hegemônica produção de Hollywood, que dominava o mercado italiano (e mundial, claro), Mussolini chegou a construir uma indústria cinematográfica italiana.

Para isso, ele construiu a famosa ‘Cinecittà’ (Cidade do Cinema), nos subúrbios de Roma, que era um conjunto de grandes estúdios cinematográficos. Ela foi inaugurada em 1937 e produziu mais de 330 filmes até 1943, quando a Itália foi invadida pelos Aliados (EUA e Grã-Bretanha) em Julho do mesmo ano. 

No mesmo mês e ano, Mussolini foi derrubado do governo e acabou sendo preso. E em Setembro de 1943 o novo governo italiano passou para o lado dos Aliados na Guerra, enquanto que os alemães invadiam o Norte e o Centro da Itália, onde criaram a chamada ‘República de Saló’. 

Esta foi um regime fantoche fascista, que formalmente era liderado por Mussolini (que havia sido libertado da prisão por um comando nazista liderado por um capitão da SS, Otto Skorzeny), mas que, na prática, era controlado pelos Nazistas alemães.
A revista 'Cinema' também foi criada pelo regime fascista de Mussolini. Seu diretor era Vittorio Mussolini, o filho mais velho do Duce. Nela se reuniu uma equipe de críticos que se propunha a renovar o cinema italiano e que, depois, fizeram parte do Neorrealismo, incluindo Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni e Giuseppe De Santis. 
Devido à forte presença militar alemã no Norte da Itália, este governo nazi-fascista somente foi derrubado nos dias finais de Abril de 1945, quando Mussolini foi capturado e enforcado pela Resistência. Isso aconteceu depois de uma brutal guerra civil que devastou a região e na qual a Resistência antifascista teve um papel fundamental, lutando ao lado das tropas Aliadas. 

Além da ‘Cinecittà’, o regime fascista também apoiou a criação de uma ‘Escola de Cinema’, chamada de ‘Centro Experimental de Cinematografia’, que começou a funcionar em 1939 e que formou inúmeros diretores, atores, atrizes, roteiristas e técnicos. 

Muitos destes profissionais tiveram um papel fundamental nas produções Neo-Realistas, bem como em todo o cinema italiano do Pós-Guerra. Michelangelo Antonioni foi um destes profissionais. 

E durante o governo de Mussolini também tivemos a criação da revista ‘Cinema’, que era publicada a cada quinze dias e que tinha Vittorio Mussolini (o filho mais velho do Duce) como diretor. 
Vittorio De Sica, Roberto Rosselini e Federico Fellini foram três dos principais nomes do cinema italiano e mundial. Os três estiveram, em algum momento de suas carreiras, ligados ao Neo-Realismo. 
No entanto, a maior parte dos filmes produzidos durante o regime Fascista eram puramente escapistas, mostrando a vida dos ricos, da burguesia italiana, não tendo qualquer semelhança com as condições de vida da imensa maioria dos italianos, que viviam na pobreza e na miséria. 

Estes filmes eram muito influenciados pela produção de Hollywood e eram chamados de ‘Telefone Bianchi’ (telefones brancos), pois branca era a cor dos telefones da burguesia, enquanto o povo italiano usava dos tradicionais telefones pretos. 

Na época do Fascismo, também eram realizadas muitas comédias leves e produções históricas. Alguns filmes até mostravam as paisagens naturais e o povo italiano (que são duas das principais características do Neo-Realismo), mas isso era feito de forma idealizada, como se a vida dos italianos fosse uma verdadeira maravilha. 

O único filme produzido na época do Fascismo que chegou a mostrar a realidade das periferias de Roma (com toda a sua pobreza e desemprego) foi ‘Ragazzo’, de Ivo Perilli. 
Gino Costa (interpretado por Massimo Girotti) vivia de forma errante, fazendo trabalhos temporários e mal remunerados, por toda a Itália. 
Em função disso, ou seja, de ser muito realista, o filme foi proibido pelo próprio Mussolini, que disse ‘Essas coisas não existem mais’, a respeito da pobreza e do desemprego que grassavam na Itália da época. 

Obs2: As informações sobre a proibição do filme ‘Ragazzo’ foram retiradas do livro ‘Mussolini’, de Pierre Milza, págs. 121-122, Editora Nova Fronteira. 

Obs3: Visconti era um Conde, filho de um Duque, sendo um membro da Nobreza, portanto. Ele viveu muitos anos na França, onde conheceu Jean Renoir, um dos expoentes do chamado ‘Realismo Poético Francês’, com quem trabalhou no filme ‘Une Partie de Campagne’. Neste seu ‘período francês’ Visconti se conectou ao PCF (Partido Comunista Francês). Retornando para a Itália, ele se ligou ao PCI (Partido Comunista Italiano), embora nunca tenha se filiado à legenda, ficando conhecido como o ‘Conde Vermelho’, devido ao seu marxismo declarado. Na Itália, Visconti passou a atuar na Resistência, chegando a ser preso pela Gestapo em 1943 (ele ficou três meses na prisão). Visconti também voltou a trabalhar com Jean Renoir, no filme ‘La Tosca’ e em 1940 ele passou a trabalhar na revista ‘Cinema’, dirigida por Vittorio Mussolini, o filho do ‘Duce’. ‘Ossessione’ foi o seu primeiro filme. Em uma entrevista de 1976 (ano em que veio a falecer) Visconti disse: “Prefiro contar as derrotas, descrever as almas solitárias, os destinos esmagados pela realidade”. Estas informações foram retiradas do livro ‘O Cinema de... De Sica, Rossellini, Visconti, Antonioni e Fellini’, de Roberto de Castro Neves (págs. 47-50; Ed. Mauad X, 2012). 
Bragana cobra Gino por este não ter pago a conta no restaurante. Para isso, Gino fará alguns serviços para Bragana, consertando o caminhão do mesmo. 
A trama do filme!

Vittorio Mussolini, o filho do ditador italiano, disse, a respeito de ‘Ossessione’, que ‘Esta não é a Itália’, já que a trama do filme mostrava um país e um povo empobrecidos e sem esperança de melhorar de vida por meio do trabalho duro e honesto.

Desemprego, fome, miséria, crime, prostituição e desesperança são algumas das características da Itália que são mostradas neste filme fundamental de Visconti. 

Então, isso explica os motivos que levaram o filho do ‘Duce’ a detestar o filme. 

O roteiro de ‘Ossessione’ é baseado no livro ‘O Destino Bate à Porta’, um clássico do romance policial Noir que foi escrito por James M. Cain, mas Visconti não mostrou isso no filme, o que criou complicações para a sua exibição nos EUA. 

Visconti fez algumas mudanças na trama, adaptando a mesma para a realidade italiana. 

Ele transferiu a ação dos EUA da época da Grande Depressão para a Itália de Mussolini (no início da década de 1940) e introduziu um novo personagem na história (Spagnolo, ao qual é sugerido ser um homossexual), o que estava ausente do livro. 
A bonita Giovanna sente-se atraída por Gino logo que o vê pela primeira vez. E ele corresponde ao interesse. 
Obs4: Luchino Visconti era homossexual assumido e vários dos seus principais filmes tratam do assunto, como é o caso de ‘Morte em Veneza’ e ‘Os Deuses Malditos’.

Visconti também introduziu uma nova personagem feminina na história (Anita), uma jovem bonita que desperta o interesse de Gino e por quem ela também se apaixona. 

Mas na essência, ou seja, a possibilidade de ascensão social e econômica apenas por meio de atividades criminosas e o final trágico, a história do filme é bastante fiel ao livro de James M. Cain.

Obs5: Em 1946, tivemos a produção da versão estadunidense do livro de James M. Cain, que recebeu o mesmo título do livro (O Destino Bate à Porta) e que foi dirigido por Tay Garnett. O papel feminino principal ficou com a belíssima Lana Turner. John Garfield fez o protagonista masculino, amante da personagem da sensual Lana Turner. 

No filme de Visconti, vemos Gino (interpretado por Massimo Girotti), que é um trabalhador errante e desempregado e que vive de fazer trabalhos eventuais enquanto viaja pelo país. 
Giovanna e Gino se aproveitam da ausência de Bragana para ficarem juntos. 
Gino acaba por se envolver romanticamente com Giovanna (interpretada por Clara Calamai), a bonita e sensual esposa do proprietário (Giuseppe Bragana) de um restaurante de beira de estrada que fica próximo de Ancona. 

Gino é tão miserável que sequer tem dinheiro suficiente para comprar uma passagem de trem e viaja, mesmo sem ter autorização para isso, nas caçambas de caminhões. 

Nem dinheiro para se alimentar ele possui. Inclusive, ele chegou a comer no restaurante de Giovanna e saiu sem pagar. Apesar disso, ele é honesto, recusando-se a virar um ladrão, vivendo de trabalhos temporários e mal remunerados. 

Obs6: Agora, com a aprovação das ‘reformas’ trabalhistas, previdenciária e da Terceirização generalizada, pelo governo Neoliberal de Temer, milhões de trabalhadores brasileiros, principalmente os de baixa qualificação, irão viver igual a Gino. 

E assim ele acaba chegando ao restaurante onde Giovanna trabalha, junto com o marido (Giuseppe). Gino mal entra no local e a atração entre ele e a mulher é imediata. Ele chegou a ver a bonita mulher sentada, em cima de uma mesa, balançando as suas belas pernas, uma cena que foi bastante ousada para a época. 
Giovanna é uma mulher casada, mas infeliz, pois ela nunca amou Bragana, o seu marido. 
Para poder pagar a refeição, Gino concorda em fazer alguns serviços para Giuseppe, consertando o hidrante e o caminhão do mesmo. E é neste momento que o romance entre ele e Giovanna engata uma quinta, sem que o marido desconfie de qualquer coisa. Giuseppe passa a confiar rapidamente em Gino pelo fato do mesmo ter feito os serviços combinados. 

Giovanna confessa, para Gino, que ela se casou com Giuseppe apenas porque vivia na miséria, entregando-se para os homens nas ruas, ou seja, ela era uma prostituta. Isso é dito indiretamente por ela, o que deve ter sido uma maneira de burlar a censura imposta pelo regime Fascista. 

Logo, o casamento com Giuseppe foi uma maneira que ela encontrou de sair daquela vida. Mas ela diz para Gino que, de fato, não tem nenhuma atração pelo marido e que sente repulsa pelo mesmo. 

Obs7: Inúmeros filmes neorrealistas mostram a prostituição na Itália neste período, pois esta era, muitas vezes, a única maneira pela qual uma mulher poderia ganhar algum dinheiro naquela época de grande miséria no país, principalmente nos primeiros anos do Pós-Guerra.
Gino e Giovanna tentaram ir embora, mas ela desistiu e permaneceu vivendo com Bragana. 
Gino e Giovanna querem ficar juntos, mas ele não consegue viver com ela enquanto essa permanecesse casada, até porque Giuseppe é ciumento e vigia a esposa. Eles tentam fugir, aproveitando-se da ausência temporária de Giuseppe, mas ela acaba desistindo. 

Com isso, Gino vai embora e embarca em um trem de forma clandestina. 

No trem, ele conhece Spagnolo, que paga a sua passagem, dizendo que é preciso que as pessoas se ajudem. E também é possível perceber que ele se sente atraído por Gino. Spagnolo tem esse apelido porque esteve na Espanha, o que é uma clara referência à Guerra Civil Espanhola (1936-1939). 

E fica bem claro, pelo seu discurso de querer ajudar aos demais, que Spagnolo é esquerdista e que lutou contra Franco na guerra espanhola. E também é sugerido que ele é homossexual, principalmente quando ele disse para Gino, mais adiante, que gostava de visitar o cais de Gênova, pois ali ele conseguia fazer muitos ‘amigos’. 

Eles ficam um tempo juntos, chegando a dormir no mesmo quarto de uma pensão, mas não há qualquer evidência de que eles tenham tido alguma relação sexual. Tudo fica no plano da sugestão. 
'Spagnolo' é um veterano da Guerra Civil Espanhola, na qual lutou contra Franco, e se torna amigo de Gino, ao qual ajudou sem sequer conhecê-lo. 
Gino sai de Ferrara e vai para Ancona, onde pensa em embarcar em um navio, indo embora dali, mas o seu amor por Giovanna impede que ele faça isso. 

Em Ancona ele participa de apresentações públicas de Spagnolo, mas no local ocorre também uma festival de canto lírico e Giuseppe Bragana participa do mesmo. 

Ele e Giovanna acabam encontrando Gino, que os acompanha na apresentação. 

É claro que isso faz com que Gino e Giovanna retomem o romance, sendo que ela quer aproveitar a situação para eliminar o marido e Gino acaba concordando. 

Aproveitando-se do fato de que Giuseppe havia bebido muito e era noite, no retorno para casa, Gino substitui o mesmo na direção do veículo. Na manhã seguinte o veículo aparece tombado numa ribanceira e Giuseppe está morto. Fica claro que o acidente foi forjado e que o marido de Giovanna foi assassinado por Gino.

Gino e Giovanna são interrogados pela Polícia e entram em contradição, o que leva o comissário a continuar com as investigações. E Gino passa a ser seguido por um Policial. 
Gino e Giovana são interrogados pela Polícia após a morte de Bragana, que ocorreu em circunstâncias suspeitas.  
Apesar do fato de que agora eles estão juntos, Gino sente-se muito mal com o fato de ter assassinado Giuseppe e briga constantemente com Giovanna. Por isso, ele diz que deseja ir embora, mas ela se recusa. 

Afinal, agora ela é a proprietária de um restaurante e ainda irá receber o dinheiro do Seguro, desfrutando de uma vida livre, tranquila e estável, o que é algo totalmente novo para ela. Ela decide movimentar o restaurante, contratando grupos musicais e organizando festas que lhe proporcionam um bom lucro. 

Desta maneira, Gino passa a brigar com Giovanna e a ficar bêbado constantemente. 

No dia da festa, Gino reencontra o Spagnolo, mas eles discutem, pois Gino não quer ir embora junto com o amigo e prefere ficar por ali mesmo. Assim, Gino está perdido. 

Ele não quer ir embora e nem ficar por ali. Ele sabe apenas o que não quer, mas ainda não descobriu o deseja. 
Gino conhece a jovem e bonita Anita. Eles também sentem uma atração mútua e se envolvem romanticamente, mas ele se recusa a ter relações com ela. Gino é um homem ético. 
A discussão termina com Gino agredindo Spagnolo, que toma a iniciativa de procurar a Polícia para contar o que sabe a respeito das circunstâncias da morte de Giuseppe. 

Gino e Giovanna vão à Seguradora, em Ferrara, pois Giuseppe havia feito um seguro de vida no valor de 50 mil Liras sem que Giovanna soubesse disso. Porém, Gino fica convencido de que Giovanna sabia do seguro de vida de Giuseppe e de que o teria usado para matar o marido e ficar com o dinheiro.

Nesta viagem para Ferrara, enquanto aguarda por Giovanna, Gino acaba conhecendo uma bonita e sensual jovem (Anita). Ela se apresenta como bailarina, mas na verdade é uma prostituta. A atração entre eles é imediata, mas ele evita de ter uma relação com a jovem, embora essa demonstre interesse. Ele não quer se aproveitar dela. 

Apesar de conhecer Anita há pouco tempo, Gino percebe que ela é generosa e conta tudo para a bela jovem: Seu romance com Giovanna, as circunstâncias do crime que cometeu. 
Anita fica desolada com o fato de Gino ter ido embora. 
Aliás, essa é uma característica de ‘Ossessione’, ou seja, tudo acontece rapidamente. 

Assim, as pessoas mal se conhecem e já estão se envolvendo. Foi assim com Gino e Giovanna e, também, com Gino e Anita. Giuseppe também passou a confiar rapidamente em Gino, depois dos serviços que ele fez. E o crime cometido por Gino também acontece sem que os detalhes do mesmo fossem mostrados. 

Gino também percebe que está sendo perseguido pela Polícia. Mesmo depois de ficar sabendo tudo o que ele fez, Anita continua gostando de Gino e decide ajuda-lo a fugir.

A esperta Giovanna viu os dois juntos e briga com Gino em público, sendo que este a esbofeteia duas vezes, o que chama a atenção das pessoas. Enquanto isso, Anita observa tudo. E o Policial que vigiava Gino vai atrás deste, que consegue fugir (com a ajuda de Anita) na caçamba de um caminhão.

Dois homens procuram a Polícia, para contar o que viram no dia do ‘acidente’, deixando claro para o Comissário que Giuseppe foi assassinado por Gino. 
Gino e Giovanna fogem da Polícia, que os perseguem, e sonham em viver juntos e serem felizes.
Gino volta para o restaurante, junto com Giovanna, e eles decidem ficar juntos e ir embora dali. Na viagem, no entanto, o carro em que estavam acaba caindo numa ribanceira depois que Gino tentou fazer uma ultrapassagem. 

Giovanna morre no acidente, Gino carrega o seu corpo (momento em que podemos ver as coxas e até uma parte da b...a de Clara Calamai) e o coloca na estrada, sentindo-se arrasado com a tragédia. O Policial diz ‘vamos’ para Gino, que chora. Ele sabe que a sua vida acabou. 

Assim, o final será trágico para todos os envolvidos na trama: Gino, Giovanna, Anita. Afinal, para os derrotados e perdedores que vivem em uma sociedade desigual e que não lhes permite alcançar os seus objetivos de forma honesta não podem existir finais felizes. 

Fim. 

Obs8: Em ‘Cronaca di un Amore’ (filme de 1950), que foi o primeiro longa-metragem de Michelangelo Antonioni, também temos a influência do Policial Noir, bem como uma história parecida com a de ‘Ossessione’. No filme de Antonioni, uma jovem e bela mulher (Paola, interpretada pela belíssima Lucia Bosé) e o amante (interpretado pelo mesmo Massimo Girotti de ‘Ossessione’) tentam se livrar do marido rico da mesma. A principal diferença em relação à ‘Ossessione’ é que a trama do filme de Antonioni já se desenvolve numa Itália diferente daquela que Visconti mostrou em seu filme, que é a do começo da década de 1940. Já em ‘Cronaca di un Amore’ o país passava pelo período de reconstrução (que foi possível graças ao ‘Plano Marshall’, que vigorou de 1948 a 1953). E no filme ‘Muerte de um Ciclista’ (de 1967 e que também já foi comentado no blog), o cineasta espanhol Javier A. Bardem também conta a história que envolve uma mulher casada e um amante que tentam esconder o crime que cometeram, enquanto mostra o caráter fortemente repressivo da ditadura de Franco. Em todos estes filmes temos algo em comum, que é o final triste e trágico. 
Gino tira Giovanna do carro, após o acidente. 
Informações Adicionais!

Titulo: ‘Ossessione’ (Obsessão);
Diretor: Luchino Visconti;
Roteiro: Luchino Visconti; Giuseppe De Santis; Gianni Puccini; Mario Alicata; Baseado no livro 'O Destino Bate à Porta', de James M. Cain;
Ano de Produção: 1943; 
País de Produção: Itália;
Gênero: Drama; 
Duração: 134 minutos;
Fotografia: Aldo Tonti; Música: Giuseppe Rosati;
Montagem: Mario Serandrei;
Elenco: Massimo Girotti (Gino Costa); Clara Calamai (Giovanna Bragana); Juan de Landa (Giuseppe Bragana); Michele Riccardini (Don Remigio); Elio Marcuzzo (Spagnolo); Dhia Cristiani (Anita); Vittorio Duse (agente da Polícia); Michele Sakara (garota).
O Policial, que vigiava e perseguia Gino, lhe diz 'Vamos'. A prisão o espera.

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