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The Doors lança novo disco, com
músicas gravadas no 'London Fog' em 1966! - Marcos Doniseti!
The Doors, na época em que se apresentavam no 'London Fog', em Los Angeles.
O genial grupo The Doors, um dos
mais importantes e influentes da história do Rock, começou a sua carreira
musical tocando em um nightclub de Los Angeles chamado 'London Fog'.
Eles foram a 'banda da casa' por
cerca de 3 meses (entre Fevereiro e Maio de 1966) e, depois, acabaram sendo
contratados para tocar no 'Whisky a Go Go', de onde despontaram para o
sucesso.
Nesta época, Jim Morrison ainda se
recusava a cantar de frente para o público, ficando de costas para o mesmo,
devido à sua timidez. E o grupo combinava, nas apresentações, músicas de sua
autoria e versões de clássicos do Blues e do Rock'n'Roll.
Foi neste período, também, que a
clássica 'The End' deixou de ser uma simples canção de amor, para se transformar
na canção bela, triste e épica que conhecemos.
Agora, teremos o lançamento de um
disco com algumas gravações ao vivo feitas nesta época, em que o The Doors
tocava no 'London Fog', e que foram descobertas recentemente.
O disco irá se chamar 'London Fog
1966' e será lançado em 09/12/2016 em formato Box Set de CD e Vinil, junto com
algumas fotos do período em que o grupo se apresentava no local.
As músicas foram remasterizadas
por Bruce Botnick, engenheiro de som dos álbuns do The Doors e co-produtor do
último disco do grupo com a formação completa (o clássico 'L.A.Woman', de
1970/71).
Ray Manzarek, Jim Morrison, John Densmore e Robbie Krieger: Os três meses em que tocaram no 'London Fog' foram muito importantes para o crescimento musical do grupo, que foi aperfeiçoando as suas apresentações, bem como melhorando as suas composições.
O novo disco terá 7 músicas:
“Rock Me” (Muddy Waters)
“Baby, Please Don’t Go” (Big Joe Williams)
“You Make Me Real” (The Doors)
“Don’t Fight It” (Wilson Pickett)
“I’m Your Hoochie Coochie Man” (Muddy Waters)
“Strange Days” (The Doors)
“Lucille” (Little Richard).
Como se percebe, o repertório
inicial do grupo mostra uma grande influência do Blues (o que foi uma marca do The Doors durante toda a sua existência) e, em menor grau, do Rock'n'Roll.
Posteriormente, o The Doors concebeu uma
música e um show muito mais completo e sofisticado, que incorporou outros
elementos de Teatro, Cinema e Poesia.
Isso era algo inédito no Rock, que
ainda era considerado um estilo musical de menor importância e de qualidade inferior por
grande parte da crítica e da imprensa musical.
Nos EUA, antes do The Doors, os
grupos de maior sucesso eram os de surf music, tipo os Beach Boys da primeira
fase, e cuja música era, em grande parte, uma cópia descarada do Rock'n'Roll dos anos 1950,
mas com muito menos qualidade, rebeldia e agitação. Também tínhamos os 'Monkees', grupo criado pela CBS, rede de TV dos EUA, para fazer frente à chamada 'British Invasion', liderada por Beatles e Rolling Stones e que levou as paradas de sucesso ianques a serem lideradas pelos grupos britânicos, principalmente no período 1964-1966.
O The Doors foi um dos grupos
responsáveis por essa mudança qualitativa, que levou o Rock a um novo patamar de
criatividade, qualidade e de inovação.
E o padrão de qualidade do Rock, na época, melhorou tanto que até Bob Dylan acabou de ganhar, agora, o Prêmio Nobel de
Literatura, o que não deixa de ser um reconhecimento à qualidade da música e
das letras criadas pelos principais grupos e artistas de Rock daquele período:
Beatles, Rolling Stones, The Who e, é claro, The Doors. Obs1: Tal prêmio também foi um reconhecimento, indireto, da qualidade literária dos textos dos escritores da Beat Generation (Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso), que jamais foram agraciados por um Nobel, o que foi uma grande injustiça, sem dúvida.
Com tudo isso, o grupo se tornou um dos
mais relevantes da história do Rock, cuja influência é até difícil de medir,
sendo muito forte ainda nos dias atuais.
O busto de Jim Morrison, em seu túmulo no cemitério Père Lachaise, em Paris, já foi roubado tantas vezes que ele não foi mais substituído. Seu túmulo é uma das principais atrações turísticas da cidade.
E as apresentações explosivas e
sensacionais do grupo, especialmente quando Jim Morrison estava inspirado,
entraram para a história do Rock. Mas infelizmente foram feitas poucas
filmagens e gravações do The Doors quando o grupo estava no auge do sucesso e da forma musical.
O lançamento deste disco, com
certeza, será muito bem recebido pelos fãs deste grupo fantástico, pois os
mesmos terão a oportunidade de ouvir o The Doors em seu nascedouro.
O fim do The Doors ocorreu depois que os
membros remanescentes gravaram mais dois discos, que não repetiram o sucesso da
época em que Jim Morrison estava no grupo: 'Other Voices', de 1971, e ''Full
Circle', de 1972. Estes são bons discos mas, sem Jim, eles não receberam a mesma atenção da época em que o genial poeta e vocalista era integrante do grupo.
Posteriormente, Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore lançaram, em 1978, um novo álbum ('An American Prayer'), com novas músicas, que acompanhavam Jim declamando as suas poesias, de gravações feitas por ele em 1970.
A popularidade do The Doors chegou
a tal ponto que, mesmo após a morte de Jim Morrison e o fim do grupo, o
local em que Jim Morrison foi enterrado (sim, ele morreu, mesmo...
infelizmente), no cemitério Père Lachaise, tornou-se centro de peregrinação de
roqueiros, poetas e de fãs do grupo originários do mundo inteiro.
Longa vida ao The Doors!
The Doors, na época do lançamento de seu primeiro álbum ('The Doors', 1967), que tornou-se um clássico absoluto do Rock.
Link:
The Doors lançará disco ao vivo, da época do 'London Fog' (1966):
'Blow-Up':
Baseado em conto de Cortázar e na Física Quântica, Antonioni indaga
sobre a natureza da realidade, a criação artística e a possibilidade de
mudança! - Marcos Doniseti!
'Blow-Up' (1966):
Filme de Antonioni ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de
1967. Um dos significados da expressão 'Blow-Up' é o de ampliar uma foto
e enquadrar a mesma. E é exatamente este o motivo de 'Blow-Up' ser o
título do filme, pois a trama do mesmo gira em torno disso: a ampliação e
o enquadramento de uma foto, que acabou mostrando mais do que se via
inicialmente.
Frase: "Entre as muitas maneiras de se combater o nada, uma das melhores é tirar fotografias.". - Julio Cortázar.
O conto de Cortázar e o filme de Antonioni!
O
clássico filme 'Blow-Up', de Michelangelo Antonioni, foi baseado em um
conto ('As Babas do Diabo') de outro artista genial, o escritor
franco-argentino (mas que nasceu na Bélgica) Julio Cortázar, autor de
obras clássicas como 'O Jogo da Amarelinha', 'Bestiário' e 'As Armas
Secretas', livro no qual temos o conto que inspirou Antonioni.
O
genial cineasta italiano Michelangelo Antonioni vinha de uma sequência
de filmes absolutamente fantásticos: 'O Grito' (1957); 'A Aventura'
(1960), 'A Noite' (1961), 'O Eclipse' (1962) e 'O Deserto Vermelho'
(1964), que foram responsáveis pelo seu reconhecimento internacional.
'Blow-Up'
manteve a sequência de belas obras do grande cineasta italiano, sendo
que foi o primeiro filme de Antonioni que foi realizado fora da Itália
(as filmagens foram realizadas na Grã-Bretanha), sendo o seu segundo
filme colorido ('O Deserto Vermelho' foi o primeiro) e que, também, foi o
primeiro a ser falado em inglês e a ser produzido por um grande estúdio
de Hollywood, a MGM.
Apesar
disso, as principais características do cinema de Antonioni estão
presentes no filme: um personagem entediado, a alienação do
protagonista, as cenas em profundidade, uma visão crítica da realidade
(cuja natureza é questionada), a importância da paisagem e a reflexão
sobre o ato de criação, bem como a respeito do próprio Cinema.
Capa
da revista 'Time',
que usou, pela primeira vez, da expressão 'Swinging London' para definir
a cena roqueira, colorida, jovem e psicodélica da capital britânica. A
sua força e o impacto atraíram cineastas consagrados para o país,
incluindo Antonioni,
Truffaut e Godard.
A
escolha de um genial conto de Julio Cortázar para servir de fonte de
inspiração para Antonioni é algo perfeitamente natural, pois o escritor
argentino se inspirava em algumas fontes criativas semelhantes às de
Antonioni, como é o caso do Existencialismo. Cortázar também procurava
fazer, em sua obra, uma reflexão sobre a arte de escrever (a Literatura)
e indagava, também, sobre o que é real e o que não é.
Obs1: Sugiro que leiam o conto de Cortázar
antes de ver o filme de Antonioni. Ele está disponível para leitura ou
download em vários sites. Para quem ainda não leu o conto de Cortázar,
aqui vai um resumo:
"A
história se desenvolve em Paris e trata de um fotógrafo amador (o
franco-chileno Roberto Michel) que sai num Domingo de manhã para passear
em uma pequena ilha da cidade e vê um casal que, aparentemente, está
tendo uma discussão. Ela é loura e mais velha do que o jovem (que tem em
torno de 15 anos) e parece estar querendo seduzir o mesmo, como se o
estivesse pressionando para isso. Próximo dali, em um carro, um homem
mais velho observa a tudo e, depois, vai se aproximar dos dois. Michel
começa a fotografá-los, o que chama a atenção da mulher. O jovem se
aproveita para fugir. A mulher tenta recuperar o rolo do filme, mas
Michel recusa-se a entregá-lo. No conto fica claro que o homem mais
velho usa da mulher para atrair adolescentes com os quais ele deseja ter
relações sexuais. Mas todas estas conclusões são do fotógrafo, que
chega à elas depois que começou a analisar as fotografias que tirou dos
três no parque. De fato, em nenhum momento ficamos sabendo quais são os
motivos que levaram a mulher e o jovem a discutir e nem a saber a razão
do homem mais velho se aproximar de ambos.".
O genial escritor
franco-argentino Julio Cortázar, nascido na Bélgica, posando em sua
amada Paris. Ele foi um exímio contista e romancista, dos melhores que a
América Latina produziu em sua história.
A 'Swinging London'!
No
filme de Antonioni, o local em que a história se desenvolve foi
transferido para Londres que, na época, vivia uma intensa e criativa
cena cultural roqueira e psicodélica, que foi a chamada 'Swinging London'
('Londres Psicodélica'), como a definiu a revista 'Time' em uma matéria
de capa sobre o assunto. A indústria da moda também era uma parte
fundamental deste cenário.
A
juventude do mundo ocidental daquela época, ou seja, a geração que
nasceu nos primeiros anos do Pós Guerra (chamados de Baby Boomers,
nascidos entre 1946 e 1964), ingressou no mercado de consumo,
principalmente de roupas e música. Somente nos EUA os Baby Boomers são
69 milhões, chegando a 14 milhões no Reino Unido.
Desta
maneira, as vendas de discos e de roupas para jovens atingiram um
elevado patamar, levando a um rápido e grande desenvolvimento dos
setores de moda e de uma cada vez mais milionária e influente cultura
pop jovem de alcance global. Era a época da 'Aldeia Global', como disse Marshall McLuhan.
Esta
era a época em que Mick Jagger, Keith Richards e John Lennon viviam
curtindo, juntos, a noite londrina, em que Jimi Hendrix se apresentava
para plateias (e até para guitarristas brilhantes, como Pete Townshend e
Eric Clapton) que ficavam maravilhadas com a técnica e emoção com que o
genial guitarrista originário de Seattle tocava.
Antonioni
olha para o céu (ele queria um clima cinzento para as filmagens),
enquanto o fotojornalista Don McCullin tira as fotografias do casal de
amantes que serão usadas no filme.
Enquanto
isso, os empresários dos dois principais grupos ingleses (The Beatles e
The Rolling Stones, é claro) inventaram uma estratégia de marketing que
dizia que o fã que gostasse de um grupo, não poderia gostar do outro. O
fato é que muitos acreditaram nessa lorota e a popularidade dos dois
grupos aumentou bastante em função da polêmica, que foi muito explorada
pela imprensa britânica.
Nestes
anos tivemos o surgimento de novos e excelentes grupos e músicos de
Rock, na Grã-Bretanha, que se tornou a capital mundial do Rock por
vários anos, sendo que alguns destes grupos e artistas tiveram carreiras
de muito sucesso e de longa duração, tais como: Yardbirds/Led
Zeppellin, Pink Floyd, The Who, Cream, The Small Faces, The Animals, The
Kinks, Eric Clapton, Jeff Beck, Rod Stewart, entre outros.
Inclusive,
há uma cena antológica no filme de Antonioni na qual vemos uma
apresentação raríssima dos Yardbirds, com Jimmy Page e Jeff Beck tocando
as guitarras (a música é 'Stroll On'), no famoso e renomado clube
londrino de Rhythm & Blues chamado 'Ricky-Tick'.
Obs2: Originalmente
a música que toca no filme chamava-se 'Train Kept a Rollin'. Mas na
obra do cineasta italiano ela teve o seu título e a sua letra alteradas,
por questões de direitos autorais, mudando para 'Stroll On'.
Thomas fotografa Verushka,
em uma cena antológica do clássico 'Blow-Up'. O caráter sexual da cena é
bem claro. E isso realmente acontecia, segundo disse a modelo Jean
Shrimpton, que trabalhou e namorou com David Bailey. Outra modelo da época,
Jill Kennington (que atua no filme), disse que o fotógrafo John Cowan é
quem tinha o hábito de tirar fotos dessa maneira e que Antonioni deve
tê-lo visto trabalhando, pois alugou o seu estúdio para fazer as sessões
de fotos que vemos no filme.
Como
é do conhecimento dos fãs de Rock, depois Jimmy Page praticamente
herdou o grupo e, das suas cinzas, criou o Led Zeppelin. Na cena, Jeff
Beck se irrita quando o amplificador de sua guitarra deixa de funcionar
e, com isso, ele acaba destruindo a sua guitarra e jogando os restos da
mesma para o público que, até aquele momento, assistia ao show de forma
apática, como se estivesse 'viajando'...
Consta
que o motivo desta cena ter sido feita se deu pelo fato de que
Michelangelo Antonioni gostava muito da quebradeira que o The Who
promovia em seus shows. Antonioni assistiu a uma apresentação do The
Who, em Londres, em dezembro de 1965, no Goldhawk Club, e gostou da
energia e da força do show do grupo.
Porém,
o empresário do The Who (Kit Lambert), induzido por Simon Napier-Bell,
empresário do The Yardbirds, cobrou muito caro pela participação do
grupo no filme (5.000 Libras, na época), bem como exigiu participar do
corte final do filme, e Antonioni não gostou disso.
Daí,
Napier-Bell não hesitou, procurou o cineasta e lhe disse que, na
verdade, Jeff Beck é quem tinha começado a quebrar guitarras e que
Townshend é que havia copiado Beck (o que era mentira, é claro). Depois
disso, Napier-Bell fechou o acordo com o cineasta, que contratou o
Yardbirds para tocar no filme.
Então,
Antonioni pediu a Jeff Beck que promovesse a mesma quebradeira que o
The Who promovia em seus shows, o que o genial guitarrista (falecido
recentemente, em 10 de janeiro de 2023), inicialmente, recusava-se a
fazer.
Cena
do documentário do ótimo 'Blow Up of Blow Up' (2016), de Valentina
Agostinis. Jeff Beck não queria quebrar a guitarra, apenas o
amplificador, mas Antonioni lhe disse que era importante que ele
quebrasse tudo. Mesmo irritado, Jeff Beck acabou fazendo a cena, que
tornou-se icônica.
Afinal,
Jeff Beck amava as suas guitarras, tratando-as como se fossem seus
filhos, segundo afirmou o empresário do grupo (Simon Napier-Bell) no
excelente documentário 'Blow Up of Blow Up' (Valentina Agostinis; 2016).
Foi
somente depois que Napier-Bell comprou uma guitarra barata e, também,
com a insistência de Antonioni de que aquela cena era fundamental, que
Jeff Beck concordou em quebrar a guitarra. Mesmo assim ele o fez muito
contrariado e sua irritação transparece na cena.
Em
2016 a cineasta italiana Valentina Agostinis realizou um documentário,
intitulado 'Blow Up of Blow Up', aproveitando que 'Blow-Up' estava
completando 50 anos. No documentário vemos vários dos locais que estão
presentes no filme, incluindo o estúdio fotográfico e o parque, entre
outros.
O
documentário é muito revelador sobre a história da produção, de como
Antonioni se conectou com os excelentes profissionais britânicos que
trabalhariam no filme e também conta com a participação de vários dos
envolvidos, diretamente ou indiretamente, com a produção da obra-prima
de Antonioni.
Entre
estes, nós temos a participação da modelo Jill Kennington, do
historiador Phillipe Garner, do empresário dos Yardbirds (Simon
Napier-Bell) e do fotógrafo David Montgomery. O documentário é excelente
chegou a ser exibido pela HBO Max durante algum tempo.
Cortázar, Antonioni e a Física Quântica!
O apuro visual de
Antonioni, e também do diretor de fotografia Carlo di Palma, se destaca
nesta obra-prima. No filme temos belíssimas sequências. Em alguns
momentos o cineasta passa a ideia de que Thomas vive em realidades
distintas, como se estivesse vivo e morto ao mesmo tempo, característica
que está presente no conto de Cortázar.
No
conto de Cortázar, bem como no filme de Antonioni, também estão
presentes vários questionamentos a respeito da natureza da realidade e
do trabalho do artista (escritor, cineasta, fotógrafo) que tenta
capturá-la e compreendê-la.
No
início do conto de Cortázar, o narrador parece estar vivo e morto, ao
mesmo tempo, e também ficamos na dúvida se temos um ou dois narradores
na história (tudo indica que é o mesmo narrador, Michel, que está vivo e
morto, ao mesmo tempo).
É
muito provável que Cortázar esteja fazendo uma referência à experiência
quântica do 'Gato de Schrodinger', no qual não se sabe se um gato que
está dentro de uma caixa está vivo ou morto. Talvez ele esteja vivo e
morto, ao mesmo tempo, possibilidade que a Física Quântica admite como
sendo algo real.
Tal
experiência visava contestar o conceito quântico de que a Luz era,
simultaneamente, Onda e Partícula. Essa dualidade está muito presente no
conto de Cortázar e, mais ainda, em Blow-Up.
Além
disso, entendo que também está bem clara, em ambas as obras, a
influência de uma ideia originária da Física Quântica, ou seja, a de que
o ato de observar um fenômeno acaba influenciando a natureza do mesmo,
alterando-o.
'Blow-'Up
fez muito sucesso. Seu custo foi de apenas US$ 1,8 milhão e a
bilheteria chegou a US$ 20 milhões. O filme foi muito bem recebido pela
crítica e influenciou toda uma nova geração de cineastas. 'Blow Out'
(1981), excelente filme de Brian de Palma, é um exemplo bem nítido
disso, até no título do filme. Até em 'Spider-Man 2' aparece um pôster do filme.
Assim,
não seria possível dizer o que acontece no mundo real (se é que
acontece alguma coisa) e tampouco o que ocorre quando não temos ninguém
observando tal fenômeno.
No
filme, primeiro vemos Thomas fotografar um casal se amando no parque,
mas depois que Jane (Vanessa Redgrave) vê o que ele está fazendo, ela
muda radicalmente de comportamento, se irritando e indo atrás de Thomas
para que ele lhe entregasse o rolo do filme.
Daí,
o seu amante fica sozinho e acaba sendo assassinado. E o assassino vai
embora, sem que seja descoberto. E quando ela volta e vê o corpo dele
escondido atrás dos arbustos, Jane fica assustada e vai embora correndo.
Desta
maneira, pode-se dizer que Antonioni filmou o crime perfeito, pois
ninguém sabe quem é o assassino, que fugiu, e daí ele pode muito ter
destruído a arma que usou no crime. Com isso, a sua identidade jamais
será descoberta.
Logo,
pode-se concluir que, sem a ação de Thomas, ela e o amante continuariam
se beijando e se abraçando. O ato de fotografar, por parte de Thomas,
representou uma interferência no acontecimento, alterando a sua
natureza, tal como a Física Quântica diz que acontece quando observamos
os fenômenos.
Portanto, podemos concluir que sem a interferência de Thomas o assassinato não teria acontecido.
Thomas passeia com o seu
carro por uma bonita e deserta cidade de Londres. E no parque onde ele
fotografa o casal e ocorre o assassinato, também está tudo deserto,
como se ele fosse um fantasma. Assim, no filme de Antonioni, Thomas
estaria 'vivo' e 'morto' ao mesmo tempo, tal como aconteceria com o
narrador no conto de Cortázar e com o gato na experiência de
Schrodinger.
Portanto,
surge uma série de indagações: Será que os fenômenos que observamos
daquilo que chamamos de realidade são verdadeiros? Eles realmente
aconteceram da maneira como foram observados? Ou foi o ato de observar
que lhes deu origem? E quando não observamos nada, acontece alguma
coisa? É o ato de observar que modifica (ou cria) a realidade? O que
realmente estamos vendo é o mundo real?
No conto de Cortázar, temos um trecho interessante, que está relacionado a estas questões, e que é o seguinte:
"Já
sei que o mais difícil vai ser encontrar a maneira de contar, e não
tenho medo de me repetir. Vai ser difícil porque ninguém sabe direito
quem é que verdadeiramente está contando, se sou eu ou isso que
aconteceu, ou o que estou vendo (nuvens, às vezes uma pomba) ou se
simplesmente conto uma verdade que é somente minha verdade, e então não é
a verdade, a não ser para meu estômago, para esta vontade de sair
correndo e acabar com aquilo de alguma forma, seja lá o que for.".
Em
outro trecho do conto de Cortázar, temos: "Michel sabia que o fotógrafo
age sempre como uma permutação de sua maneira pessoal de ver o mundo
por outra que a câmera lhe impõe, insidiosa... Agora mesmo (que palavra,
agora, que mentira estúpida) podia ficar sentado no parapeito sobre o
rio, olhando passar as barcaças vermelhas e negras sem que me ocorresse
pensar fotograficamente as cenas, nada mais que deixando-me ir no
deixar-se ir das coisas, correndo imóvel com o tempo".
A respeito do filme, Antonioni disse o seguinte: "Ao
revelar com ampliadores... surgem coisas que provavelmente não vemos a
olho nu... O fotógrafo de Blow-Up, que não é um filósofo, quer ver as
coisas de perto. Mas acontece que , ampliando demais, o próprio objeto
se decompõe e desaparece. Portanto, há um momento em que apreendemos a
realidade, mas depois o momento passa. Esse foi em parte o significado
de Blow-Up."
A produção de 'Blow-Up'!
Michelangelo Antonioni e Vanessa Redgrave.
A
respeito do filme, Antonioni disse que 'Blow-Up' é diferente dos seus
filmes anteriores, que tratavam de relações de amizade ou de amor entre
as pessoas.
Em
'Blow-Up', disse Antonioni, "a relação é entre um indivíduo e a
realidade - aquelas coisas que estão ao seu redor. Não há histórias de
amor neste filme, embora vejamos relações entre homens e mulheres. A
experiência do protagonista não é sentimental nem amorosa, mas antes,
uma relação com o mundo, com as coisas que encontra pela frente.".
Antonioni
também disse que buscava uma sensação de "sensualidade fria e
calculada". Ele tentou ajudar a capturar esse sentimento usando o que
chamou de "aprimorado" ou o "mais duro e agressivo" das cores. Fazia
parte de sua visão "recriar a realidade de uma forma abstrata. Eu queria
questionar 'a realidade de nossa experiência'", disse ele.
'Blow-Up'
foi o primeiro longa-metragem falado em inglês de Antonioni, bem como
foi o segundo filme a cores do cineasta italiano (o primeiro foi
'Deserto Vermelho', de 1964).
'Blow-Up'
também foi o primeiro filme britânico a mostrar nudez feminina frontal
completa (da atriz Gillian Hills), o que gerou um grande interesse pelo
filme, ainda mais nos EUA, onde ainda vigorava o Código Hays e as cenas
de sexo eram proibidas.
Sequência
da brincadeira entre Thomas e as duas jovens que desejam se tornar
modelos de sucesso e que mostra cena de nudez frontal. Filmes de
cineastas europeus do porte de Godard e Fellini, entre outros, já vinham
tratando de temas que eram considerados tabus nos EUA naquela época e
foram fundamentais para enterrar o Código Hays. 'Blow-Up' foi o filme
que jogou a pá de cal no retrógrado Código. E daí a 'Nova Hollywood'
pode emergir.
Aliás,
algo me diz que a MGM decidiu produzir esse filme de Antonioni porque ela queria usar filme para
destruir o famigerado, retrógrado e obsoleto Código Hays, que impunha
várias proibições aos filmes produzidos nos EUA.
Assim,
o Código Hays proibia cenas nudez, paixão, beijos lascivos, menções a
doenças venéreas, palavrões, crimes retratados positivamente,
desrespeito à religião ou à lei, perversão sexual (ou seja,
homossexualidade) e miscigenação (relacionamentos inter-raciais).
Enquanto isso, inúmeros
filmes de talentosos e inovadores cineastas europeus (Godard,
Antonioni, Truffaut, Buñuel, Bergman, Fellini...) começaram a
conquistar um mercado crescente nos EUA, bem como inúmeros elogios da
crítica.
E
não há como negar, que uma das
razões mais fortes para que tudo isso acontecesse é que os cineastas
europeus podiam falar, com muito mais liberdade, sobre todos os temas
que eram proibidos nos EUA. Então, de que maneira seria possível
destruir de uma vez por todas com esse Código retrógrado?
Thomas
chega a uma festa de jovens britânicos que fazem uso de substâncias
ilícitas. Cenas como essas eram proibidas nos filmes produzidos nos EUA,
devido ao Código Hays. E o sucesso de 'Blow-'Up' foi essencial para
enterrá-lo, abrindo uma nova era de inédita liberdade criativa para os
cineastas do país. Sem isso, a Nova Hollywood não teria acontecido.
Roger
Corman dizia, já naquela época, que os filmes dos cineastas europeus
faziam sucesso nos EUA em função da liberdade criativa da qual eles
desfrutavam no Velho Mundo e que inexistia nos EUA.
Então,
talvez algum executivo da MGM pode ter pensado que se a empresa
financiasse a produção de um filme de um genial cineasta europeu (que
foi o grande Antonioni), que não tivesse receio de tratar de muitos
desses temas em um filme formalmente inovador, então seria possível
mandar o Código Hays para a lata de lixo da história.
E
se este filme ainda influenciasse uma nova geração de cineastas dos EUA
que, também, estariam dispostos a fazer filmes sobre todos estes temas,
melhor ainda.
Se
tudo isso foi algo pensado para acontecer desta maneira, não tenho como
provar, mas que isso aconteceu, não há como contestar, pois 'Blow-Up'
foi o filme que enterrou o Código Hays nos EUA, permitindo que os
cineastas que trabalhavam no país passassem a desfrutar de uma liberdade
criativa inédita, que só existiu até 1933 (o Código foi criado em 1930,
mas foi adotado, na prática, a partir de 1934).
Michelangelo Antonioni,
Vanessa Redgrave e Monica Vitti no Festival de Cannes, em 1967, no qual
'Blow-Up' conquistou a Palma de Ouro.
O
Código Hays caiu em desuso apenas em 1968 e 'Blow-Up' teve um papel
importante nisso, pois a censura ao filme foi contornada pela MGM por
meio da criação da 'Premiere Productions', que era uma empresa fictícia
que não tinha acordo com o Código de Produção.
Assim,
a 'Premiere' não era obrigada a acatar ao Código, o que permitiu manter
cenas de nu frontal e uso de drogas no filme, sem cortes. E com o
sucesso do filme, de público e crítica, o Código perdeu a sua
credibilidade e deixou de ser usado.
'Blow-Up'
também foi incluído entre os "1001 filmes que você deve ver antes de
morrer", editado por Steven Schneider. E o crítico Roger Ebert também o
colocou em sua lista de 'Grandes Filmes'.
Com relação à escolha do elenco, a atriz sueca Evabritt Strandberg (que atuou em 'Masculino Feminino',
de Godard, em 1966) havia sido escolhida, por Antonioni, para
interpretar Jane, mas os chefes da MGM decidiram pela brilhante atriz
britânica Vanessa Redgrave, que havia conquistado o prêmio de Melhor
Atriz no Festival de Cannes, em maio de 1966, e que se revelou perfeita
para a personagem.
Vanessa Redgrave e David Hemmings nos bastidores de 'Blow-Up'.
Enquanto
isso, o ator Sean Connery chegou a ler o roteiro para interpretar o
fotógrafo Thomas, mas depois da leitura ele recusou o papel "porque não conseguia entender do que Antonioni estava falando".
Terence
Stamp também foi cotado para interpretar Thomas, afinal ele era muito
talentoso e já era uma estrela, tendo sido indicado ao Oscar de Melhor
Ator Coadjuvante em 1963, pelo filme 'Billy Budd'.
Porém,
Antonioni acabou escolhendo David Hemmings, ator de teatro e com muitas
participações em séries e filmes para TV, depois que assistiu a uma
peça na qual ele atuava ('Adventures in the Skin Trade'), na qual
interpretava Dylan Thomas (daí o nome do personagem no filme).
E
como as premiadas Vanessa Redgrave e Sarah Miles já eram atrizes com
mais renome, elas ganharam cachês maiores do que os de Hemmings, que
acabou ficando com o terceiro maior cachê do filme, apesar de
interpretar o protagonista e aparecer durante todo o filme, enquanto
Vanessa e Sarah interpretaram coadjuvantes e tiveram participações
menores.
Essa
participação menor de Sarah Miles ocorreu muito em função do fato de
que ela não teve um bom diálogo com Antonioni, o que não aconteceu com
Vanessa Redgrave, que conseguiu se entender muito bem com o cineasta
italiano, procurando extrair dele o máximo de informações sobre a sua
personagem, a respeito da qual o roteiro era muito vago.
Antonioni sobre o Rolls-Royce conversível no qual se encontra David Hemmings.
Hemmings
disse que Antonioni e o diretor de fotografia, o grande Carlo di Palma,
discutiam com muita frequência e, quando ficavam nervosos, gritavam um
com o outro e saiam chutando o que viam pela frente (mesas, escadas,
etc). Ele diz que di Palma queria ser o maestro do filme, o que
Antonioni não aceitava, é claro. Mas ele diz que os conflitos entre os
dois ajudaram a criar belas e surpreendentes imagens.
O
filme também foi muito importante para Jane Birkin, cuja carreira de
atriz tinha começado apenas em 1965. Ela disse que chegou a chorar no
teste para o papel, mas Antonioni a aprovou e lhe deu três páginas para
ela ler e a avisou de que ela teria que ficar nua no filme. Mesmo assim,
e com o apoio do marido, ela decidiu participar do filme.
O
moderno estúdio do fotógrafo John A. Cowan, um dos mais renomados da
Grã-Bretanha, foi usado para as sessões de fotos de Thomas. Cowan também
trabalhou como assistente de Antonioni e o assistente de Thomas no
filme, chamado Reg, era, de fato, assistente de outro fotógrafo, David
Montgomery, na vida real.
Aliás,
Antonioni se preparou para as cenas de fotos que vemos no filme
assistindo a uma sessão de fotos do próprio Montgomery, que o orientou
sobre como fazer a mesma, pois Antonioni queria que a cena ficasse igual
a uma verdadeira sessão de fotos. Reproduzir a realidade da maneira
mais fiel possível era um elemento central do Neorrealismo Italiano, do
qual Antonioni foi um dos criadores.
E
o cineasta também trabalhou com outros profissionais e artistas
britânicos de altíssimo nível, incluindo o fotojornalista Don McCullin
(que tirou as fotografias da cena no parque), o pintor Ian Stephenson
(fez os quadros do personagem Bill), o fotógrafo John Cowan (alugou o
estúdio para as cenas de sessões de fotos) e modelos consagradas como
Jill Kennington, Veruschka e Peggy Moffitt.
A trama do filme!
Thomas fotografa as
modelos, que usam roupas coloridas, em voga na época. Ele trata as
modelos com desprezo e brutalidade, pois seu interesse nelas é puramente
profissional. Mas isso também acontecia porque Antonioni queria
mostrar que Thomas não extraía nenhuma emoção de seu trabalho. As emoções que desejava ele procurava no abrigo,
junto aos mendigos, ou quando comprava antiguidades. Assim, ele estava imerso em duas realidades totalmente distintas.
E
quando vemos Hemmings na pele de Thomas podemos concluir que Antonioni
acertou em cheio em sua escolha, pois a sua atuação é perfeita e não é
possível imaginar alguém melhor do que ele para interpretar o
personagem.
Aliás,
Hemmings disse que quando estava sendo testado para o papel, Antonioni
balançava a cabeça para frente e para trás, o que o levou a pensar que
isso era um sinal de reprovação. Ele disse que ficou uma semana
sofrendo, pensando que Antonioni não havia gostado da sua atuação. Mas
depois ele descobriu que isso era apenas um tique do cineasta, o que o
deixou aliviado.
O
fotógrafo Thomas, que vive na região de Notting Hill (sudoeste de
Londres), onde possui um moderno estúdio fotográfico, é um personagem
ficcional, mas que foi, em parte, baseado na carreira e nas vidas de
alguns consagrados fotógrafos de moda britânicos que fizeram muito
sucesso nos anos 1960, que são David Bailey, Terence Donovan e John
Anthony Cowan. Inclusive, as cenas nas quais Thomas fotografa as modelos
foram feitas no estúdio de Cowan.
Porém, o seu nome também pode ser encarado como uma referência ao apóstolo cristão Tomé, que somente acreditava naquilo que via.
No
filme, Thomas/Tomé passeia pela 'Swinging London' em seu Rolls-Royce
conversível e David Bailey, que foi o mais badalado fotógrafo de moda
inglês dos anos 1960, também fazia o mesmo. Entre muitos outros, Bailey
fotografou os Beatles e os Rolling Stones. Aliás, ficamos conhecendo uma
boa parte da região central de Londres por meios desses passeios.
As duas jovens que foram
procurar por Thomas para que fossem fotografadas por ele são deixadas
para trás, sem que ele lhes dissesse se iria ou não aceitar fotografar
as duas. Thomas é uma estrela da indústria da moda e se comporta como
tal, de forma grosseira e arrogante, o que é muito comum entre as
chamadas estrelas (da música, cinema, TV, etc).
No
entanto, um aspecto dos mais interessantes de 'Blow Up' é que essa
Londres que vemos no filme foi alterada por Antonioni. Assim, não apenas
o filme, mas também a cidade passou por um processo de edição,
alterando características de Londres para que ela se encaixasse na sua
visão de cinema.
Essa
edição feita por Antonioni modificou as cores, os edifícios e até
árvores locais. Ele chegou a mandar pintar o gramado do parque de verde
para atingir o resultado que desejava, bem como mandou pintar outras
casas com um tom de vermelho bem forte.
No
filme, Thomas trata as modelos com as quais trabalha de forma ríspida e
arrogante, mas, apesar disso, Hemmings dá ao personagem um charme e
elegância que ameniza tais aspectos.
Seu
sucesso ao interpretar Thomas foi imenso, transformando-o em um ícone
da contracultura da época. Inclusive, uma das melhores cenas do filme é
aquela em que Thomas está fotografando Verushka (uma modelo de muito
sucesso na época) e fica sobre o corpo desta, sugerindo claramente um
ato sexual entre os dois.
Aliás,
a modelo Jean Shrimpton, que foi descoberta por David Bailey (e com
quem ela namorou por dois anos e meio), quando tinha apenas 17 anos,
afirmou que quando fotografava com o mesmo surgia uma atração que criava
uma atmosfera sexual entre eles.
O fotógrafo Thomas e sua
câmera reflete o trabalho do cineasta, que também tenta capturar a
realidade quando faz os seus filmes. Porém, Antonioni lança dúvidas e
questiona se isso realmente seria possível, fazendo perguntas que também
estão presentes no conto de Cortázar.
Ela
também disse que as mulheres com quem Bailey trabalhava o amavam e que
ele era muito procurado por jovens com a aspiração de se tornarem
modelos de sucesso. Segundo um especialista, o fotógrafo David Bailey
teria se relacionado sexualmente com cerca de 400 mulheres. Os anos 60
foram os anos da liberação sexual e Bailey foi um dos que se beneficiou
com isso.
No
filme, o personagem Thomas reage a essa procura por parte das jovens
modelos tratando-as com desprezo e grosseria. Alguns chegam a dizer que o
filme seria 'machista e misógino' em função disso, o que não é correto.
O que Antonioni faz é mostrar o comportamento que muitos profissionais
adotam quanto estão em posição de poder.
Assim,
ele está retratando uma situação que ocorre, sem dúvida alguma, no
mundo real, o que é muito diferente de defender que aquele comportamento
é correto.
Aliás,
tenho certeza de que se Antonioni mostrasse esse fotógrafo como sendo
educado e adotando uma postura de cavalheiro com as jovens modelos ele
seria, com certeza, acusado de estar mostrando uma situação falsa e
mentirosa. Ele optou por mostrar algo, que é o comportamento de Thomas
com as jovens modelos, que pensava ser algo bem próximo daquilo que
ocorre na realidade.
Thomas fotografando o
casal de amantes. Depois ele irá descobrir que havia fotografado muito
mais do que apenas o casal. As sequências foram filmadas no
Maryon Park, em Charlton (sudeste de Londres), bem longe do centro de
Londres, mas Antonioni filmou de uma maneira que isso não é percebido.
É
bom ressaltar que Antonioni começou a filmar realizando documentários
neorrealistas (entre 1947 e 1950 ele filmou 8 documentários). E não se
pode esquecer que o Neorrealismo Italiano tinha a ambição de mostrar a
realidade tal como era, nua e crua, expondo na tela do cinema a situação
de fome e miséria em que o povo italiano se encontrava ao final da
Segunda Guerra Mundial e nos primeiros anos do Pós Guerra.
Assim,
o conflito entre a realidade e a ficção está presente no filme. E o
grande cineasta Antonioni soube mostrar isso, de forma brilhante, em sua
obra-prima.
A
trama se desenvolve a partir do momento em que, depois de ir visitar
uma loja de antiguidades (à qual Thomas pretende comprar), em um dos
seus passeios, ele entra em um parque (Maryon Park, em Charlton,
sudoeste de Londres) e vê um casal (uma mulher e um homem mais velho)
que parecem estar se beijando. Porém, o que o atrai é a postura da
mulher, que começa a olhar em sua direção, pois ele começou a fotografar
a cena.
Depois
que Thomas começou a fotografar a cena, isso é percebido pela mulher
(Jane, interpretada pela grande Vanessa Redgrave), que sai correndo
atrás dele, dizendo que o mesmo não tem o direito de sair por aí
fotografando os outros e que as pessoas tem o direito de ficar em paz em
um local público. Ela o pressiona para que ele lhe entregue o rolo do
filme, mas ele se recusa.
Essa
pintura é, de fato, uma obra criada por um pintor abstrato britânico
chamado Ian Stephenson, a quem Antonioni pediu que criasse algo que se
conectasse com as fotografias tiradas por Thomas (na verdade, foram
tiradas por Don McCullin, renomado fotojornalista britânico). A pintura é
baseada em um escultura clássica grega.
Jane
sai correndo e se afasta de Thomas quando percebe que o homem com quem
ela estava havia desaparecido. Ela o procura e encontra o mesmo, já
morto, com o corpo escondido atrás de uns arbustos.
Assim,
a ação de Thomas de fotografar a cena e de atrair Jane para onde estava
foi aproveitado por um outro homem, escondido nos arbustos, para matar o
amante de Jane. Logo, foi a ação de Thomas que provocou o assassinato.
Foi o seu ato de observar a cena que alterou a realidade. E somente
depois de revelar as fotos é que ele irá descobrir o que tinha
acontecido.
Então, será que poderemos considerar que Thomas foi o responsável pelo assassinato?
Porém,
mais adiante, Jane decide ir atrás de Thomas e o encontra no momento em
que ele chegava ao seu grande e moderno estúdio fotográfico. Daí, ela
irá procurar usar do seu poder de sedução, enquanto tenta convencê-lo a
lhe entregar o rolo do filme. Thomas lhe dá o rolo errado, sem que a
mesma saiba disso, e Jane vai embora.
A
bela Vanessa Redgrave, neste filme, lembra muito a musa de Antonioni, a
belíssima Monica Vitti, com quem o cineasta italiano foi casado. A cor e
o corte de cabelo de Vanessa remete aos que Monica Vitti usou em
'Deserto Vermelho' (1964), o filme anterior de Antonioni. Interessante
notar que Godard fez o mesmo com Bardot em 'Le Mépris', fazendo-a usar
de uma peruca que lembrava Anna Karina, o grande amor de Godard na
época.
Depois,
quando começa a revelar as fotografias é que Thomas começará a perceber
algo que não havia notado enquanto tirava as fotos, que é o fato de que
há um corpo, de um homem assassinado, atrás de alguns arbustos.
Neste
momento, ele começa a criar uma história, que liga a mulher (Jane) no
parque ao homem assassinado, tal como faz um diretor de cinema ou um
escritor.
Intrigado,
Thomas decide retornar ao local, sozinho, mas sem levar a câmera, e
verifica que, de fato, há um homem morto no lugar e que ele é o homem
com quem Jane estava anteriormente. Assim, ele começa a se indagar sobre
o que, de fato, ele viu no parque (uma discussão entre uma mulher e seu
amante?) e o que é que as fotografias mostravam ou que, então,
sugeriam, que é o assassinato do amante pelo marido de Jane?
No
seu local de trabalho, ele é sempre procurado por jovens aspirantes a
modelo, que desejam ser fotografadas por ele, sendo que ele até acaba se
envolvendo em um jogo de caráter sexual com duas delas (interpretadas
por Jane Birkin e Gillian Hills), que são bastante persistentes em seus
desejos de se tornarem modelos de sucesso e que usam dos recursos
disponíveis (incluindo a sedução) para atingir os seus objetivos. No
filme não é mostrada nenhuma cena de sexo entre Thomas e as modelos.
Isso é apenas sugerido.
Quando
retorna para o estúdio, após encontrar o corpo do homem assassinado,
Thomas constata que todas as fotos que havia revelado da cena no parque
foram roubadas. Ele escondeu apenas uma, justamente aquela que mostrava o
local em que a vítima estava.
Thomas e Jane, seminus, em
uma bela cena deste reflexivo, questionador e intrigante filme de
Antonioni. David Hemmings e Vanessa Redgrave estão perfeitos em seus
personagens.
O
filme não mostra, mas tudo indica que Jane foi a responsável pelo roubo
das fotografias. Mas também pode ter sido alguém que Jane contratou
para fazer esse serviço ou mesmo outra pessoa, um ladrão comum, que
invadiu o estúdio e roubou as fotos para, talvez, vendê-las para o
próprio Thomas mais tarde, exigindo um alto valor pelas mesmas. Enfim,
uma possível resposta para a questão fica a cargo de quem vê o filme.
Aliás,
várias dúvidas permanecem ao final do filme, algo que foi intencional
da parte de Antonioni, a fim de fazer os questionamentos a respeito da
realidade que já comentei aqui, mas sem apresentar respostas prontas.
Assim,
Antonioni deixa aos espectadores a tarefa de refletir sobre o que foi
exibido, a fim de que eles tirem as suas próprias conclusões, que é uma
característica que também está presente no conto de Cortázar.
O
que se nota, de fato, é a mudança que as fotografias desencadearam em
Thomas, que é um fotógrafo de sucesso, que é procurado por jovens e
belas modelos que desejam alcançar o estrelato, mas que tem uma vida
marcada pelo tédio e pelo vazio existencial. A fotografia é uma
profissão, sua fonte de renda, mas ele procura por algo diferente, que
desperte a paixão que há dentro dele, mas que está submersa.
Thomas deseja comprar a
loja de antiguidades, enquanto que a jovem proprietária quer vender a
mesma para ir para um destino diferente. Ambos sentem um vazio
existencial e estão à procura de, como dizia Jim Morrison, algo sagrado
para as suas vidas.
Aliás,
a jovem que é proprietária da loja de antiguidades também fala sobre
isso para Thomas, dizendo que pretendia vender a loja, pois estava farta
de antiguidades e tinha vontade de tentar algo diferente em sua vida.
Daí ela diz que pensa em ir para o Nepal, mas Thomas, ironicamente, lhe
diz que o Nepal está cheio de antiguidades. Com isso, a jovem fala que
poderia ir para o Marrocos.
Nesta
época a atração pela cultura, música, valores e pelo modo de vida do
Oriente ou de outros povos considerados diferentes da cultura ocidental
(países como Índia, Marrocos, Nepal...) tornou-se cada vez mais popular
entre os jovens.
Os
Beatles foram para a Índia, enquanto que os Stones, seguindo o exemplo
da jovem do filme, foram para o Marrocos. Estas viagens refletiram na
música dos dois grupos, que eram os maiores do rock britânico nos anos
1960.
É como dizia Jim Morrison: 'As pessoas querem algo mais. Algo sagrado'.
Thomas
é a comprovação deste sentimento, que estava presente na geração de
jovens dos anos 1960, que procurou expandir a sua mente e se conectar
com outros planos de realidade.
Isso
ajuda a explicar porque ele se mistura com pessoas originárias do
submundo, como aquelas que vivem em um albergue, no qual os
marginalizados pela sociedade dormem, as quais ele fotografa para o
lançamento de um livro que está preparando. Thomas está a procura de
sentimentos e emoções reais, que estão ausentes do seu trabalho.
Thomas
também coleciona peças antigas (seu estúdio está repleto delas) e até
chega a pensar em comprar uma loja de antiguidades na qual adquiriu uma
hélice e que não possui qualquer uso prático para ele. Ele apenas a
comprou porque diz que a hélice é linda.
Quem
foi que disse que
Julio Cortázar não apareceu em 'Blow-Up'? Olha ele aí, como um dos
sem-teto que foram fotografados por Thomas para o livro que este estava
se preparando para lançar. Cortázar disse assistiu ao filme em Amsterdam
e que gostou muito de 'Blow-Up', afirmando também que Antonioni fez um
filme admirável e que o sucesso dele fez com que as pessoas se
interessassem em ler os seus contos.
Uma
das melhores cenas, a respeito do que vemos ou que pensamos que vemos, é
quando Thomas sai com o seu carro à noite, por Londres, e vê Jane
parada em frente a algumas lojas. Ele olha novamente, mas ela não está
mais lá e, depois, quando vai procurá-la, não consegue encontrá-la. É
como se ela tivesse desaparecido em pleno ar.
E
com isso surge a dúvida, se ele realmente a viu ou se tudo não passou
de fruto da sua imaginação. Aliás, é na sequência desta cena, quando ele
continua a procura por Jane, que Thomas vai se deparar com o show dos
Yardbirds, sobre o qual já comentei.
E
quando Thomas abre a porta para entrar no clube, no qual o Yardbirds
está tocando, vemos afixado na porta um panfleto que diz: "Aqui jaz Bob
Dylan, que faleceu no Royal Albert Hall, no dia 27 de maio de 1966.".
Esta é uma referência a um show que Dylan fez no local e no qual ele
encerrou a sua turnê.
Nesta
turnê, Dylan e banda usaram guitarras e instrumentos elétricos,
abandonando os instrumentos acústicos da época em que ele tocava apenas
música Folk. Foi no show do Royal Albert Hall, que fica em Londres, que
um fã gritou 'Judas' para Bob Dylan e um outro disse que nunca mais iria
ouvi-lo cantar. E Dylan respondeu: 'Eu não acredito em você! Você é um
mentiroso!'.
E
depois do show, Thomas vai até a casa de seu amigo (Ron), para quem
havia telefonado anteriormente, pedindo que fosse com ele até o parque
ver o corpo do homem assassinado.
No
entanto, Ron não irá, preferindo ficar em sua festa, onde inúmeros
jovens roqueiros usam drogas a fim de 'viajar' ou de 'expandir a mente'
(não foi à toa que o uso do LSD explodiu entre a juventude nessa época),
com a finalidade de se conectar com realidades e dimensões
alternativas, que não são alcançadas pelos nossos sentidos.
Ao revelar e ampliar o
filme, Thomas pensou que havia fotografado apenas uma discussão entre um
casal, mas ele descobre que, no local, também havia acontecido um
assassinato. E foi a ação dele, de fotografar, que criou a oportunidade
para que o crime acontecesse. Ele interferiu na realidade, alterando a
mesma.
A
paixão que Thomas sente por sua descoberta (o assassinato no parque) é
algo pessoal e intransferível. E por isso Ron não sente qualquer tipo de
interesse pelo caso. Ele está em 'outro' tipo de viagem. Seus
interesses são outros.
Neste
processo, o que move Thomas não é mais o dinheiro, a ambição, o desejo
do sucesso, mas as paixões, as emoções, os sentimentos que a sua
descoberta desencadearam no seu interior.
Essa
é a mesma paixão que ele busca quando se disfarça de sem-teto e vai
interagir com os miseráveis londrinos nos albergues baratos e que está
ausente no seu trabalho, na sua profissão, no seu cotidiano.
Nesta
época, Londres não era chamada de 'Swinging London' à toa, pois o Rock e
a cultura psicodélica estavam em plena efervescência criativa, com os
principais grupos e artistas lançando uma sucessão de discos
absolutamente fantásticos.
Uma manifestação pacifista
é mostrada no filme. Desta maneira, Antonioni mostra que Londres não se
restringia ao universo psicodélico da 'Swinging London'. Ele também
mostra uma Londres que tinha conflitos sociais, mendigos, homossexuais, jovens consumindo
drogas, homens negros usando roupas de seus países de origem, enfim, o
cineasta mostra o caráter multiétnico e multicultural da cidade.
Entre
1965/1967, os Beatles lançaram 'Rubber Soul', 'Revolver' e 'Sgt.
Peppers'. O Pink Floyd lançou o seu primeiro álbum ('The Piper at the
Gates of Dawn'), composto integralmente pelo genial Syd Barrett, os
Rolling Stones lançaram 'Out of Our Heads' e 'Aftermath', além de
'Satisfaction', entre outros, enquanto que Jimi Hendrix lançou 'Are You
Experienced?'.
E
a cidade também se tornou a capital da moda internacional, o que fica
muito evidente no filme, que mostra esse universo. Porém, o cineasta
combina isso com outros aspectos da Londres psicodélica.
Assim,
no filme, nós também vemos uma manifestação pacifista, homens negros
vestidos com suas roupas tradicionais, de sua cultura originária, jovens
Mods, mendigos, um casal de homossexuais passeando próximo da loja de
antiguidades, executivos e cidadãos comuns, homens e mulheres, andando
pela cidade.
Logo,
fica evidente, no filme, todo o caráter multiétnico, multicultural e
que é marcado por uma grande diversidade que caracteriza a metrópole que
é Londres, o que deixa claro que Antonioni não se restringe a mostrar a
'Swinging London'. Ele mostra que Londres vai além disso.
Thomas é muito procurado
por jovens modelos que desejavam ser fotografadas por ele (o mesmo
acontecia com David Bailey). Nesta cena vemos Hemmings contracenando com
as jovens modelos Gillian Hills (de cabelo moreno) e Jane Birkin (a
loura), que construíram carreiras no cinema.
Enquanto
isso, nos EUA, o The Doors realizou o seu primeiro álbum, em 1967, que
incluía várias canções clássicas, como a bela, triste e épica 'The End',
e o Velvet Underground lançou 'Velvet Underground and Nico', obra-prima
que se tornou muito influente, mesmo vendendo pouco.
Aliás,
Antonioni chegou a sondar o grupo de Lou Reed para participar de
'Blow-Up', mas os custos elevados para poder transportar toda a trupe
para o Reino Unido o levou a mudar de ideia.
Outro
cineasta genial que foi para a Inglaterra filmar foi o francês Jean-Luc
Godard, que fez 'One Plus One/Sympathy for the Devil', em 1968, no qual
temos uma significativa participação dos The Rolling Stones, que
ensaiam o arranjo da música de mesmo título.
Godard
filmou, também, uma série de sequências com atores e atrizes negros
britânicos que fazem a leitura de textos dos Black Panthers (Eldridge
Cleaver). E Anne Wiazemsky sai pela cidade fazendo pichações em muros,
calçadas, vidraças, com frases de teor político.
E
o seu parceiro, na época, de Nouvelle Vague, François Truffaut, também
filmou na Inglaterra, em 1966, quando fez o filme 'Fahrenheit 451', uma
ficção científica baseada no livro de Ray Bradbury, que também é falado
em inglês e que foi feito com intérpretes (Julie Christie foi a
protagonista) e equipe técnica britânicos.
Jeff
Beck fica irritado com o fato do amplificador não estar funcionando
corretamente e bate a guitarra no mesmo. Beck, inicialmente, não queria
quebrar a guitarra, apenas o amplificador, mas Antonioni insistiu que a
guitarra também deveria ser quebrada, o que deixou Beck ainda mais
irritado, contribuindo para a autenticidade da cena.
O
cinema britânico também vivia um bom momento, com uma geração de
cineastas talentosos, que formaram a chamada Nouvelle Vague Britânica,
que incluía nomes como Lindsay Anderson, John Schlesinger, Karel Reisz,
Tony Richardson.
Inegavelmente, a Grã-Bretanha estava na crista da onda naqueles anos. Bons tempos, hein?
Depois
que sai da festa psicodélica realizada na casa do seu amigo Ron, que
não quer saber de assassinato algum, o fotógrafo Thomas vai sozinho ao
parque Maryon. Mas quando ele volta para o local, o corpo do homem
assassinado havia desaparecido, sem que se tenha qualquer pista do que
havia acontecido com o mesmo.
Novamente, vem o questionamento a respeito do que vemos ou não, do que é a realidade, afinal.
Assim,
também está presente, nas duas obras, de Cortázar e Antonioni, a ideia
da Física Quântica de que quando voltamos a observar aquele fenômeno,
ele já se modificou. Logo, não há como recuperar aquele momento, que já
se transformou em outra coisa.
Jeff
Beck arremessa o braço da guitarra em direção ao público, que irá se
engalfinhar pelo mesmo. A atitude de Jeff Beck acaba gerando uma
situação de confusão, pois todos querem se apossar do objeto, que Thomas
consegue pegar, mas o descarta depois. Esta
sequência representa uma crítica ao fetichismo da mercadoria cultural.
Essa confusão acontece porque, segundo Adorno,"o fetichismo cria um tipo
de religião em que 'os consumidores se transformam em escravos dóceis',
alienando-se de suas vontades e de suas autonomias.".
Isso
talvez explique porque Thomas não encontrou corpo algum quando retornou
ao parque a fim de fotografá-lo e também porque não viu Jane novamente
em frente à loja quando voltou a olhar para o local.
E
no final temos outra cena antológica, quando um grupo de jovens
universitários mímicos começa a jogar uma partida de tênis imaginária,
em uma quadra, mesmo sem ter uma raquete ou mesmo uma bola de tênis.
Porém,
um aspecto interessante da cena é que no momento em que a 'bola
imaginária' cai do lado de fora da quadra e Thomas a devolve para que a
partida continue, logo depois nós ouvimos o barulho da raquete batendo
na bola, como se esta não fosse mais imaginária.
É a ideia de dualidade do estado da matéria, Onda e Partícula, que vemos novamente no filme.
Obs3:
Este grupo de jovens mímicos apareceu na sequência inicial do filme e
se parece com uma trupe teatral, mas eles são jovens universitários que
saem pela cidade a fim de arrecadar dinheiro para caridade, o que é uma
tradição inglesa.
Jogadora da partida de tênis imaginário pede a Thomas que pegue a 'bola', para que possam retomar o jogo.
Depois
que Thomas devolve a 'bola imaginária' para os jogadores, nós o vemos,
sozinho, no gramado, talvez refletindo sobre o que viu (ou a respeito do
que não viu) naquele dia.
Seria
esta uma maneira de Antonioni dizer que a busca de Thomas por uma vida e
por uma realidade alternativas (tal como faziam os jovens roqueiros e
psicodélicos daquela época) estava fadada ao fracasso?
Outra
possibilidade é a de que Antonioni estaria dizendo que qualquer
tentativa que venhamos a fazer para se tentar compreender toda a
realidade também não dará em nada e que, no máximo, teremos acesso a
apenas alguns fragmentos da mesma, tal como afirma a Física Quântica.
Quem sabe...
Fim.
Obs4:
A respeito do filme, David Hemmings disse o seguinte: "Adorei cada
momento do meu tempo em Blow-Up. Antonioni se tornou um bom amigo.
Descobri que quanto mais trabalhávamos juntos, maior era meu apreço por
seu olhar extraordinário...".
Thomas, sozinho, no
gramado, refletindo sobre o que viu (ou o que não viu) naquele longo
dia. Logo depois ele também desaparece. Assim, será que o próprio Thomas também existiu? E o que foi que o espectador assistiu?
Informações Adicionais!
Título: Blow-Up;
Diretor: Michelangelo Antonioni;
Roteiro:
Michelangelo Antonioni e Tonino Guerra; Edward Bond (diálogos em
inglês); baseado no conto 'As Babas do Diabo', de Julio Cortázar;
Duração: 111 minutos;
Ano de Produção: 1966;
Países de Produção: Reino Unido, Itália e EUA;
Música: Herbie Hancock;
Edição: Frank Clarke; Fotografia: Carlo di Palma;
Elenco:
David Hemmings (Thomas); Vanessa Redgrave (Jane); Sarah Miles
(Patricia); Jane Birkin (modelo loira); Gillian Hills (modelo morena);
Peter Bowles (Ron); Verushka (Verushka, modelo); The Yardbirds (Jeff
Beck, Jimmy Page, Chris Dreja, Keith Relf, Paul Samwell-Smith); Julio
Cortázar (como um mendigo); Susan Brodrick (proprietária da loja de
antiguidades); Ronan O'Casey (amante de Jane no Parque).
Catherine Deneuve e David
Bailey (no qual o personagem Thomas foi baseado), que dirige o seu
Rolls-Royce conversível pelas ruas de Londres. Eles haviam acabado de se
casar, em agosto de 1965, e ficaram juntos até 1972.
Links:
Comparando os locais de filmagem de 'Blow Up' em 1966 e em 2016:
A câmera de trabalho de
Thomas era a então inovadora Nikon F, a primeira SLR de 35 mm do mundo
com acoplamento total de obturador e abertura com seu medidor de
exposição. Embora o modelo em particular existisse desde 1959, a
publicidade glamorosa que recebeu no filme gerou um entusiasmo sem
precedentes entre os fãs de câmera, profissionais e amadores (Obs: texto
do IMDB).
Jeff
Beck e o vocalista
Keith Relf tentam arrumar o amplificador, que passou a ter um mal
funcionamento. Mas isso não adiantou e Jeff Beck quebrou a sua guitarra,
depois, em função disso. A cena foi feita a pedido de Antonioni, o que
desagradou Jeff Beck, mesmo usando uma guitarra barata e que não lhe
pertencia.
Apresentação do The Yardbirds no filme:
Obs4: Essa
é uma versão bastante revista, ampliada e atualizada de um texto
anterior, que foi publicado neste blog em Fevereiro de 2019. O texto foi
atualizado nos dias 19 e 20/02/2023.