quinta-feira, 14 de março de 2019

Jean-Luc Godard: Sugestões para melhor compreender a obra deste Gênio do Cinema!

Jean-Luc Godard: Sugestões para melhor compreender a obra deste Gênio do Cinema! - Marcos Doniseti!
Jean-Luc Godard é autor de uma obra fantástica, uma das mais revolucionárias e relevantes da história do Cinema mundial. 

Sugestões para conhecer a obra de Godard!

Uma amiga do Facebook fez um comentário em uma das publicações de um dos grupos sobre Cinema do qual sou integrante e administrador (Cults e Clássicos) no qual ela disse que gostaria de conhecer melhor e experimentar a obra do Godard. Ela também afirmou que aceita sugestões.



Então, inspirado nas afirmações desta amiga, eu decidi escrever um texto com algumas sugestões, dizendo o que é necessário, a meu ver, para se conhecer melhor a obra deste genial cineasta franco-suíço que é Jean-Luc Godard e cujo filme mais recente ('Imagem e Palavra'; 2018) acabou de estrear no Brasil.

Então, vamos começar:

1) Antes de assistir a algum filme (longa-metragem) de Godard eu sugiro que procurem ler alguns textos com uma biografia resumida da trajetória deste genial cineasta.

Comecem procurando por conhecer a época em que ele ainda era um cinéfilo que não saia da Cinemateca e dos cineclubes de Paris, passando pelo período em que foi um dos principais críticos da influente revista 'Cahiers du Cinéma', quando começou a fazer os seus primeiros curtas-metragens, até a sua estreia com a obra-prima que é 'Acossado' (1960). 
'À Bout De Souffle' ('Acossado'; 1960) promoveu uma das maiores revoluções cinematográficas da história do Cinema. Nas palavras de Philippe Garrel e de Bernardo Bertolucci, os filmes de Godard mostravam os caminhos que deveriam ser seguidos pelos demais cineastas.

2) Depois disso eu recomendo que assistam aos filmes (longas-metragens) na sequência em que eles foram realizados pelo Godard, começando com 'Acossado', é claro. 

No caso de Godard isso é importante, sim, pois a sua obra foi passando por várias mudanças durante a sua longa carreira e os seus filmes nunca se repetiam.

Um filme de Godard nunca é igual ao anterior. Sempre temos algo diferente. E durante os anos 1960, é nítida a mudança que Godard promove em sua obra. Se quiserem fazer uma experiência sugiro que assistam 'Acossado' (1960) e, logo depois, vejam 'Weekend' (1967).

São filmes muito diferentes. Os sete anos que separam os dois anos parecem muito mais, de tão distintos que eles são. Nem parece que foram feitos pelo mesmo cineasta. 

E para perceber melhor as mudanças pelas quais a obra de Godard passou é necessário assistir aos filmes que sucedem 'Acossado' e que antecedem 'Weekend' de forma cronológica. Assim, se 'Acossado' é o ponto de partida da obra godardiana, 'Weekend' representa o fim de um ciclo, de toda uma trajetória, o que ele mesmo anuncia no final do filme. 
'A Nouvelle Vague e Godard', de Michel Marie, é um dos melhores livros lançados no Brasil a respeito deste fundamental movimento cinematográfico e do clássico filme de 1960 de Godard.

Portanto, Godard percorreu toda uma trajetória (pessoal e artística) que o levou a promover mudanças muito radicais em sua obra e que fizeram com que realizasse filmes com características tão diferentes.

No site IMDB temos a relação completa dos filmes feitos por Godard e na sequência em que foram realizados. O único erro na lista é que ela coloca 'Le Petit Soldat' como sendo o quarto longa-metragem de Godard quando, na verdade, ele foi o segundo.

Acontece que 'Le Petit Soldat' foi filmado em 1960, mas foi censurado pelo governo francês (pois tratava da Guerra da Argélia, que era um assunto tabu na França naquele momento) e somente foi liberado para exibição em 1963. No filme, Godard disse que os franceses iriam perder a guerra, pois eles não sabiam qual era o motivo pelo qual estavam lutando, enquanto que os argelinos lutavam por um ideal (a independência da sua nação). Ele acertou, pois em 1962 a guerra terminou, com a França reconhecendo a Independência da Argélia. 

3) Os filmes de Godard exigem muito esforço do público.

Os filmes de Godard não são fáceis, mas também não são 'monstros de 7 cabeças indecifráveis'. Porém, eles exigem bastante esforço do público para que possam ser compreendidos. Assim, recomendo que os vejam mais de uma vez a cada um deles. 

De preferência, sugiro que os assistam, no mínimo, duas vezes.
"Imagem e Palavra", novo filme de Godard, que recebeu uma Palma de Ouro Especial no Festival de Cannes de 2018, está sendo lançado no Brasil.

Garanto que vocês irão, ao rever os filmes, notar muitos detalhes que não haviam percebido quando os assistiram pela primeira vez. E o mesmo irá acontecer se os assistirem uma terceira vez...

Desta maneira, a cada nova oportunidade que vemos um filme de Godard sempre descobrimos algo diferente, percebemos detalhes que haviam passado desapercebidos nas vezes anteriores, diálogos ou cenas cuja importância não tínhamos dado o devido valor.

Assistir a um filme de Godard é uma experiência muito semelhante aos filmes dele, que são obras em andamento, que nunca tem um final propriamente dito. Uma história que ilustra muito bem essa concepção de Godard sobre o caráter inacabado das obras de arte (e do seus filmes) ficou claro quando do lançamento do filme 'One Plus One'/'Sympathy for the Devil' (1968).

Assim, enquanto os produtores britânicos do filme (Michael Pearson e Iain Quarrier) lançaram uma versão do mesmo na qual a música título dos The Rolling Stones era finalizada, na versão de Godard o grupo nunca terminava a música, que permanecia inacabada. Justamente por isso é que o filme tem dois títulos, sendo que a versão de Godard é o 'One Plus One'. 
Godard e Marina Vlady, estrela do seu filme 'Duas ou Três Coisas que eu sei sobre Ela' (1967).

4) Além disso, os filmes de Godard contém inúmeras referências e citações de todos os tipos: literárias, filosóficas, cinematográficas, poéticas, históricas, culturais, pictóricas. Muitos filmes, livros e pinturas são citados em seus filmes. São tantas as referências que é praticamente impossível a uma única pessoa identificar a todas.

Aliás, foi justamente por isso que Manny Farber, um dos principais críticos de Cinema dos EUA, afirmou que Godard era o único cineasta que fazia com que ele se sentisse como sendo um 'burro'.

Obras de escritores e artistas franceses (Céline, Aragon, Rimbaud, Paul Eluard, pintores impressionistas como Monet, Renoir, Manet), em especial, estão muito presentes nas obras de Godard.

Logo, procurar se informar sobre estas referências ajuda e muito a compreender os filmes de Godard, pois tais elementos não estão presentes nos filmes dele apenas para que o cineasta mostre que é uma pessoa culta, mas são essenciais na construção da obra e da própria narrativa 'godardiana'.

5) Ler muitos textos sobre os filmes de Godard também é importante.

Godard é um dos cineastas cuja obra mais foi objeto de análise e interpretação. Na Internet é possível encontrar muitas e boas criticas de seus filmes, tanto em sites brasileiros (Plano Crítico, Adoro Cinema, Cineplayers, Outros Críticos, Cena de Cinema, por exemplo), quanto estrangeiros (Slant Magazine e Senses of Cinema são muito bons).

No site IMDB temos relações de críticas escritas sobre cada filme do Godard. Somente sobre 'Acossado', por exemplo, temos quase 200 críticas relacionadas. 
Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg em cena de 'Acossado' (1960), filme que revolucionou o Cinema mundial. O padrão de beleza da lindíssima Jean Seberg passou a ser imitado por muitas mulheres pelo mundo afora. Quando participou do filme ela tinha 21 anos. Belmondo contou em sua autobiografia que Godard tinha uma paixão secreta por ela e que este foi o verdadeiro motivo dele ter convidado Seberg para trabalhar em 'Acossado'. 

Na Internet é possível encontrar teses de mestrado e até de doutorado a respeito da Nouvelle Vague e da obra de Godard (estão em formato PDF) e também encontramos muitos textos de estudiosos que foram publicados em revistas ou publicações especializadas (de cinema, universitárias).

6) Livros e Documentários sobre Godard e a Nouvelle Vague também são importantes.


A obra de Godard e dos cineastas da Nouvelle Vague já foi analisada em inúmeros livros.

No Brasil, não temos muitos livros traduzidos, mas temos alguns muito bons que eu recomendo, incluindo 'A Nouvelle Vague e Godard', 'Um Ano Depois', 'Godard, Cinema, Literatura' e 'Escrever com a Câmera: A Literatura Cinematográfica de Jean-Luc Godard', 'Group Dziga Vertov' e 'Godard, Imagens e Memórias: Reflexões sobre a História do Cinema'.

Também temos um excelente documentário, que foi lançado em DVD no Brasil, chamado 'Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague', cujo roteiro foi escrito por Antoine de Baecque, o principal biógrafo de Godard, Truffaut e da revista 'Cahiers du Cinéma', revista na qual a dupla começou a sua carreira de críticos de cinema.

Espero que esse texto ajude a todos que desejam conhecer melhor e querem se aprofundar na compreensão da obra deste genial cineasta que é Jean-Luc Godard.
'Escrever com a Câmera - A Literatura Cinematográfica de Jean-Luc Godard', de Mário Alves Coutinho, analisa com profundidade as influências literárias sobre a obra de Godard, baseando-se em três filmes fundamentais: 'Le Mépris' ('O Desprezo', 1963), 'Alphaville' (1965) e 'Pierrot le Fou' ('O Demônio das Onze Horas', 1965).

Links:

Textos sobre o novo filme de Godard ('Imagem e Palavra'):

'Outros Críticos':

https://outroscriticos.com/a-imagem-variacao-sobre-palavra-e-imagem-de-jean-luc-godard/

'Adoro Cinema':

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-253724/criticas-adorocinema/

'Folha de S.Paulo':

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/03/e-impossivel-entender-totalmente-um-filme-de-godard-e-essa-e-sua-forca.shtml

Luiz Carlos Merten (Estadão Conteúdo):



'Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague' é um excelente documentário sobre a criação do mais revolucionário movimento cinematográfico da história e também a respeito da relação de amizade entre Godard e Truffaut. Posteriormente, eles acabaram rompendo.

'Canal Claquete':

http://canalclaquete.com.br/criticas-de-filmes/critica-imagem-e-palavra/

'Plano Crítico':

https://www.planocritico.com/critica-imagem-e-palavra/

Instituto Goethe:

https://www.goethe.de/ins/br/pt/kul/sup/tps/21418207.html

Um casal cheio de Estilo - Jean-Luc Godard e Anna Karina:

https://glamurama.uol.com.br/o-estilo-do-casal-icone-da-nouvelle-vague-anna-karina-e-jean-luc-godard/

Godard e a obra inacabada:

http://www.revistacinetica.com.br/oneplusone.htm
Godard e Anna Karina formaram o casal ícônico da Nouvelle Vague francesa nos anos 1960. Além de tudo, eles eram muito elegantes.

Trailer do Filme (Legendado)!


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