segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Filme de Marco Bellocchio, 'Buongiorno, Notte' mostra porque as 'Brigadas Vermelhas' foram derrotadas! - Marcos Doniseti!

Filme de Marco Bellocchio, 'Buongiorno, Notte' mostra porque as 'Brigadas Vermelhas' foram derrotadas! - Marcos Doniseti!
O ótimo filme de Marco Bellocchio mostra o rapto e morte de Aldo Moro e retrata um momento importante da situação política italiana da década de 1970, qur foi extremamente turbulenta na terra da Bota, com atos de violência promovidos pela Extrema-Direita e pela Extrema-Esquerda.
Título: Buongiorno, Notte (Bom Dia, Noite); Diretor: Marco Bellocchio;
Roteiro: Marco Bellocchio e Daniela Ceselli (baseado no livro 'O Prisioneiro - 55 dias com Aldo Moro', de Laura Braghetti - única mulher no cativeiro de Aldo Moro - e Paola Tavella, jornalista);
País de Produção: Itália; Ano de Produção: 2003; Duração: 102 minutos; Elenco: Maya Sansa (Chiara), Roberto Herlitzka (Aldo Moro), Luigi Lo Cascio (Mariano), Paolo Briguglia (Enzo), Giulio Bosetti (Papa Paulo VI); Pier Giorgio Bellocchio (Ernesto), Giovanni Calcagno (Primo), Roberta Spagnuolo (Sandra). Obs1: O texto que escrevi comenta a respeito de várias cenas e diálogos importantes que são mostrados no filme. Então, se você não quiser saber sobre os mesmos, sugiro que veja o filme antes de ler o texto, ok?. Esse ótimo filme de Marco Bellocchio mostra o caso do sequestro de Aldo Moro pelo grupo de extrema-esquerda Brigadas Vermelhas (Brigate Rosse em italiano) em Março de 1978 e que, após 55 dias de cativeiro, acabou sendo executado pelos membros do grupo. Portanto, este é um filme cuja história nós já conhecemos de antemão, inclusive também sabemos qual será o final da mesma. Mas vale a pena vê-lo, pois é uma bela aula de cinema. Para se compreender esse belo filme político de Bellocchio (que filmou vários outros filmes de caráter explicitamente político, como é o caso de 'Sbatti il mostro in prima pagina', no qual crítica a Grande Mídia, e de "La Cina è vicina", sobre a influência do maoísmo em setores da juventude italiana nos anos 1960) é necessário, no entanto, saber um pouco mais sobre a complexa realidade política italiana da década de 1970. Aldo Moro tinha sido primeiro-ministro italiano em várias oportunidades (ocupou o cargo por 5 vezes entre o final de 1963 e o início de 1976) e era um dos principais líderes da DC (Democracia Cristã, partido conservador) que, ao lado do PCI (Partido Comunista Italiano), era o maior partido político da Itália. A DC governava o país desde o final da Segunda Guerra Mundial, liderando uma coalizão de forças políticas conservadoras que fazia de tudo para impedir que o PCI chegasse ao poder por vias eleitorais.
Enrico Berlinguer e Aldo Moro se cumprimentam. Em 1973 eles iniciaram uma política de aproximação entre o PCI e a DC que deixou bastante irritados aos líderes direitistas da DC, ao governo dos EUA, a Máfia, o Vaticano e, até, o governo da URSS.
Essa ascensão dos comunistas ao governo quase aconteceu nos primeiros anos da década de 1970, quando o secretário-geral do PCI, Enrico Berlinguer, adotou a política do chamado 'Compromisso Histórico', que buscou uma aproximação com a DC, visando formar um governo liderado pelos dois partidos, a fim de evitar um Golpe de Estado e a implantação de uma Ditadura no país, tal como havia ocorrido no Chile (Setembro de 1973) e na Grécia (Novembro de 1973). A Itália estava dividida politicamente desde o final da Segunda Guerra Mundial e sucessivos governos subiam ao poder para, logo depois, serem derrubados, enfrentando uma situação de crônica e permanente instabilidade política. Além disso, desde 1969 o país estava sendo assolado por inúmeros atentados terroristas, sequestros e ações violentas por parte de vários grupos extremistas, tanto de Direita, como de Esquerda (as Brigadas Vermelhas eram o principal grupo extremista de Esquerda). A extrema-direita, com apoio do serviço secreto italiano, da CIA, de lideranças conservadoras da DC, apostou na chamada 'Estratégia da Tensão' (criada pela 'Operação Gladio'), ou seja, na radicalização das lutas políticas, a fim de desestabilizar o país e justificar a instalação de uma Ditadura. Um processo semelhante a esse ocorreu no Brasil, no governo Jango, entre 1961-1964, e o resultado disso foi o Golpe de 64 e a Ditadura Militar de 21 anos. Essa instabilidade política crônica na Itália levou ao início do que se chamou de 'Compromisso Histórico' entre o PCI e a DC. Tal linha política foi defendida, inicialmente, pelo secretário-geral do PCI, Enrico Berlinguer, a partir de 1973. E Aldo Moro (líder da DC, que tinha posições mais progressistas dentro do partido, que era bastante conservador) acabou aceitando firmar tal compromisso, o que não era aceito pelos grupos e lideranças mais direitistas dentro da Democracia Cristã. 
'l'Unità', jornal oficial do PCI, condena o rapto de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas e o assassinato de 5 seguranças do mesmo. Assassinato destruiu a política de aproximação adotada por Berlinguer e Moro, o chamado 'Compromisso Histórico'. Tal política fortaleceu política e eleitoralmente ao PCI, que passou de 27,1% dos votos em 1972 para 34,4% dos votos em 1976 nas eleições para o Parlamento italiano. Depois da morte de Moro, o PCI foi perdendo apoio e caiu para 26,6% dos votos em 1987.
O principal objetivo desse 'Compromisso Histórico', entre os dois principais partidos políticos italianos, era o de manter a democracia no país, ameaçada cada vez mais pelas ações dos grupos extremistas e pela adoção da 'Estratégia da Tensão', criada por meio da 'Operação Gladio'. A 'Operação Gladio' foi criada pela CIA e pela OTAN em 1958 e contava com a participação dos serviços secretos italianos e da Loja Maçônica P2. Ela tinha como meta promover uma 'Estratégia da Tensão', por meio de um processo de desestabilização (via atentados terroristas e outros atos violentos) que tinha como meta inviabilizar a ascensão dos fortes partidos de Esquerda aos governos europeus ocidentais, principalmente na Itália (PCI), França (PCF) e Espanha (PCE), que possuía fortes, populares e organizados Partidos Comunistas. Enrico Berlinguer imaginava que, com a política de 'Compromisso Histórico', a Itália poderia passar a ter um governo que unisse as três grandes forças políticas do país, que eram os Democratas-Cristãos, os Comunistas e os Socialistas (estes participavam do governo italiano, junto com a DC, desde 1963), dando um mínimo de estabilidade política à nação italiana, o que permitiria aprofundar a Democracia e futuramente, conduzir o país, pacificamente e por meio de sucessivas reformas, a um Socialismo Democrático. Foi nesse contexto político complexo que as 'Brigate Rosse' decidiram sequestrar Aldo Moro, o que fizeram em 16/03/1978. Moro, inclusive, quando do momento do rapto, estava se dirigindo ao Parlamento italiano, no qual iria aprovar a proposta de formação de um governo que reuniria, pela primeira vez na história italiana, o PCI e a DC, os dois maiores partidos políticos do país. Na visão dos líderes Brigadistas, o sequestro de Moro, além de inviabilizar o novo governo, do qual fariam parte o PCI e a DC, desencadearia algum tipo de levante popular, revolucionário, contra o governo e o Estado italianos. Eles acreditavam que Moro simbolizava um Estado que era odiado pelos italianos e que, ao sequestrá-lo, eles seriam vistos como heróis pela população. É verdade que, na Itália dos anos 1970, existiam fortes e organizados movimentos operários e populares que mobilizavam milhões de pessoas e que lutavam pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária (Socialista), e que contribuíram decisivamente para algumas conquistas importantes, como a aprovação da lei do divórcio, mesmo enfrentando uma grande oposição da Igreja Católica.
Aldo Moro, o verdadeiro, no cativeiro. Tal foto foi divulgada pelas 'Brigate Rosse' para convencer o governo italiano, liderado por Giulio Andreotti, a negociar a sua libertação, mas isso não aconteceu, o que levou à morte do líder democrata-cristão, que era um rival de Andreotti dentro da DC.
E as Brigadas Vermelhas e outras organizações de Extrema-Esquerda (Lotta Continua, Prima Linea, etc) tinham apoio de uma parcela significativa destes movimentos sociais (operário, estudantil, de intelectuais), mas os mesmos eram muito fragmentados politicamente, existindo dezenas de organizações, cada uma delas seguindo uma linha política própria. Inclusive, uma destas organizações acaba sendo citada no filme de Bellocchio, que é a 'Lotta Continua', quando Chiara vai até uma banca de jornais e compra exemplares do 'Corriere Della Sera' (conservador), do 'l'Unità' (jornal do PCI) e do 'Lotta Continua' (Extrema-Esquerda) a fim de levar para os raptores de Moro, que não saem do apartamento que é usado como cativeiro. Porém, o efeito político do sequestro foi exatamente o contrário do que os Brigadistas previam (e isso é mostrado com clareza no filme de Bellocchio), ou seja, a decisão da Brigadas Vermelhas (ou BR, de Brigate Rosse, Brigadas Vermelhas em italiano) de sequestrar e, depois, executar Aldo Moro transformou este num mártir e jogou a imensa maioria dos italianos totalmente contra as Brigate Rosse. E isso acabou sendo usado, depois, como pretexto pelo Estado italiano para promover um brutal e feroz campanha repressiva contra as BVs (com o uso de brutais torturas contra os brigadistas presos). Tal política repressiva acabou fazendo com que as Brigadas Vermelhas fossem dizimadas nos anos seguintes. 
Jornal do grupo de extrema-esquerda 'Lotta Continua', que era muito atuante no movimento operário italiano desde o final dos anos 1960. Chiara compra um exemplar do jornal no filme de Bellocchio.
A se destacar no filme a bela atuação da também bonita atriz Maya Sansa, que interpreta Chiara, uma brigadista que participa do sequestro e que era a única a sair do apartamento para onde Aldo Moro foi levado. Ela trabalhava numa biblioteca do governo italiano, comprava os jornais, de várias tendências ideológicas, incluindo o 'L'Únita', órgão oficial do PCI; o 'Corriere dela Sera' (conservador) e o 'Lotta Continua', de um grupo esquerdista independente e radical da época e que chegou a possuir cerca de 20 mil militantes. Desta maneira, Chiara era a única integrante do grupo de sequestradores que conversava com outras pessoas, que tinha contato com a realidade e percebeu, claramente, que aquela ideia de que os brigadistas seriam vistos como heróis pelo povo italiano ao sequestrar Moro havia sido totalmente desmentida pelos fatos. Com isso, ela se dá conta do brutal erro estratégico que as 'Brigate Rosse' haviam cometido ao sequestrar Moro e percebe que a violência que eles estavam usando para promover a Revolução Socialista no país estava totalmente equivocada, pois em vez de aproximá-los do povo, acabou fazendo o oposto, afastando a população dos brigadistas. Desta forma, Chiara se coloca totalmente contra a ideia de executar Moro, mas a liderança da organização já havia tomado essa decisão, que se revelou fatal para a mesma. O próprio Moro diz para os brigadistas no cativeiro que ele era o representante de um partido que tinha, sim, bases populares e que as pessoas não queriam fazer nenhuma revolução, mas ter uma vida boa, calma e tranquila. Também é interessante notar como Bellocchio mostra os brigadistas no filme. Em nenhum momento eles são mostrados como seres irracionais, brutais ou como verdadeiros animais estúpidos e desprovidos de lógica, algo que é muito comum nos filmes ianques quando se trata de mostrar guerrilheiros ou terroristas. Nos estúpidos filmes comerciais dos EUA nunca ficamos sabendo o que motiva os 'terroristas' a agir daquela forma ou quais são as suas razões. No filme de Bellocchio, isso não acontece. 
Seriam os brigadistas terroristas brutais e desprovidos de lógica? Seriam a encarnação do capeta? Não. Eles eram pessoas comuns, mas que fizeram uma análise política equivocada e que adotaram uma estratégia de luta errada, o que os levou ao isolamento e à derrota.
Neste, os brigadistas são pessoas comuns, que usam terno e gravata, fazem o sinal da cruz antes de comer, sendo indivíduos com os quais qualquer um de nós poderia cruzar na ruas e dizer 'bom dia' para elas sem jamais suspeitarmos que seriam membros de uma organização extremista e revolucionária de Esquerda. Chiara faz isso (afinal ela tem um emprego) e em nenhum momento alguém suspeita que ela estaria envolvida no sequestro de Aldo Moro. No fim das contas quem acaba sendo preso é o colega de trabalho dela, que inclusive é um crítico das BVs. 

Os membros das BVs são, de fato, líderes políticos que fizeram uma análise equivocada da realidade política do país e, com isso, acabaram adotando uma estratégia de luta que fracassou e que acabou resultando no extermínio das BVs pelo aparato repressivo do Estado italiano.
Inclusive, Bellocchio deixa bem claro no filme o quanto, na sua visão, a estratégia de luta violenta das 'Brigate Rosse' estava equivocada. E isso é mostrado por meio da personagem Maya. No filme, temos uma cena na qual Chiara está junto com os seus parentes, participando de uma grande festa em família. Muitos dos seus parentes, e tal como os seus pais, eram antigos 'partisans', ou seja, guerrilheiros comunistas que lutaram contra o Fascismo e que participaram da luta para derrubar o governo ditatorial de Benito Mussolini.

Esta luta se desenvolveu, principalmente, entre 1943 e 1945, quando foi instalada (no norte da Itália e em algumas regiões centrais) a chamada 'República de Saló' ou 'República Social Italiana', que foi um regime fascista fantoche controlado pelos nazistas alemães.
'Corpo al cuore': Livro do jornalista italiano Nicola Rao (conservador) comprovou aquilo que todos já sabiam, ou seja, que o Estado italiano usou e abusou das torturas como forma de reprimir e aniquilar as Brigate Rosse.
Em um determinado momento do encontro festivo, do qual Chiara participa, eles começam a cantar 'Bella Ciao', uma canção popular de origem italiana que simboliza a luta dos trabalhadores do mundo todo por justiça, liberdade e igualdade e que virou símbolo dos partisans italianos na luta anti-fascista durante a Segunda Guerra Mundial.

E ao ver tal cena, Chiara fica pensativa, como que percebendo que os partisans venceram porque tinham o povo italiano ao seu lado. No entanto, ela era uma brigadista e ninguém da sua família sabia disso. Então, é como se ela pensasse: 'Sem o povo ao nosso lado, como poderemos vencer?'. E isso é algo que o filme de Bellocchio não deixa margem para dúvidas: Os brigadistas fazem uma análise errada da situação política italiana e adotam uma estratégia de luta equivocada, o que gera o seu isolamento político, afastando-os do povo italiano. E isso, por sua vez, ´permitirá que o Estado italiano, controlado pelas forças conservadoras e direitistas, promova um verdadeiro massacre contra as Brigate Rosse e os demais grupos da Extrema-Esquerda italiana, o que os levará à derrota. Exemplo desse equívoco é que eles acreditavam que o sequestro de Moro os transformaria em heróis aos olhos da população italiana, sendo que aconteceu exatamente o contrário, até porque toda a imprensa da época, até a ligada ao PCI (que publicava o jornal 'l'Unità'), condenou o sequestro e execução de Aldo Moro.

Até porque, o governo italiano e a imprensa deram muito destaque ao fato de que a ação do sequestro de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas resultou na morte de cinco seguranças, fato este que jogou quase todo o povo italiano contra a ação do grupo extremista. O filme também mostra que os brigadistas permitiram a Moro escrever inúmeras cartas aos governantes italianos, e até ao Papa, para convencer os líderes do país a negociar a sua libertação, em troca da concessão da liberdade para alguns prisioneiros políticos. Mas isso não aconteceu, o que levantou a suspeita (que é certeza para muitos, inclusive para mim) de que, de fato, os líderes conservadores e direitistas da Democracia-Cristã queriam se livrar de Moro, que era um defensor do diálogo com os comunistas (o que era algo bastante polêmico em plena era da Guerra Fria) e da formação de um governo junto com o PCI, política esta que eles rejeitavam. Aliás, além dos líderes conservadores Democracia Cristã, a Máfia, a Igreja Católica, o governo dos EUA e o governo da URSS também eram contrários ao acordo entre a DC e o PCI.
Chiara vai à banca, comprar jornais: A manchete do 'l'Unità' (jornal oficial do PCI) é 'Papa pede a libertação de Moro de forma incondicional'. Ao fundo, vemos um mercado de nome 'Moscou'. O PCI condenou o rapto e assassinato de Moro pelas BVs. O acontecimento destruiu a política de 'Compromisso Histórico' adotada pelos comunistas italianos e que era condenada pelos governos dos EUA e da URSS.
O governo soviético combatia a estratégia do 'eurocomunismo' que era defendida pelos PCs da Itália, França e Espanha e que tinha na figura do grande líder do PCI, Enrico Berlinguer, a sua principal liderança política e teórica no continente europeu. Berlinguer deixou bem claro nas comemorações do 60o. aniversário da Revolução Russa em Moscou, em 1977, que defendia um Socialismo Democrático, no qual todas as liberdades individuais e coletivas fossem respeitadas, bem como existisse na sociedade socialista uma clara pluralidade política, partidária, ideológica e cultural.

Berlinguer também foi um pioneiro na crítica ao consumismo desenfreado que caracteriza os países capitalistas desenvolvidos, fazendo a defesa, já naquela época, da preservação ambiental e de um desenvolvimento sustentável. Tal política entrava em choque frontal com o regime Stalinista autoritário, de partido único e burocratizado que vigorava na URSS e nos demais países do bloco dito Socialista, cujo modelo de desenvolvimento não dava a mínima para as liberdades individuais e desprezava as questões ambientais. Portanto, a lista de interessados em sacrificar Aldo Moro e, assim, inviabilizar o 'Compromisso Histórico', que resultaria na formação de um governo unindo DC e PCI, o que era defendido por Aldo Moro e Enrico Berlinguer, era muito extensa, variada e bastante poderosa, para dizer o mínimo. Assim, a recusa do governo italiano em negociar a libertação de Aldo Moro acabou praticamente forçando as Brigadas Vermelhas a matá-lo, o que vai resultar na adoção de leis anti-terroristas que literalmente deram ao Estado italiano o direito de fazer o que fosse necessário para destruir as 'Brigate Rosse' e demais grupos de Extrema-Esquerda. E assim foi feito.
Roberto Herlitzka interpreta, de forma brilhante, ao líder político Aldo Moro, raptado e assassinado pelas Brigate Rosse e que era muito mal visto pelas forças direitistas da Itália, pela Máfia, Igreja Católica, CIA, pelos governos dos EUA e da URSS. Henry Kissinger disse para Moro, alguns anos antes, que ele iria pagar muito caro pela sua política de aproximação com o PCI. E foi exatamente isso que aconteceu... Irritou gente pouco poderosa, o Aldo Moro, né?
Aliás, dentro da Itália o maior beneficiado com a morte de Moro foi o seu adversário dentro da Democracia Cristã, o direitista Giulio Andreotti (então Primeiro-Ministro italiano), que, anos depois, foi acusado de envolvimento com a Máfia e de corrupção, bem como de envolvimento na morte de Aldo Moro. Os erros das Brigadas Vermelhas também foram inegáveis.

Assim, o fato de que cinco seguranças de Moro foram mortos na ação de seu rapto pelas 'Brigate Rosse' também foi largamente explorado pela imprensa, que não cansava de lembrar que eles tinham família, algo que, inegavelmente, comove muitas pessoas (a imensa maioria, pelo menos, independente da sua postura política e ideológica). Desta forma, os brigadistas passaram a ser vistos, pela imensa maioria dos italianos, como assassinos frios e sanguinários por muitos italianos. No filme, como já comentei, a personagem Chiara é a única que sai do apartamento, para trabalhar, e percebe tudo isso claramente. Os demais brigadistas somente tem contato com a realidade por meio da leitura dos jornais e da TV. Aliás, algo semelhante aconteceu aqui no Brasil, na época da luta armada dos grupos guerrilheiros contra a Ditadura Militar. Eles nunca conseguiram apoio popular para a sua luta, a Ditadura Militar fez uma repressão brutal e uma propaganda intensa (que contou com a participação e o apoio descarado da Grande Mídia, principalmente da Rede Globo), que os chamava de terroristas e de assassinos que matavam famílias inteiras. E isso resultou no total isolamento dos guerrilheiros em relação à população, o que os levou a ser massacrados pela Ditadura Militar. E tal como ocorreu na Itália, as torturas também foram largamente empregadas para derrotar os grupos de guerrilha brasileiros.
Enfim, o filme de Bellocchio é altamente recomendável, sendo conduzido com leveza, inteligência e sensibilidade, virtudes que somente grandes artistas possuem e o mesmo estimula as pessoas a se informarem melhor e com mais profundidade a respeito do complicado cenário político italiano da época, que foi exatamente o que eu fiz, aliás. E mesmo que você não se interesse tanto por política italiana, o filme de Bellocchio vale a pena ser assistido pois, acima de tudo, é cinema de alta qualidade, feito por um verdadeiro Mestre.
Aldo Moro é encontrado morto, após ser assassinado com 11 tiros, na Via Caetani, que se localizava exatamente no meio do caminho entre a sede do PCI e da DC. O recado das BVs era claro: A morte de Moro destruiu o 'Compromisso Histórico' que era defendido por Berlinguer e Moro.
Obs2: Nem todos concordam com essa visão a respeito do sequestro de Moro que é mostrada no filme de Bellocchio. Bernardo Bertolucci foi um dos que criticou o filme, dizendo que o mesmo passa a ideia de que apenas as Brigadas Vermelhas teriam sido as responsáveis pela morte de Moro. Bem, o filme mostra os brigadistas pedindo a Moro que escrevesse mais cartas para os governantes do país, a fim de que pudessem negociar a sua libertação, mas Moro responde que já tinha escrito cartas para todos, até para o Papa. Assim, entendo que fica clara no filme a vontade das BVs de não matar Moro, bem como das lideranças políticas direitistas italianas de se livrar deste líder que insistia em dialogar com o PCI. Assim, os conservadores italianos permitiram que ele fosse morto pela BVs. Então, eu não concordo com a crítica de Bertolucci ao filme, não. Obs3: Bruto Barreto, que fez o péssimo filme 'O Que é isso Companheiro?', falseando a história e os seu personagens na cara-dura, deveria assistir a este belo filme de Bellocchio e, desta forma, ele poderia aprender como se faz um filme político sem distorcer os fatos e sem descaracterizar os personagens, transformando-os em crianças imaturas ou em monstros irracionais e trogloditas, que foi o que ele fez com os raptores do embaixador americano, Charles B. Elbrick, que eram integrantes do MR-8 e da ALN (liderada por Carlos Marighella). Links:

Texto analisando o filme 'Bom Dia, Noite':

http://www.contracampo.com.br/70/bomdianoite.htm Enrigo Berlinguer e o Compromisso Histórico: http://www.acessa.com/gramsci/?id=681&page=visualizar A Esquerda italiana nos anos 1970: https://www.diplomatique.org.br/print.php?tipo=ac&id=2317
Aldo Moro e o Cinema Italiano: http://cinemaitalianorao.blogspot.com.br/2015/03/aldo-moro-e-o-cinema-italiano.html
A autonomia operária na Itália a partir do final dos anos 1960: https://www.nodo50.org/insurgentes/textos/autonomia/06autonomiaitalia.htm
Marco Bellocchio conversa com atriz Maya Sansa, que interpreta Chiara no seu belo filme. 
O que é Operaísmo italiano: http://uninomade.net/tenda/o-que-e-operaismo-italiano/ Carlos A. Lungarzo: Estado italiano usou da tortura contra as Brigadas Vermelhas: http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=4342 Guilherme Scalzilli: O mistério de Aldo Moro: http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br/2009/03/o-misterio-de-aldo-moro.html Ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA admite que Moro foi sacrificado: http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/1581425/US-envoy-admits-role-in-Aldo-Moro-killing.html Enrico Berlinguer e o Eurocomunismo como caminho para se construir o Socialismo Democrático: http://www.lainsignia.org/2006/diciembre/cul_060.htm (1) http://www.lainsignia.org/2007/enero/cul_002.htm (2) http://www.lainsignia.org/2007/enero/cul_007.htm (3) As contribuições teóricas do PCI: http://www.cartacapital.com.br/cultura/sugestoes-de-bravo-para-ler-10 Giulio Andreotti: http://www.publico.pt/mundo/noticia/morreu-giulio-andreotti-o-divino-1593481 PCI: Partido Comunista Italiano: https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Comunista_Italiano
A Operação Gladio e a morte de Aldo Moro: http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2011/01/operacao-gladio-porque-o-governo.html


Nas trilhas íngremes da luta armada:



Personagens do filme interpretam a canção 'Bella Ciao':


Cena do filme: Visão dos Brigadistas: A Classe Operária deve ser a classe dirigente do Estado e da Sociedade:

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