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sábado, 14 de julho de 2012
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Noites Brancas (Le Notti Bianche/1957 - Luchino Visconti)!
NOITES BRANCAS (Le Notti Bianche/1957)- por Francisco Sobreira, do blog Luzes da Cidade
"Noites Brancas", que foi exibido nos cinemas brasileiros com o título de "Um Rosto na Noite", marcou o rompimento em definitivo de Visconti com o neo-realismo.
O filme foi rodado em um teatro localizado na Cinecittá, o
que significava que o diretor infringia uma das normas do movimento, ou
seja, a preferência pela filmagem externa.
Em seguida, ele punha de
lado os problemas sociais e políticos para, em lugar destes, enveredar
pelo universo intimista de um homem e uma mulher. Visconti foi se
inspirar em Dostoiewski, no seu conto "Noites Brancas", para narrar uma
história de um triângulo amorososo entre Natalia (Maria Schell), Mario
(Marcello Mastroianni) e o anônimo forasteiro interpretado por Jean
Marais.
Como geralmente ocorre na adaptação para o cinema de obras
literárias, o cineasta (autor do roteiro, em parceria com Suso Cecchio
D'Amico) fez algumas modificações do original, entre elas a de espaço e
tempo: a história é passada numa pequena cidade da Itália, na segunda
metade dos anos 1950.
Mas essas modificações e as liberdades tomadas por
Visconti não traem o tema e o propósito do conto do escritor russo. Ao
contrário, o diretor soube preservar a natureza humana e existencial de
dois seres solitários, à procura do sonho, do ideal de um grande amor.
Mario (no conto, o seu personagem, como o do forasteiro, não tem o nome
revelado e é quem faz a narrativa) chega, perto do final, a se convencer
de que conquistou, naqueles três ou quatro encontros noturnos que
tiveram, o coração de Natalia, quando ela julga que foi enganada pelo
homem que ama, que lhe prometera voltar à cidade no prazo de um ano; no
local determinado, ao qual ela vai no dia em que se completa o prazo e
ele não aparece.
Tal como no conto, o filme prioriza a relação entre Mario e Natalia. Com uma participação relativamente curta, o forasteiro aparece quando Natalia conta como o conheceu (na condição de inquilino da sua avó) e aflorou o amor entre os dois, e no final, quando, finalmente, ele retorna como lhe prometera. E aí fica a impressão de que, só por uma questão de despeito, ou de vingança, Natalia deixa Mario com a ilusão de que o ama, quando, na verdade, lhe oferece apenas a amizade.
Mostrando a diferença entre a literatura e o cinema, o final do filme é superior ao do conto, embora os elementos que o compõem sejam os mesmos. Há um grito de extravazamento da alegria de Natalia, que, de imediato, corre para os braços do amado que avista parado sobre a ponte; há o olhar desolado de Mario ao ver a cena e o sobretudo preto salpicado de flocos de neve que lhe emprestara ("o seu vestido de noiva", ele dissera momentos antes) atirado no chão; e até as palavras, com uma ou outra alteração, que um diz ao outro: Natalia volta e pede que a perdoe, mas que sempre amara o outro, e ele, mesmo arrasado, retruca que ela é abençoada pelo minuto de felicidade que proporcionara ao seu coração solitário e acrescenta "não é pouco para a vida inteira de um homem".
Na
concepção e realização desse filme que pode ser considerado como um
divisor de águas em sua obra, Visconti pôde cercar-se de colaboradores
excepcionais, além da roteirista Suso Cechio D'Amico. O cenógrafo Mario
Garbuglia que recriou parcialmente uma Livorno que desse a impressão de
um certo irrealismo, próximo do sonho, que convinha ao perfil
psicológico e existencial daquele casal solitário.
O diretor de
fotografia Giuseppe Rotunno, que complementa bem esse clima de
irrealidade, o compositor Nino Rota, que, anos depois, se tornaria uma
presença assídua nos filmes de Fellini.
E há a atuação de Marcello
Mastroianni e Maria Schell, principalmente esta, que, em alguns
momentos, com o seu rosto alvo, a expressão suave e meiga, às vezes,
soltando uma risada de adolescente, dá um toque angelical ao seu
personagem, contrastando com a figura da prostituta - um personagem
criado pelos roteiristas e vivido por Clara Calamai, protagonista do
filme de estreia do diretor, "Ossessione" (1942), considerado o marco
inicial do neo-realismo.
Enfim, "Noites Brancas" é um dos grandes filmes de Visconti, que, não sei por que, não é valorizado como deveria. Já o vi qualificado de apenas "interessante". E no "Dicionário de Cinema - Os Cineastas", de Jean Tulard, não há sequer uma linha sobre ele.
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